Um Meeting em Alverca

No passado mês de Agosto, a comunidade de Alverca recebeu em casa a Edição Especial do Meeting de Rimini 2020 e todos os que acorreram a ver o milagre da unidade acontecer uma vez mais.

“Parece, pelo que vemos por aí nas notícias, que só as grandes notícias importam, principalmente aquelas que fazem referência à morte e à doença, como se fossem mais importantes do que a vida em si. Este ano, houve um grande surto de vírus, que contagiou todos aqueles que estiveram em contacto com ele. Não “o” vírus, aquele de que todos falam, mas um que se manifestou a nível local, sem fazer grande alarido.” Assim abre o Ricardo o seu testemunho sobre a aventura que viveu com os amigos de Alverca, este mês de agosto. “Começou com o convite da Sofia de participar na exposição do Meeting de Rimini deste ano, sobre o capítulo X d’ O Sentido Religioso e intitulada “Viver o Real”. Logo nos juntámos várias vezes para encontros e trabalho sobre o mesmo, relacionando-o com o espanto pelas (pequenas e grandes) coisas.”

Continua contando como tudo se foi desenrolando, num movimento de puro entusiasmo: “Depois, uma proposta dos nossos amigos do Meeting Rimini de seguir o evento online e a possibilidade de fazer um encontro local. Tal como no futebol, era a diferença entre ver o jogo sozinho em casa agarrado ao computador ou juntar-se no café para, em companhia, acompanhar a partida. Contagiados pelo brilho nos olhos da Ana Lúcio, quando nos desafiou a embarcar na aventura de receber o Meeting de Rimini na paróquia em Alverca, e o entusiasmo espalhou-se como um vírus pelo mundo. O primeiro salto foi o a chegada do Professor Henrique Leitão, que aceitou falar de Magalhães e da navegação marítima. Novo salto e, em Angola, o Padre Adriano e o Evando Vidigal aceitaram o convite da Rosarinho Lupi Bello de relacionar a sua experiência em tempos de pandemia com as reflexões de um tempo vertiginoso que Julián Carrón propõe no livro O Despertar do Humano. E assim, de 18 a 20 de agosto, juntamente com estas novas contribuições, foram transmitidas algumas das principais propostas da Edição Especial do Meeting de Rimini para a comunidade portuguesa que acorreu à Igreja dos Pastorinhos, em Alverca.

Desta tarefa hercúlea, diz ainda o Ricardo: “Acolher o Meeting em Alverca queria dizer mergulhar de cabeça no desconhecido, façanha tão ou mais perigosa do que dar a volta ao mundo numa nau ou escalar a segunda montanha mais alta do mundo. O cansaço, os imprevistos, as ligações que não funcionavam e o cuidado com todas as medidas de segurança puseram todos os voluntários com “febre alta”. De onde nasce a esperança, a cura? Do entusiasmo, do brilho dos olhos dos que vimos e daqueles que nos viram, da carnalidade do encontro com Cristo vivido em comunhão, sem uma ponta de teoria.

Do primeiro dia com a exposição “Estamos no topo! O cume do K2 e os rostos de um povo”, o encontro com o Professor Henrique Leitão e o Padre Marcelo Boita e a conferência de Mikel Azurmendi, intitulada “O Abraço: Rumo a uma Cultura de Encontro, ficou para a Madalena a expressão “Pontos de Encontros”: “Passa pelo que liga todas estas conferências, o que liga todos os encontros no livro, o que me liga a mim àquelas pessoas e o que me liga a mim às pessoas que partilharam o espaço comigo no auditório e mesmo via Zoom, aos anos da Maria, e mais ainda às pessoas que organizaram tudo para que esta ocasião se desse. É uma história, uma história de um povo, interceptada constantemente por estes pontos de encontro. É bom saber que há caminho, porque há encontro. E sim, também é verdade, daqui a vista é já também uma maravilha.”

A Maria conta o que foi para ela celebrar os anos neste dia de abertura do Meeting: “Alguns amigos do CLU estavam a organizar um meeting em Alverca. Ao saberem que o primeiro dia do programa coincidia com o meu dia de anos propuseram que eu fosse ao Meeting e que aí celebrássemos juntos. Disse que ia pensar, e deparei-me com a maior das minhas dificuldades, decidir. O meu plano era fazer um jantarinho em casa, mas de alguma forma estes amigos ofereciam-me mais, e por isso arrisquei e disse que sim ao convite. Foi muito mais do que eu esperei! Em contraste com os outros anos - onde, durante alguns instantes, a ideia de um dia que me celebrava e que ao mesmo tempo deveria encher os corações dos meus amigos e da minha família se tornavam em angústia - este ano dei por mim cheia de letícia. O Meeting não foi sobre mim mas foi, sem dúvida, para mim e para todos aqueles que deram o seu sim, organizadores e ouvintes.”

