Um “covid” a despertar…

Nestes dias de confinamento tive oportunidade de ler atentamente o livro de Julian Carron “O despertar humano”...

Volvidos que estão 45 dias de quarentena e de isolamento social, eis que estamos a agora a regressar lentamente ao “novo normal” nas nossas vidas e durante os dias de confinamento tive oportunidade de ler atentamente o livro de J. Carron “O despertar humano”.

Como exercício engraçado de se fazer comecei por ler as perguntas “de todos” e as respetivas respostas dadas, fazendo a mim próprio o exercício de responder a algumas das perguntas para depois comparar com as respostas dadas. Consegui constatar que foram impressionantes e muito tocantes as respostas dadas por J. Carron às perguntas feitas.

Uma das perguntas/ respostas que mais me “despertou” foi a seguinte: “Mas o que significa «fazermos das “entranhas da realidade o coração da inteligência”»”?

É uma pergunta violenta, mas com muito significado e que nos deixa a pensar que as dificuldades da realidade normal diária levaram muitas vezes a aceitarmos sem questionar a aparência e a superfície das coisas, ficando a maioria das vezes satisfeitos com lugares comuns ou com a visão redutora do “buraco da fechadura da nossa medida racionalista (…) estreita, demasiado pequena”.

No entanto, J. Carron aponta a resposta certa mas trágica: apenas o impacto violento desta pandemia, o sermos “contaminados” por este vírus, é que faz com os nossos olhos se abram para a Presença, “levando-nos a reconhecer, para além de esquemas cómodos, que «há mais coisas no céu e a terra, Horácio, do que sonha a tua vã filosofia»…”

Ou seja, foi necessário o toque violento do Covid 19 nas nossas vidas para nos demonstrar que não somos “donos” da mesma e nada existe de mecânico na experiência humana, tudo aquilo que considerávamos normal deixou de o ser e isso afetou-nos até às “entranhas”, dai a necessidade de despertarmos como humanidade.

Estando ou não na primeira linha de combate ao vírus, penso que todos estão a viver tempos únicos onde sentimos aquela “vibração inefável da razão e do coração que nos torna homens pois conseguimos testemunhar os exemplos e sinais da humanidade na primeira pessoa.

Os pequenos gestos que tivemos como ligar aos que se encontram mais sozinhos ou em situação mais complicada e virtualmente lhes transmitir que não estão sós pois contam com a amizade e as nossas orações, fazem-me sempre e cada vez mais reconhecer que “Cristo é o Deus que se lembrou de mim” e de todos, mesmo que seja necessário um “covid” a despertar…

Pedro, Lisboa