Estar lá

A experiência da caritativa como resposta pessoal a uma Presença à qual não posso dizer não.

Há três anos, quando comecei a fazer caritativa no Casalinho, íamos um grupo de amigos, juntos, e era fácil ir. Ao longo do ano passado, todos estes meus amigos, aos poucos, deixaram de ir, e tudo se começou a tornar mais difícil para mim. Todas as semanas me interrogava porque tinha de levantar-me tão cedo, quando já nem tinha a satisfação de passar aquela manhã com os meus amigos.

Porque havia de continuar a dizer sim a estar com outros mais velhos, que eu mal conhecia, ou com aquelas crianças, a quem eu até já tinha alguma amizade, mas que tanto podiam lá estar ou não? Foi um período bastante difícil para mim, mas fui continuando a ir.

Aos poucos, fui-me apercebendo de algo de novo: que o que se passava na casinha era algo que eu não conseguia explicar completamente. Sábado após sábado, reparava que o que acontecia ali escapava à minha capacidade de controlo, de previsão ou de desempenho. Se as crianças vinham ou não vinham, se conseguíamos estudar, ou talvez até só fazer um jogo, era algo que eu não conseguia explicar apenas pela minha capacidade ou pela capacidade dos outros que lá estavam comigo.

Ao longo do tempo, tornou-se cada vez mais claro para mim que o que acontecia ali só podia acontecer por algum mistério de uma presença que eu acho que vem de Deus. Tudo o que me era pedido era que lá estivesse, e por isso eu só podia ir! Tudo o que podia fazer para responder àquilo, tão grande e tão misterioso, que eu via à minha frente todos os sábados, era estar lá. Então percebi que eu até podia dizer não às pessoas, aos outros responsáveis ou às crianças e deixar de ir; mas àquela presença é que eu não podia dizer não. Isso é que eu não podia mesmo fazer.
Leonor, Lisboa