Um método que me deixa diferente

A Filipa andava há já umas semanas para escrever sobre a nossa escola de comunidade... Foi no fim de semana dos exercícios que o fez...

Lia e relia os apontamentos das lições no momento de silêncio, enquanto tentava perceber a profundidade daquelas palavras, enquanto tentava “fazer minhas” aquelas palavras, lembro-me de pensar “não vejo a hora de poder ler estas lições na escola de comunidade”. Pensava que perguntas e provocações o Pedro Abreu nos faria; que juízo poderia surgir, que ajuda apareceria nas entrelinhas quando confrontando o texto com a minha experiência pessoal. É exactamente isto que a escola de comunidade é para mim... uma companhia essencial no caminho. Lembro-me exactamente quando tal começou acontecer. No “inicio dos inícios”, quando conheci o movimento e comecei a fazer escola de comunidade, ouvia muito e falava pouco. Tudo o que ouvia era importante e bom, mas não me atrevia a falar. Palavras como “ajuizar” o texto à luz da “minha experiência”/da minha vida eram um pouco distantes. Um dia, na escola de comunidade, após o silêncio habitual... grande... achei que devia dizer algo. Não tinha preparado nada, mas no meio de algumas pessoas que não eram do movimento, achei que devia dizer algo, que não podia ser do movimento e não ter nada a dizer. Peguei na maior dificuldade que tinha na altura, lembro-me que com um fornecedor e tentei ligar com o texto. Não foi um discurso planeado, estruturado e que versava de vários pontos, foi uma pergunta que vinha de dentro sobre uma coisa específica... uma tentativa de resposta mesmo. Nas semanas seguintes o mesmo... e percebi que “o método” me deixava diferente. Ao longo dos anos que desde aí passaram nunca me esqueci como esse ponto de viragem foi importante... como o arriscar sobre a minha vida, com coisas concretas, sem vergonha, é de muito mais ajuda do que só ler e interpretar os textos. Confesso que nem sempre preparo convenientemente e devidamente a escola de comunidade, esse é um passo que ainda sei que devo dar. Mas pelo menos tento sempre ter algo a dizer sobre a semana que passou e como o texto me ajuda a ajuizar sobre alguma situação que se esteja a passar. Não passar por cima ou ao lado das circunstâncias... mas por elas, dentro delas é a maior ajuda e bem que a escola de comunidade me faz. Por último valorizar o valor da companhia... não só da correção quando ajuizamos mal, mas principalmente porque às vezes é a companhia que nos faz ver o bem do que nos acontece e que nós não estamos a ver. A escola de comunidade é já uma presença tão forte que quando não consigo ir, sinto que as semanas são mais longas e mais pesadas.

Filipa, Lisboa