Sabes o que me espanta?

Fiquei doente e o médico mandou que ficasse em casa sete dias, de repouso total.

A minha primeira reacção foi de que era impensável fazer isso, com a quantidade de coisas para fazer no trabalho. Fui logo falar com o director da minha escola, para lhe dizer o que me tinha acontecido e o que tinha dito o médico. Disse-lhe também que não queria ficar sete dias em casa, porque naquele momento tinha muito trabalho. Ele pergunta-me: ó miúda, o que é que perdes? Qual é o problema se tens muito trabalho e deves ficar em casa? A mim parece-me que deves fazer o que te disse o médico. E eu disse: está bem, vou. Estava a sair e ele voltou a chamar-me e disse: mas sabes o que me espanta? É como é que tu, depois de tudo o que passaste nos últimos dois anos, e mais ainda o que me disseste agora, consegues chegar e dizer tudo com esse sorriso na cara? Tenho a certeza que qualquer outro professor me daria a mesma notícia com se o mundo estivesse a acabar.

Senti um grande impacto, porque eu não me tinha dado conta que estava a dizer tudo com um sorriso. Naquele instante tive a consciência e a graça de uma Presença que nunca me deixa sozinha, e que tudo aquilo que faz na minha vida é para me tornar sempre mais certa que sou amada por Jesus gratuitamente, e que isso se vê mesmo quando eu não reparo.

Naqueles dias em casa, em que estava mal e tinha dores, dava-me conta que aquele momento me era dado por Ele, por aquele Tu que me ama gratuitamente, que nunca se esquece de mim, tanto que aquele mal-estar e a dor me eram dados para eu me lembrar mais da origem, ou seja Dele, e sentia-me profundamente grata por não estar esquecida, por ser amada, um nada amado. E é por esta gratidão que tantas vezes me descobri a oferecer aquilo que me era dado.

Isto é fruto de uma luta, ou seja, de uma estrada.
Pity, Lisboa