Educar Hoje
No passado dia 15 de fevereiro realizou-se um encontro promovido pela CDO Educativas (Companhia das Obras Educativas) e Diesse (Didática e Inovação Escolástica) com o título “Educar Hoje”.Sob a forma de assembleia, concretizou-se assim o desejo suscitado pelo encontro, no passado dia 11 de outubro, em Bolonha, intitulado: "Ensinar hoje: Novos Contextos e Novos Desafios: diálogo com Julián Carrón" . O encontro foi promovido pela Associazione Culturale Il Rischio Educativo, Cdo Opere Educative, Diesse e DiSAL, mas tratou-se de uma proposta oferecida a todos os que se preocupam com a escola e a educação num diálogo que convidou a pensar: o que quer dizer ser professor, ser educador e ensinar?
No final do encontro, o Carrón propôs que o contexto educativo fosseum lugar de verdadeira companhia, onde se fazem propostas reais e se verifica constantemente as tentativas de cada um. Isto foi o que fascinou um grupo de professores em Lisboa, que assistiram juntos ao encontro via internet: a possibilidade de fazermos juntos, como professores e educadores, um trabalho sobre a nossa experiência que nos permita estar diante de qualquer aluno com alguma coisa verdadeira a propor-lhe.
Ao longo dos meses, individualmente e em pequenos grupos, o texto do encontro foi lido e relido, suscitando perguntas, desafios e novos ímpetos educativos. Foi nesse contexto que se convidou Almerina Bonvecchi, professora e diretora pedagógica de longa experiência, para vir a Portugal, a Lisboa, fazer uma série de pequenos encontros, envolvendo professores do Primeiro Ciclo, Catequistas e Professores de Religião, além do encontro principal, à noite, “Educar Hoje”.
Almerina Bonvecchi começou por relembrar que o problema imediatamente posto a Julián Carrón a 11 de outubro foi a pergunta de um professor que voltou à escola, depois de onze anos de ausência, e deparou-se com um mal-estar e um desânimo nos alunos como nunca vira. Com esta questão, Carrón desafiou todos os professores a um trabalho: Qual é o problema? Uma debilidade de consciência, uma ausência de energia de consciência tal como o efeito de Chernobyl (citando Luigi Giussani). Por fora a pessoa parece normal, mas por dentro está doente. Os jovens estão sem energia para enfrentar o problema que é a queda, nos últimos anos, das evidências mais elementares: eu existo, a realidade existe, eu sou um dado, a realidade é um dado. Contudo, o grande desafio ainda estava para vir: a razão deste efeito não está nos alunos, está em nós, adultos! Estamos diante dos alunos como se eles estivessem doentes, como se fossem pessoas a quem faltam coisas, pessoas que “deviam ser, mas não são”, e os queixumes que nascem aumentam ainda mais as distâncias. De que é preciso cada um de nós dar-se conta? De que eu e aquele jovem que tenho à minha frente na aula somos duas pessoas com as mesmas exigências e necessidades, ambos acordamos de manhã e queremos ser felizes. Ele tem uma exigência de verdade que o atormenta, contudo eu estou à frente dele como se ele fosse um doente. Mas não está doente! Tem é o coração cheio de detritos e sem energia para ir a lado nenhum. É preciso alguém que provoque, que venha da realidade, que se interesse por ele ao ponto de estar disponível para ser seu companheiro de caminho, suscitando a esperança que ele procura e deseja. E quando parece que o desejo dos meus alunos é pequenino, que querem menos do que eu desejo, que têm um horizonte reduzido? O problema é que foi o nosso horizonte de professores que se tornou pequeno. Para os jovens terem um desejo de grandeza precisam que os olhem com grandeza. É preciso uma educação desde pequenos, através da música, da poesia, da Beleza de um passeio ou de uma paisagem, para que conheçam uma grandeza de vida que comecem a desejar para si mesmos. Porque é que vamos para a escola todos os dias dar aulas? Há um desejo de construir o mundo, de dar o seu contributo? Para isso é preciso educar hoje, sempre, os alunos à grandeza, à ideia de que cada um é único e feito para coisas grandes, cada um recebeu uma grandeza que não depende de nada nem ninguém, já lá está. Com a educação à grandeza desaparece a redução e são os próprios alunos que começam a descobrira grandeza para que foram feitos, ganham energia de consciência e começam a mexer-se, a perguntar, a viver realmente.