Férias. «Eu vou onde me esperam»
As crianças, o trabalho, o dinheiro. Muitas vezes é preciso fazer encaixar as várias peças da vida. E assim Consuelo e o marido acham que é melhor deixar de lado os dias nas montanhas com os amigos de CL. Mas há mais alguém que quer dar a sua opinião ...O que é que resiste ao impacto do tempo? Muitas vezes não é fácil responder a esta pergunta. Ou melhor, em face das tarefas diárias, das preocupações, das contas para pagar, não é fácil manter a pergunta aberta, não a sufocar, porque é incómoda. Costumo escondê-la por trás dos meus esquemas e do "já conhecido" e prefiro pensar noutra coisa, algo mais "concreto". A realidade, no entanto, felizmente, não segue os meus esquemas e troca-me as voltas. Da forma e nos momentos que eu menos espero, perturba o que eu tinha dado como garantido e traz-me de volta ao que realmente me corresponde.
Alguns dias atrás, estava a falar ao telefone com a minha amiga Chiara: as crianças, o trabalho, o dinheiro. Tínhamos estado a conversar, o meu marido e eu, sobre a nossa situação económica: nada de particularmente sério ou preocupante, mas a questão era simplesmente a possibilidade de abrir mão de alguns gastos supérfluos para evitar possíveis problemas. E a primeira coisa em que pensámos foi desistir das férias com a nossa comunidade. Este ano vão ser em San Martino di Castrozza, a poucos passos da nossa casa: vale a pena gastar tanto para ir a um lugar tão próximo, que para nós não tem segredos?
Ainda não tínhamos tomado nenhuma decisão, nem falado com nenhum dos nossos filhos, mas apenas trocado impressões um com o outro. Só que o meu telefonema à Chiara, em que falámos disto, não passou despercebido à minha filha Sara. A Sara tem 16 anos e é uma miúda "especial". A sua forma de deficiência, além de limitar os movimentos, torna muito difícil a comunicação. Ela costuma usar essa dificuldade para "fingir não entender". Quando ela quer, pelo contrário, entende e faz-se entender muito bem. Enquanto conversava com a minha amiga, a Sara começou a ir e vir do seu quarto, na cadeira de rodas, e ia trazendo-me as t-shirts das férias do ano passado em Canazei. "Eu vou", eram as únicas palavras que ela repetia. Na noite seguinte, a Chiara estava a jantar em nossa casa, com o marido Matteo, e a Sara tirou-lhe o telemóvel das mãos: estava a olhar para o perfil do WhatsApp de outro amigo, que tem uma foto tirada durante os jogos das férias do ano passado, vestido com a “famosa” t-shirt. A Sara apontou para a foto: "Eu vou". E depois foi para ao pé do calendário pendurado na parede da cozinha e apontou para o mês de agosto: "Eu vou ". "Mas Sara, porque é que queres ir às férias?" "Os meus amigos estão à minha espera."
O que para nós parecia quase supérfluo, para a Sara era uma certeza absolutamente clara de bem. Ocorre-me que, se tivermos em conta tudo, ela teria todos os motivos para estar zangada com a vida, muito mais do que nós, afinal, com os nossos pequenos problemas de cada dia. E em vez disso, ela, na sua condição aparentemente desfavorável, soube reconhecer imediatamente o lugar onde está bem, o lugar onde "a esperam". Que é também o mesmo lugar onde nos esperam, ao meu marido, à minha família e a mim. Tudo o que tínhamos que fazer era segui-la. No dia seguinte, eu e o Christian inscrevemo-nos nas férias.
Consuelo, Lamon (Belluno)