um momento das férias no Luso

Viver o Agora intensamente e sem medo

A resposta que uma amiga deu à pergunta colocada no final de ano «...onde é que vimos emergir, alguma coisa, à altura do nosso desejo, que resiste ao impacto do tempo?»

No Verão de 2018 o Vasco e a Filipa, nossos muito queridos sobrinhos, «convidaram-nos», a mim e a meu marido, a acompanhá-los às férias do CL, no Luso.
De imediato nos inscrevemos e, no dia aprazado integrámos o grupo CL, alegremente, pois iríamos beneficiar da sua companhia e do convívio com os nossos muito queridos sobrinhos-netos, os seus filhos.
Desde o primeiro momento fomos muito bem recebidos por todos e, rapidamente, começámos a fazer parte do grupo, participando em todas as actividades propostas. Os serões, sobretudo, eram aguardados com muita expectativa e nunca desiludiram, antes pelo contrário – alguns excederam mesmo essas expectativas.

Naquela altura, a minha vida espiritual atravessava mais um deserto…o que era recorrente em mim! Um deserto espinhoso, inquietante e ameaçador – tinha abandonado os sacramentos, aguardando respostas que não chegavam e arrastando-me, perigosamente, numa sequência de hesitações e de interrogações que conseguiam apenas colocar mais dúvidas e mais espinhos no meu caminho solitário…
Então, por que não aproveitar a oportunidade que se me oferecia para ter uma conversa franca com um sacerdote, neste caso o Padre Luís Mi?
Pus-lhe a questão, sublinhando que gostaria de ter uma conversa com ele e, ao de leve, as razões dessa conversa. De imediato marcou a hora e a data para o nosso encontro.

Apresentei-lhe então as minhas dúvidas e questões, que foram sendo desmontadas e explicadas com toda a facilidade. A certa altura, senti que a dita conversa se tinha tornado muito mais do que isso e pedi-lhe se poderia transformar-se numa confissão, ao que respondeu que já o tinha decidido.
Ao terminar o nosso encontro, o Padre Luís Mi perguntou-me se eu não queria aderir ao CL. Respondi-lhe que iria pensar!

A semente estava lançada e uma brecha começava a desmoronar a minha muralha defensiva!
Comecei a informar-me melhor e escolhi a Escola de Comunidade das Amoreiras por me ser a mais acessível.
Fui ao início das actividades em Fátima e, depois, à 1ª Escola de Comunidade onde me senti muito bem acolhida e…continuei!
A riqueza dos textos, a explicação às questões apresentadas, os testemunhos dos participantes, tudo se conjugou para retirar um tema forte de reflexão cada semana, o qual, aplicado e vivido no meu dia-a-dia me tornou mais rica, mais profunda, fazendo com que o meu relacionamento com os outros se tenha tornado numa vivência mais viva do que é ser-se Cristão.

Dos temas tratados ao longo deste ano, destacarei aqueles que mais me marcaram:
- A FAMILIARIDADE COM DEUS – o reconhecer que Deus está sempre connosco, encontrá-lo e pensar nele antes de decidir, a fim de decidir com Ele.
- A UNIDADE – porque somos Cristãos, todas as nossas acções o devem deixar transparecer.
- A DIMENSÃO atribuída aos nossos actos.

Estas 3 verdades que se interligam intimamente, imprimiram-se fortes no meu espírito e tenho procurado pô-las em prática no meu quotidiano! São verdades em que eu nunca tinha pensado de facto.

Então, o que nos ajudou a reconhecer a nascente última daquilo que encontrámos?
Neste ponto acrescentarei a palavra definitivamente.

Em Março último, de um dia para o outro, foi-me diagnosticado um cancro.
Pensei - «Pronto, chegou a hora! Não pensava que fosse tão cedo! Tenho 75 anos e devo dar Graças a Deus porque morro em plena posse das minhas faculdades, o que é uma sorte! Tenho que me preparar e deixar tudo preparado! Só tenho pena de não acompanhar o crescimento das crianças e de deixar o Nuno… lá em cima vou cuidar deles!»

A minha reacção à notícia foi tão serena e tranquila que só pode ter resultado do encontro com Deus que se tinha vindo a fazer devagarinho, ao longo das várias Escolas de Comunidade. Só não conseguia fazer planos, pois a análise seria soberana… não era uma conclusão agradável, mas necessária e prudente!
E ia-me preparando, ou melhor, estava convencida de que me estava preparando…
Sempre com muita Serenidade, o que era mesmo uma realidade muito real!

Quando o desejado/temido veredicto chegou, «tumor de baixo grau e não invasivo», …foi uma alegria tão inebriante e uma gratidão tão absoluta para com Deus, como não imaginava possível!!!

No ano e no mês em que completámos 50 anos de casamento Deus ofereceu-me, de novo a vida, e este presente só pode ser vivido com Ele e n'Ele.

Agradeço ao CL e à Escola de Comunidade este encontro com Deus que me permite viver com tranquilidade e alegria, transmitindo aos outros a força do sorriso e da confiança em Deus a qual nos dá a serenidade necessária para viver o Agora intensamente e sem medo, «porque aquilo que fazemos juntos (…) não é senão um dos aspectos do grande gesto amoroso com que o Senhor – ainda que não te apercebas disso- impele a tua vida para o Destino que Ele é» (L.Giussani, Dare la vita per l’opera di un Altro, Exercícios Espirituais da Fraternidade de Comunhão e Libertação, Rimini 8-10 de Maio de 1992)

Maria Vitória, Lisboa