Quando alguém nasce é para sempre.
Foi assim que o meu pai fez a 1ª Comunhão numa cama do hospital, na última vez que conseguiu engolir algo sólido.O meu pai morreu recentemente, de Leucemia. As últimas 3 semanas esteve internado no hospital, quase sempre nos cuidados intensivos.
Dez dias antes de morrer o meu pai estava a despedir-se . “ Luisinha... estou a acabar!. Olhei-o e disse: Não pai, quando alguém nasce é para sempre. Tenho a certeza que o céu existe. Eu acho que o pai deveria chamar um padre. Quer que eu lhe traga cá algum?
Há uns anos atrás, não teria sido capaz, porque estaria a confirmar-lhe que tem pouco tempo de vida e fazer isso é sempre muito duro. Mas agora, certa da vida eterna por aquilo que vivo hoje, pela companhia da igreja e concretamente do Movimento, não poderia não dizê-lo ao meu pai.
O meu pai respondeu que ia pensar. Durante três dias perguntava-lhe: “Pai já pensou?” “... Não tenho feito outra coisa. Mas ainda não decidi”. Finalmente no quarto dia, disse que queria muito que viesse um Padre.
Ao contrário de todos lá em casa, o meu pai vivia um pouco afastado da igreja, ia só à missa de vez em quando; em pequeno quando se preparava para fazer a 1ª Comunhão, tinha acontecido algo menos feliz e ele tinha desistido. Conto isto para se perceber o passo gigante de conversão que deu.
Depois do meu pai ter dito que sim, nunca parecia ser boa altura para o Padre vir. As razões que os meus irmãos e enfermeiros diziam eram várias e até bastante válidas, mas percebi que se nada fizesse era como afirmar que tudo era mais importante do que o meu pai receber os sacramentos.
Por isso não desisti e contra tudo levei na mesma o Padre Adelino.
Quando o Padre Adelino chegou, nós saímos para ele falar com o meu pai. Perguntou-lhe: "O senhor quer mesmo comungar, ou é só para fazer a sua filha feliz?" O meu pai respondeu: “Eu só quero receber Jesus.” Assim o meu pai fez a 1ª Comunhão numa cama do hospital, na última vez que conseguiu engolir algo sólido.
No dia em que o meu pai morreu, vendo-o um pouco agitado, perguntei novamente se queria que chamasse um padre. Novamente disse que sim. Era noite e os enfermeiros diziam que não horas para vir um padre, mas por fim o Padre Adelino esteve lá da meia-noite às duas da manhã. E o meu pai recebeu novamente a Santa Unção.
Todos precisamos de um lugar! Objetivamente o meu pai só recebeu a 1ª Comunhão e a Santa Unção por aquilo que eu vivo aqui. Foi esta pertença à igreja, ao movimento, que me fez não vacilar, pela fé, por este reconhecimento amoroso de uma presença excecional entre nós.
Um dos meus tios, um homem desde sempre com uma pertença forte à igreja, já ouviu falar do CL muitas vezes e desde há muitos anos, talvez apenas de uma forma superficial. Este meu tio tem a mulher e um dos filhos com um cancro grave.
No velório do meu pai, foi ter comigo por 3 vezes e perguntou: Não me queres explicar melhor o que é isso do CL? Confesso que dominada pela presença do corpo do meu pai, não dei muita importância. No dia do enterro do meu pai, mal acabou, ainda no cemitério, disse-me: Ainda não me explicaste o que é isso do CL. Mais uma vez respondi que mais tarde falaríamos do assunto, mas sem levar seriamente até ao fim a sua pergunta. No fim da missa de 7º dia, novamente a pergunta: O que é o CL?
Aqui sim, finalmente despertei: Mas o que tinha visto o meu tio, para insistentemente, nas alturas mais inapropriadas, não desistir da pergunta?
Viu a conversão do meu pai, os meus amigos, a beleza do coro aonde é evidente que resulta de como don Giussani vivia o canto, de como a igreja vive o canto, a maneira como os meus filhos estavam diante do corpo do meu pai, a homilia, em tudo isto era muito evidente uma Presença. Também o meu tio à sua maneira reconheceu com afeição uma presença excecional entre nós. Eu própria durante a missa do velório e do corpo presente só pensava: Estou tão grata de pertencer a este lugar da igreja, pela beleza à minha volta e pela evidência ali da Presença do Senhor, pela fé, por este reconhecimento amoroso de uma Presença excecional.
Luisa, Lisboa