Há duas semanas a nossa família foi à praia do Norte, na Nazaré. Não esperava nenhum imprevisto e o dia parecia totalmente controlado, de acordo com os meus planos. Passeio na praia, brincadeira com os filhos, vista admirável ainda para mais com um campeonato mundial de surf de Ondas Grandes (com o incrível Mac Namara!). A manhã passava mas a consciência de necessidade e de dependência fugia-me e mesmo estando em família não estava totalmente grato. Faltava-me o Mistério.

“Quanto mais o homem procura realizar a sua aspiração original à unidade, mais esta unidade se lhe revela impossível, não alcançável pelas suas forças: nem sequer a unidade entre homem e mulher, entre pais e filhos, lhe parece possível,(...) Como é que se pode chegar a uma experiência de unidade em que a exigência de companhia encontre verdadeira satisfação?” Pág. 56, Gerar Rasto na História do Mundo. L. Guissani.

Perto da hora do almoço ao chegar ao areal após descida por umas escadas contruídas no rochedo alguns de nós fomos atingidos inesperadamente por uma onda.

O inesperado, o imprevisto tinha-se manifestado poderosamente, com enorme impacto gerando uma pergunta para a qual não tinha justificação nem resposta.

As horas seguintes foram de cuidar uns dos outros, comprar e substituir a roupa.

Os planos e horários foram substituídos pela atenção ao outro pelo agradecimento de estarmos ali, juntos.

Nessa noite ainda não me tinha dado conta do significado do que tinha acontecido.

Na manhã seguinte a Isabel diz-me: “-Tu deste-te conta como estivemos ontem a cuidar uns dos outros, a atenção ao pormenor para que o outro se sentisse tratado, aconchegado?”

O “Tu deste-te conta” fez-me intuir o pressentimento do Verdadeiro. Não dar nada por adquirido, reconhecer como o Mistério age. “Por isso temos de estar atentos para reconhecer qual é a forma com que o Mistério age,(...). É como se tivéssemos de reconhecer constantemente que não o sabíamos a priori; os nosso esquemas são sempre desafiados pelos factos, são estes que desafiam os esquemas.” – encontro dos responsáveis diocesanos da Fraternidade com Julián Carrón e Davide Prosperi.

Isabel e Paulo