Livre da oscilação das circunstâncias

A carta de Julián Carrón de 12 de março é um juízo que abre uma estrada.

Quando, no final do segundo período, tive de dar as notas aos alunos sem saber o que será do terceiro período, tornou-se-me evidente que a vida é este “vertiginoso ‘estarmos suspensos, em cada instante, deste sinal aparentemente quase volúvel, quase casual, que são as circunstâncias’.” A certa altura, perguntei-me o que me permitia estar de certa maneira diante desta vertigem de não saber como será o amanhã, a ponderar tranquila, com cuidado, as notas, a continuar a edificar, embora diversamente, o quotidiano.

E dei-me conta, mais uma vez, da estrada que fez em mim o juízo do movimento, que é uma certa maneira de o Carrón se mover, dia após dia, diante do que está a acontecer. Um juízo que, fazendo estrada em mim, abriu-me uma estrada. Salvou-me de estar à mercê destas circunstâncias, a oscilar entre a calma e despreocupação enquanto o problema está longe e o pânico quando a situação se agrava. Um juízo que me acompanha, que começo a surpreender como meu e que me permite construir em vez de estar apenas a reagir, a sofrer uma inconstância causada pelas circunstâncias.

Quanto às circunstâncias em si, têm tido, para mim, o valor de trazer ao de cima a minha necessidade. Faço escola de comunidade com os CLUs e a primeira vez em que era suposto fazermo-la por zoom acabou por nos escapar a todos. Quando, pouco depois da hora, me dei conta disso não descansei enquanto não falei com o responsável para a marcarmos de novo para outro dia da semana. Fi-lo, não porque era suposto, mas porque sentia verdadeiramente necessidade deste instrumento de juízo. Percebo que o meu maior contributo como cristã é levar a sério a minha necessidade de viver humanamente este momento.
Maria, Lisboa