Quem são aqueles no meu processo de aproximação a Cristo?
Aqueles que me ajudaram a partir os meus próprios espelhos que me impediam de estar, valorizar e dar...Queria muito começar a fazer caritativa pois percebia a importância desta vivência no processo de aproximação a Cristo que faço desde que estou no Movimento.
Não me importava muito o local ou que seria para fazer. Tinha entusiasmo para começar.
Circunstâncias várias fizeram-me optar pelo Vale de Acór, centro de recuperação de toxicodependentes e alcoólicos na margem sul do Tejo.
Levava comigo as ideias de don Giussani em ”O sentido da caritativa”: o interesse pelos outros como exigência, a importância de nos comunicarmos aos outros como um dever, e assumir a caridade para com os outros como forma de vivermos como Cristo. O outro era o nosso objetivo e a razão de ser da caritativa era a satisfação das suas necessidades.
Uns dias antes da nossa visita ao centro, tivemos um jantar que reuniu todas as pessoas que fazem caritativa no Vale de Acór e o Padre Pedro, fundador, mentor, impulsionador e alma do projeto. Nesse serão o Padre Pedro ajudou-me muito a penetrar na essência desta caritativa assente em três pilares fundamentais e que reforçavam os postulados de Giussani: na relação gratuita com o outro, no sentido de que tudo o fazemos, fazemo-lo porque é bom para o outro, porque o valoriza; no significado do amor cristão, que não é sinónimo de sentimento, de sentir, mas de estar. As pessoas que amam, estão com os outros, são a sua companhia, persistentemente, e arranjam sempre forma de estar; e, finalmente, na importância de dar, oferecer ao outro o melhor que se tem, a beleza, sem espelhos que nos deformam a consciência de nós próprios e dos outros, que nos limitam, que nos destroem porque nos focam em nós e não nos outros.
Agora só faltava ir. Só faltava ver as pessoas, chegar perto delas e ficar, valorizá-las e dar.
E de repente aquelas pessoas, com fraturas expostas, como dizia o Padre Pedro, pessoas com histórias de vida muito corrosivas e com muito sofrimento, pessoas pobres que não têm nada, foram elas que me ajudaram a partir os meus próprios espelhos que me impediam de estar, valorizar e dar.
Foram elas que me mostraram o caminho para eu fugir do egoísmo e da autocontemplação, e nessa medida poder começar a fazer o que era preciso.
Foi através da força daqueles olhares, que escancaravam pobreza, mas que pediam correspondência, que percebi bem melhor a importância do meu papel enquanto dador do que recebi de Deus, sem espelhos nem mentiras.
Quem são aqueles que numa tarde me ensinaram tanto?
Luis, Lisboa