A "Páscoa" do Pedro Aguiar Pinto (PAP)
Publicamos uma carta que recebemos do nosso amigo Luis Filipe Aguiar Pinto, irmão do Pedro.Não tenho muito jeito para a escrita, mas o impulso que me motiva, venceu-me e sinto uma forte necessidade de dar testemunho do que sinto neste momento de saudade do meu amigo, irmão e pai - Pedro Aguiar Pinto, carinhosamente PAP.
Para quem não sabe, o nosso pai faleceu eu nem tinha 4 anos - o Pedro tinha quase 15 anos. Como compreendem, o Pedro sempre foi para mim o meu pai carnal que substituiu o meu pai que precocemente foi chamado ao Céu; para além disso, foi escolhido para meu padrinho de baptismo. Tendo eu necessidade de ir ao estrangeiro fazer uma cirurgia em bebé, foi o Pedro que acompanhou a nossa mãe.
Foi cedo que tirou a carta de condução para ajudar a minha mãe nos transportes; motivou todos os irmãos para uma primeira "sociedade" agropecuária de galinhas e venda dos ovos à vizinhança - a "insolvência" veio rápido, pois tanto os gestores como os trabalhadores, que eram os 9 irmãos, eramos jovens adolescentes. Tanta coisa poderia dizer da nossa vida familiar e da minha infância. Mas aqui o que importa mesmo é o Pedro.
Aos seus 17 anos, rumou a Lisboa para estudar Agronomia, namorar intensamente a Maria Leonor (Minhoca) acabando por casar em 1976. A dias do seu casamento, o Senhor chamou a Si os nossos avós maternos, o nosso avô a 16/7 e a nossa avó a 27/7, com uma diferença de 11 dias, mas isso nada impediu que esse lindo casamento se realizasse a 31/7 - e lindo e belo, porque para mim e para minha mulher foi razão para a sua escolha para padrinhos do nosso casamento em 2006.
No decurso da sua progressão académica, foi fazer Doutoramento a Davis - Califórnia, USA, onde nasceram a Inês (1981) e a Leonor (1983 - †1989), até que regressaram a Portugal. A absoluta dedicação do Pedro, da Minhoca e da Inês à Leonor, foi por mim absolutamente testemunhada, pois nessa altura iniciei a minha carreira profissional em Lisboa [no Hospital São Francisco Xavier], e com regularidade visitava-os, e ia acompanhar as crianças (Inês e Leonor) nos momentos em que o casal queria "namorar" e fazer a sua vida de casal. A chamada da Leonor para o Criador foi muito marcante para todos - tanto que a maior aproximação do casal à Igreja Católica deu-se nesta altura.
Dois anos mais tarde, nasceu a Constança (1991 - †2003), também com doença e deficiência trabalhosas, mas o empenho e amor ao novo membro da família era duma beleza "invejável". Nada nem ninguém podia sequer impedir que a Constança os acompanhasse; só mesmo a impossibilidade por razões de saúde da Constança em acompanhar o casal, impedia a sua presença nos múltiplos convites que recebiam - a Constança era elemento fundamental da família. Em 2003, a Constança partiu para o Céu; foi aí que a minha namorada conheceu o casal que mais tarde aprendeu a admirar e estimar, por todo o Amor dispensado para com a sua filha "especial". Acreditem que as minhas orações ficaram mais ricas, pois o "exército" de anjos a quem pedir intercessão já era vasto e de grande qualidade (pai, avós, sobrinhas).
Em 2006, foi o meu casamento na Igreja dos Pastorinhos de Alverca, e como já disse, nem se discutia que o casal Minhoca e Pedro fosse o exemplo a seguir - e daí o convite imediatamente aceite de serem meus padrinhos. Quis as circunstâncias da vida, que o nosso casamento fosse embelezado pela partida para junto do Senhor, da minha sogra, no exato dia da cerimónia. Mais uma vez, estou-lhes (casal Minhoca/Pedro) muito grato por todo o apoio e ajuda nesse momento de "felicidade estranha".
