Os vizinhos no caminho para a garagem

Tristeza, confusão e medo encheram o coração do Padre John após a morte de George Floyd. Abriu-se, inesperadamente, um caminho quando atravessou para o outro lado da sua garagem.
Padre John, Sioux Falls, South Dakota

Nos dias que se seguiram à morte de George Floyd, estava cheio de tristeza e confusão. Sentia-me dominado pelo medo. Como padre, percebia a minha incapacidade de saber o que seria melhor dizer e fazer. Quanto mais pensava na tragédia, nas vicissitudes do mundo, naqueles entre os quais realizo meu ministério e no que poderia ajudá-los, mais me sentia impotente para responder.

Enquanto o medo crescia, veio-me à cabeça a resposta do Padre Carrón diante do Covid e dei-me conta de que o ponto de partida era: do que é que eu tinha medo? Ao colocar-me esta pergunta, lentamente afastei-me da pretensão pessoal de resolver os problemas profundos, históricos, da nossa sociedade. O simples facto de chegar a esta pergunta pareceu-me um caminho que levava à paz.

No primeiro domingo após aquela morte e os tumultos, tinha intenção de abordar o assunto durante a transmissão da Missa em directo no Facebook; no entanto, o Espírito Santo dirigiu-me de outra forma e isso deu-me paz. Mas depois da Missa, recebi duas notificações no Facebook de pessoas que me perguntavam por que é que não tinha dito nada. A paz desapareceu e senti-me encostado à parede.

No carro, a caminho de casa, o medo e a análise voltaram. Mas algo explodiu imediatamente quando me aproximei do caminho para a garagem e vi os meus vizinhos africanos sentados cá fora. Pareceu-me óbvio ir cumprimentá-los. Não falo frequentemente com eles. Naquele dia pensei: “Não sei bem o que dizer aos paroquianos, não sei como resolver o problema do racismo no nosso país, mas posso cumprimentar as pessoas que me estão diante”. Disse um "olá", conversei um bocadinho e depois simplesmente perguntei a Somcan, esposa e mãe, como estava a reagir. Escutei apenas e aprendi muito.

Fiquei totalmente surpreendido quando a conversa mudou para o facto de sermos cristãos. No final, foi ela quem disse: "Devemos rezar". Naquele dia havia uma marcha em Sioux Falls e ela disse que não iria, mas que rezaria. E repetiu: "Devemos rezar." Estou bastante convencido de que se referia à oração de uma forma genérica, como o dar-se conta de que precisamos da ajuda de Cristo. No entanto, não pude deixar de lhe pedir que rezasse ali, comigo. Assim, no caminho para a garagem, depois de três anos em que, apesar de sermos vizinhos, não tinha havido muito diálogo, conversámos e rezámos, para que Deus curasse as relações entre nós. Ela deu-me os nomes do marido e dos filhos e trocámos números de telefone. Não durou mais de dez minutos.

Quando atravessei o caminho que separa as nossas casas, já não tinha medo, nem estava amargurado: Deus tinha feito algo importante. Não só tinha removido a divisão no meu coração e tinha construído uma ponte de unidade entre os vizinhos, mas tinha respondido à minha pergunta sobre o que dizer aos meus paroquianos e às outras pessoas: estejam presentes nas vossas circunstâncias pessoais e respondam às pessoas que têm diante.