Meeting Lisboa 2023. Exposição “Homens, apesar de tudo: histórias do Memorial”
Testemunho acerca da preparação da exposição Homens, apesar de tudo: histórias do Memorial, que estará em exibição no Meeting Lisboa 2023, nos dias 11 e 12 de novembroA exposição Homens, apesar de tudo surge a partir dos arquivos da associação “Memorial”. Dentro dos Gulag, pais e mães tentaram desesperadamente manter viva uma relação com os seus filhos, que parecia destinada a despedaçar-se sob o peso da propaganda e do passar dos anos. Assim, escreviam-lhes cartas e faziam-lhes pequenos objetos – bordados, desenhos e bonecas – onde emergem histórias extraordinárias de humanidade e amizade, de dor e verdade, que documentam a paixão pelo homem que se conserva nas fibras mais íntimas da pessoa, qualquer que seja a sua circunstância.
Testemunho acerca da preparação deste exposição:
“Fiz a adaptação do texto da exposição Homens, apesar de tudo: histórias do Memorial, que esteve em exibição no Meeting de Rimini, em Itália, em 2022, para a versão portuguesa.
Quando me pediram para fazer este trabalho, pensei: “Bem, vou fazer. Não é um trabalho que eu gosto de fazer, é um trabalho que não tem nada de criativo, porque é só meter um texto dentro de caixas.” Mas depois pensei: “Ok, a Aura pediu-me e vou fazer, faço com gosto, marco uns pontos no Céu e pronto, está tudo bem”.
Comecei, então, a trabalhar com o Pedro, com a Aura e com a Maná. Quando recebemos os textos, estava a ver este trabalho como um trabalho técnico. Comecei a pôr as coisas no sítio, fui à primeira linha, via se estava tudo bem, cortava sem ler, etc. Quando cheguei ao painel 7, li assim: “Costumava rir-me do amor por correspondência”. E pensei assim: “Esta é igual a mim!”. Resolvi, então, ler o que ela tinha escrito. Depois comecei a ler o painel todo e vi que o painel falava da importância das cartas e de como as pessoas faziam bolsinhas para as guardar. As cartas eram um bem muito precioso, que guardavam com a vida. Depois li também, nesse painel, alguém que atirou um maço onde tinha escrito uma mensagem para a família, quando ia num comboio. E eu pensei: “Que loucura!”.
Continuei a ler e, quando cheguei ao painel 10, li a carta que Otto tinha escrito à sua mãe. E aí pensei: “Acabou”. Parei e comecei a ler desde o primeiro painel, desde a primeira letra. Deixou de ser, assim, um trabalho técnico para passar a olhar para esta exposição como um testemunho de vida, de amor, de amor ao próximo, de luta e esperança.
Comoveu-me de tal maneira que passou a ser um trabalho por amor.”
Bárbara Gradim