Os anos do Fechi, os fogos e a Caritativa

Fui aos anos do Fechi e como todos os que lá estivemos voltei contente e comovida. Só mais tarde percebi o alcance deste facto quando entre amigos falávamos dos anos do Fechi e da Caritativa do Casalinho.

Tinham passado poucos dias dos fogos de outubro e não conseguia parar de pensar nisso enquanto se estava a falar. Pensando nas vítimas dos fogos sentia um grande incómodo e uma grande inquietação. Eram aldeias pequenas, muitas pessoas de idade, lugares abandonados, floresta pouco cuidada, enfim, senti como se a parte do país que está bem (onde me incluo) se tivesse esquecido da parte que está mal. A parte onde contam os votos esqueceu-se da parte onde os votos não contam. Este desinteresse pelo outro que parece dominar tanto os nossos tempos, senti-o meu: como é fácil quando estamos bem esquecer quem está mal. Esta desumanidade é estranhamente minha. “O mal mais profundo é o introduzir-se de uma separação na relação com o outro”. Uma estranha indiferença. Estranha ao que eu sou e ao que eu quero. Por isso me inquieta a morte de tantos irmãos.

De repente voltei à conversa, onde o António contava comovido da Caritativa que faz com o Fechi no Casalinho. Então percebi o génio do método educativo de D Giussani ao propor-nos a caritativa. Vamos à caritativa para perceber que somos feitos para nos interessar pelos outros. Pode ser uma hora por mês, o que importa é que seja regular. Ouvindo o António, pensei na grandeza a que o Fechi educou tantas gerações ao levar-nos a fazer Caritativa. Educou-nos num interesse pelo outro, não filantrópico, mas um interesse pelo outro que me ajuda a descobrir o que sou. Este “pequeno” facto, o António que falava da caritativa que fazia com o Fechi, de repente encheu-me de esperança. Não estamos condenados ao desinteresse. Porque Jesus está vivo, pode educar-nos a amar. E percebi melhor a gratidão com que saí dos 60 anos de Fechi. Eu e tantos outros.

Sofia, Lisboa