Da riqueza de contribuir para a realização do Meeting, diz a Beatriz, referindo a conferência de Joseph Weiler que concluiu o segundo dia: "Quando a Rita me perguntou se queria ajudar, não imaginei o que se seguia, mas a verdade é que de outra forma não teria ido, não teria visto as coisas incríveis que encontrei! Nos últimos anos com a faculdade ficou tudo tão mais difícil e pesado e, em cinco minutos da conferência com o Weiler, ele respondeu-me como se tivesse sido feito para eu estar ali, a ouvi-lo! Passaram-se anos sem que tivesse sentido uma correspondência tão grande, foi tão perfeito. Foi só por essa razão que voltei no dia seguinte e a verdade é que foram dois dias de verdadeira comoção!" Um sentimento partilhado pela Clara: "Sempre gostei da proposta do meeting e tinha o desejo de um dia poder ajudar a fazer acontecer e levá-lo a todos. Por isso fiquei muito feliz quando me falaram desta edição especial em Alverca e vi aqui a oportunidade ideal. Não pensei noutra resposta senão "sim, vou!" E agora que aqui estou, estes três dias, ainda estou mais contente por ouvir todas as coisas belas por poder estar com estes amigos que me ajudam a  ficar maravilhada e não ficar surda para o sublime!"

Uma beleza que não teria acontecido se alguns, como a Ana, não tivessem arriscado tudo numa forma diferente de usar o seu tempo livre. Sem grande entusiasmo ao princípio, mas tendo ainda assim aceitado participar na exposição “Viver o Real” e guardar os dias 18 a 23 de agosto para assistir ao Meeting, tudo mudou ao ler A voz única do ideal, de Julián Carrón, e o texto de Don Giussani sobre as férias: “Percebi que nós, jovens, temos o dom de ter tempo de férias, um tempo de verdadeira liberdade onde temos todo um mundo de possibilidades de uso do nosso tempo. Surgindo a pergunta "o que quero fazer com o meu tempo?", não encontrei grandes respostas imediatamente, exceto contentar-me com o penso rápido das séries e filmes.” A provocação a organizar o Meeting localmente surgiu e, olhando para trás, para todas as dúvidas que ameaçavam o entusiasmo de o fazer em Alverca, convertendo tudo numa impossibilidade, diz a Ana: “Nunca estive mais errada. Este é o exemplo perfeito de que deixar-se levar pelos pensamentos, e não pôr à prova na realidade, podia ter acabado na perda de uma oportunidade incrível de viver este mês. Negar a pergunta a priori é assumir que não há resposta, como dizia o padre Carrón. De facto, depois do meu "sim", muitos outros seguiram-se com uma força inimaginável. Todos os sinais apontavam para o mesmo: haverá Meeting em Alverca e será bem maior do que a minha ideia inicial.”

Também a Ana teve de atravessar todo o peso dos sacrifícios e limitações: “Mesmo diante dos desafios e dificuldades de organizar um evento e da minha falta de experiência (não tendo talento natural para liderar, dei por mim, no entanto, a ser a "maestrina" da "orquestra"), aumentava a minha confiança de que Deus iria levar a bom porto a pequena obra que as nossas mãos podiam fazer. Porque Deus capacita os fracos para o que Ele quiser. Sem dúvida que nem tudo foram rosas, mas quanto mais olhava para a proposta (que já não era só minha), mais ganhava confiança de que, se fosse da vontade de Deus, aquilo que fosse necessário apareceria eventualmente: desde voluntários, que dos quatro iniciais passaram depois a mais de treze, aos tradutores, à logística e a todo o material necessário para o evento.” A confiança converteu-se em certeza e conclui: “Cada dia do Meeting ia passando e eu só pensava que tudo o que podia correr mal não correu de facto, o que era impressionante! Tantos fatores, grandes ou pequenos, todos iam correspondendo dia após dia, para minha surpresa. Por isso, ao olhar para aquilo que aconteceu e aquilo que, de facto, éramos capazes, houve uma distância que claramente só pôde ser colmatada através de Deus. Continuo a dizer que nada faria sem todos os que se juntaram nesta aventura e é verdade. Porque se fosse apenas o "meu" Meeting, então teria sido uma tentativa vã de realizar-me sozinha. Por isso estou grata por todos os encontros e por todos os diálogos que tornaram o Meeting cada vez menos "meu" e cada vez mais de "todos", ou seja, na versão mais verdadeira e bela que poderia ser.”