Acho que tudo isto, marca indelévelmente a minha reaproximação à Igreja pela mão do Pedro e pleno acompanhamento dos gestos de Comunhão e Libertação. Em 2008, eu e a Alexandra recebemos o Sacramento da Confirmação pela mão do então Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, sendo meu padrinho, o Pedro e a Minhoca, madrinha da Alexandra.
Desde esse ano e até à data, sempre acompanhei as peregrinações tão belas que o grupo liderado pelo Pedro organizava desde há 20 anos.
Lembro de ter no início uma conversa com o meu irmão, dizendo que não sabia se poderia acompanhá-lo em virtude da organização das férias que o trabalho num hospital me implicaria. Resposta pronta do Pedro: "É simples, vimos sempre de 8 a 13 de Outubro. No início do ano marcas esses dias, e está resolvido". Nos últimos 8 anos, só não lhe fiz companhia nestas caminhadas para Nossa Senhora, 2 vezes: em 2012, porque foi o ano em que recebi as minhas princesas (2 filhas gémeas que adotamos); e em 2014, por afazeres profissionais de apresentação de trabalhos em congresso em Milão - Itália.
Ao longo desses anos fui sendo um mero peregrino, caminhante para Nossa Senhora; a seguir passei para a ajuda dos peregrinos na sua caminhada, apoio automóvel e entrega de águas e fruta até que este ano fui surpreendido pelo "Senhor Pedro" (como muitos peregrinos o tratavam) entregando-me a responsabilidade de presidir um grupo de Escola de Comunidade. No meu nada, o Pedro pede, e eu aceitei (com as pernas tremelicantes) mas cheio d'Ele.
Este ano fizemos uma excelente peregrinação. Éramos 60 peregrinos, dos mais variados estratos sociais e relações com a Igreja - destacando que tínhamos entre nós uma senhora Alemã (Memores Domini) e um Português imigrante nos EUA. Não era a primeira vez que nos acompanhavam na caminhada pessoas oriundas de outros países como do Reino Unido, da Holanda, da Eslováquia, da Serra Leoa e da Malásia.
Podemos ver que o interesse ultrapassou fronteiras e oceanos.
Os serões temáticos eram sempre muito interessantes: este ano, um amigo veio ter connosco para nos falar do Centenário da Aparição do Anjo de Portugal aos Pastorinhos em 13 de Outubro de 1916 - como que preparando a Aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos em Maio de 1917, junto da Azinheira. Falou-se tanto de Céu, que a noite terminou com o Pedro a dizer: "A peregrinação tem muitos caminhos, mas o verdadeiro caminho da peregrinação é aquele que nos leva ao Céu"...
Na manhã seguinte, já a meio da peregrinação (Alcanhões), as Laudes do início do dia ficaram mais pobres; ninguém ouviu o apito do Pedro para o arranque da caminhada, ninguém viu a adorável imagem do Pedro - tinha sido chamado por Nossa Senhora para junto de Si.
Neste momento fala-vos o meu humilde coração... Toda a situação porque passámos nos dias de espera até às suas exéquias e enterro, fizeram-me experimentar que "O Verbo Divino se fez carne". Senti-me como Maria Madalena - fui ao túmulo [laudes matinais] e não vi as vestes brancas caídas no chão [a sua presença alegre e responsável por aquele rebanho de peregrinos]. O meu sonho era interminável porque nunca mais vi a cara do meu amado irmão. Foram quase três dias [Tríduo Pascal] de espera desesperante para resolução de todos os assuntos relacionados com o velório do seu féretro, exéquias e enterro do seu corpo, junto das suas amadas filhas, no cemitério de Ponte de Sor. Só mesmo no velório e missa de corpo presente, vendo o seu corpo e a sua adorável expressão facial, me dei conta da despedida final, e da certeza da sua ressurreição. Ganhei mais um anjo no Céu, o exército de orantes por todos nós aumentou.
Todos nós, sua mãe, seus irmãos, sua mulher, sua filha e genro, seus netos, amigos do CL, amigos e simpatizantes do seu "Povo" temos bem consciência da obra e da evangelização por ele operada.
Luis, Porto