Agradecer à Luz pelas pequenas luzes

Um relato de quem assistiu às Jornadas de don Giussani em Madrid...
Madalena

Depois de um encontro sobre don Giussani, e de um pequeno concerto na Universidade CEU de San Pablo, sentados à volta de uma mesa repleta de tapas num restaurante em Madrid, um grupo de mais ou menos 10 amigos portugueses e mais alguns amigos espanhóis, reunidos numa só conversa, ouvem uma das organizadoras contar divertidamente dos seus tempos passados com don Giussani. Como um de nós reparou, “estávamos em silêncio a ouvi-la falar de algo que nos correspondeu de tal forma que nos fez concentrar nisso, em vez de em conversas corriqueiras que podíamos ter com o parceiro do lado”.

Pode parecer estranho, até desnecessário, começar o relato da nossa jornada às Jornadas Giussani in medias res. Contudo, neste pequeno acontecimento, como um jantar bem passado, no meio da riqueza de um encontro tão grande, como as Jornadas, nota-se que aquilo que deu origem às Jornadas se esconde já numa forma diferente de estar.

Esta primeira edição das Jornadas consistiu numa sequência de encontros e conversas, de quinta feira a sábado, sobre don Giussani e os frutos do seu “sim”. De Portugal, foram dois carros cheios de universitários, com a Sofia. Chegámos sexta feira à tarde e partimos sábado a seguir ao último encontro.
O primeiro encontro a que assistimos foi com Carmen Giussani e Davide Rondoni sobre A palavra “poética” em don Giussani. Rondoni apontou para a importância que Giussani dava à palavra, em como no seu uso da palavra se encontrava a mesma dinâmica que a de um poeta. Porque as palavras trazem o mundo para a nossa relação, e mudam a forma de olhar para a realidade. Assim se passou para as leituras de don Giussani, e os autores que acompanhavam a sua pessoa, como Leopardi, T. S. Eliot e Charles Péguy. Notava uma de nós que ao ouvir Rondoni, se apercebeu como “Giussani desafia-nos a ler grandes autores, por estes corresponderem à grandeza da nossa vida, num gesto de estima e liberdade. Dá-nos um grande autor para que possamos crescer.” E acrescentava: “Assim também me foi feito o convite para estas jornadas, fruto de grandes amizades. Rondoni desafiou-nos a agradecermos à Luz pelas pequenas luzes, a darmos graças pelas pessoas, mas também pelos momentos das pessoas. E que agradecida estou por estas pessoas que me fazem propostas grandes!”

A seguir, houve um pequeno, grande, surpreendente concerto. Abriu com a Sonata 5 para piano de Beethoven. O seu mestre de seminário Gaetano Corti tocava-a a don Giussani todos os domingos ao fim do dia quando ele regressava ao seminário. Giussani considerava este como o mais belo gesto de amizade que viveu em toda a sua vida. Depois, juntou-se o coro para cantar uma série de músicas tradicionais russas. Os tons graves enchiam a sala com seriedade e a voz melodiosa das mulheres saía por cima com suavidade. Por fim, Manoli juntou-se para cantar algumas músicas tradicionais espanholas, para acabar em grande.

Na manhã seguinte, os encontros focaram-se mais na educação. Se os encontros do dia anterior se tinham focado na pessoa de Giussani, estes encontros falaram-nos mais evidentemente do carisma que Giussani nos deixou, da sua proposta educativa.
Começou por falar Javier Prades, sobre A vida como vocação: apontamentos para uma proposta de educação cristã. Prades lembrou que mais do que querer fazer perguntas, o Homem foi feito para responder perante a realidade, perante aquilo que a voz de um Outro propõe para e na nossa vida. Lembrou o verso da música “My Father Sings to Me”, “In the world there is someone asking me to ask Him why”, para mostrar que mesmo a natureza das nossas perguntas vem de uma resposta à realidade. Assim, Prades conclui que o adulto é chamado a viver a vida como vocação, como responsabilidade.

As Jornadas fecharam com Giancarlo Cesana sobre Educar é viver um risco. A liberdade é o dom de Deus para O reconhecermos, começou Cesana, e é também com a liberdade do outro que o educador é provocado. O educador não pode controlar a liberdade do outro; antes, deve apontar para o acontecimento, para que o sigam, tal como João Batista fez com João e André. Educar é portanto um risco, porque tudo o que o educador é verdadeiramente chamado a fazer é atirar para a realidade e confiar.

De todos os encontros, o que ficou verdadeiramente gravado na memória foi a experiência de correspondência com aquelas pessoas que encontrámos. E tudo se liga com um comentário de don Giussani a um excerto de Charles Péguy com que a Carmen Giussani abriu o seu encontro: Em como o filho não imita o pai, mas através do seu agir torna o pai presente. E, realmente, apercebemo-nos de que é possível a correspondência com pessoas tão diferentes, porque bebemos todos um pouco da mesma fonte, somos todos um pouco da mesma cepa, encontrámo-nos com um carisma: somos todos filhos de don Giussani.