Foto Unsplash/S&B Vonlanthen

“Mãe, eu sou uma criança feliz”

As dificuldades e sofrimento de uma mãe diante da deficiência do filho, até se dar conta que "ele vive cada dia porque responde a um amor."

Temos três filhos maravilhosos, o mais velho tem 11 anos e é uma criança como se costuma dizer "especial", um termo simpático, mas basicamente verdadeiro, para dizer que ele é deficiente. Apesar de fazer coisas que nenhum médico imaginava ser possível, tem muitas limitações e dificuldades, principalmente do ponto de vista cognitivo: não lê, mal escreve o seu nome e não consegue aprender nenhum número além de 1 e 2.

Há umas semanas estava a deitá-lo e ele viu o irmão a ler na cama e perguntou-me: "Mãe, porque é que eu não sei ler?". Confesso que o meu coração se despedaçou, não só porque não tinha uma resposta para ele, mas sobretudo porque, num primeiro momento, o seu desconhecimento das suas limitações quase me confortou, enquanto naquela pergunta estava toda a sua vontade de ser como os outros, como os seus irmãos. Esbocei algumas frases e depois fiquei ao lado dele para o adormecer. A certa altura, ele disse-me: «Mãe, mesmo assim, sou uma criança feliz».

Fiquei sem palavras e nos dias seguintes comecei a observá-lo melhor para perceber como é que ele podia dizer aquilo, considerando o esforço que faz todos os dias na escola, as limitações nas várias atividades que sempre tentámos que ele experimentasse e percebi que ele vive a cada momento porque responde a um amor que lhe é dirigido. Ele levanta-se de manhã porque o acordamos, esforça-se na escola porque a professora está lá, faz os trabalhos de casa porque estou ao lado dele, aprende com muita dificuldade a andar de bicicleta porque o pai não o deixa por um instante. Há alguns domingos começou a acolitar na paróquia: durante a missa olha para nós o tempo todo e os seus irmãos nunca o perdem de vista. Diz-me todas as noites: «Mãe, quero que fiques comigo para sempre!».

Eu, que nos últimos meses me tenho sentido tão dominada pela incerteza, pelo medo, tenho diante de mim uma criança que não sabe cuidar de si, mas que vive cada dia porque sabe que é amada e simplesmente responde a esse amor.

Quantas vezes vivi como uma injustiça que esta dificuldade nos tivesse acontecido, quantas vezes invejei aos meus amigos os seus filhos saudáveis (e certamente não estou orgulhosa destes pensamentos) e, em vez disso, precisamente pela contradição da doença do meu filho e das suas dificuldades, através do olhar livre e afetuoso dos seus irmãos, passa a vocação da minha vida, do meu casamento, das relações com os meus amigos.

Carta assinada