ARRISCAR SER PROFESSOR HOJE

Neste momento estou a acabar a tese de mestrado em ensino de História e Geografia e tenciono ser professor.

Estou há dois anos a estagiar no Colégio de São Tomás de Aquino, em Lisboa.
Há um mês atrás fui falar com a diretora da minha antiga escola, uma escola pública de Lisboa chamada Escola Secundária Rainha Dona Amélia. Foi aqui que encontrei o CL pela amizade que foi crescendo com o Professor de Religião, que era do movimento. Estive nesta escola 7 anos e sempre houve uma grande presença do CL, quase que parecia o Berchet. No entanto, a diretora sempre foi um bocado contra a nossa presença: por exemplo, proibia-nos de rezar ou não nos deixava fazer algumas iniciativas que fossem “mais católicas” do que era suposto.. A verdade é que, tirando isso, a diretora era nossa amiga.
Portanto, achei razoável ir falar com ela neste momento decisivo da minha vida. Afinal de contas quero ser professor e ela foi e é a diretora da escola onde estudei sete anos e cresci como pessoa. Poderia aprender com a sua experiência. Eu apenas contei o meu percurso e por que razão achava que valia a pena ser professor hoje. Ela, para minha surpresa, ficou comovida com o meu entusiasmo e com a esperança com que encarava o meu futuro. Ficou tão impressionada com a nossa conversa que me pediu para a ajudar, para trabalharmos juntos, para descobrirmos uma maneira de mostrar aos professores da escola, que estão cansados e fartos de ensinar, que ainda vale a pena serem professores! No final ainda me disse que agora percebia melhor o valor da minha amizade com aquele professor de Religião contra o qual tantas vezes esteve.
Eu achei que aquele pedido de ajuda da diretora não ia dar frutos no futuro, mas a verdade é que na semana a seguir ela ligou-me e voltou a dizer que tinha gostado muito da nossa conversa e que devíamos fazer alguma coisa. E eu pensei como era possível uma simples conversa estar a mudar tanta coisa! Decidimos fazer uma conferência para todos os professores da escola e também para outros professores e diretores de escolas de Lisboa. Depois convidou-me para ser um dos oradores, queria simplesmente que eu falasse da minha experiência a todos, assim como lhe tinha falado. E eu aceitei ir lá falar à minha antiga escola para todos os meus antigos professores! Eu?! Como seria possível ser eu a falar aos professores? Que teria eu de especial a ensinar àqueles professores com muito mais experiência que eu?
Não preparei muito a minha apresentação porque apenas ia falar da minha vida. E foi assim que aconteceu. Perante um público cheio de professores e diretores de escolas, alguns antigos professores meus, apenas contei a minha vida e como tinha decidido ser professor. Foram 17 minutos em que expliquei porque é que, embora parecesse irrazoável ser professor no mundo de hoje, valia a pena seguir esta vocação.
Contei-lhes coisas simples como o que era a vocação, tal e qual como D. Giussani a descreve, contei-lhes como aquele professor de Religião tinha sido importante na minha vida, pela maneira como olhava para os seus alunos. Contei-lhes como tinha percebido nas circunstâncias da vida e através de pessoas concretas que deveria ser professor. Contei-lhes a minha vida dos últimos anos e o meu estágio no Colégio de São Tomás. Falei de algumas experiências do meu estágio que me tinham ajudado a ser melhor professor. Como uma vez em que olhei para o pior aluno da turma e lhe perguntei se ele queria ajuda, ao que ele me respondeu: “ O professor é o primeiro que, em vez de me castigar, me pergunta se eu quero ajuda!”. A verdade é que o olhar que tive para com este aluno mudou a sua forma de estar na aula. A partir daquele momento ele começou a tirar apontamentos do que eu dizia e era o primeiro a querer responder às perguntas que eu colocava. Ele tinha mudado, estava mais contente!
Contei estas e outras histórias e a verdade é que para mim pareciam histórias normais, porque fazem parte do meu dia-a-dia. Mas no final a reação dos professores foi incrivelmente surpreendente para mim! Eu achei que tinha dito coisas normais mas quando olhei para a cara das pessoas que me estavam a ouvir vi que alguns choravam e outros estavam num silêncio assustador. E eu pensei: mas então o que é que eu disse assim de tão extraordinário? No fim muitos professores me foram agradecer pelo testemunho que tinha dado, mas vinham-me agradecer mesmo sinceramente! Uma da minhas antigas professoras veio falar comigo a chorar e disse: “ António aquela coisa do olhar que tu falaste é mesmo importante, o olhar para os alunos como eles são, como pessoas iguais a nós e que têm um desejo infinito, esse olhar, António, é o que pode mudar tudo! Tenho a certeza que vais ser um excelente professor e Deus queira que apanhes os meus netos!” Aqui comecei a perceber que esta conferência tinha sido uma coisa grandiosa. Aquela professora, que era a professora mais exigente que eu tinha tido, a dizer-me uma coisa destas!? Parecia Giussani a falar e, no entanto, nem sabia o que era o CL, só tinha ouvido a minha história!
Também a diretora me agradeceu muito por tudo aquilo que eu disse e mandou-me uma mensagem para o telemóvel que dizia: “Obrigada, António, por seres tu próprio, por teres sido como sempre foste. Um grande beijinho e a minha amizade.” Fiquei impressionado com esta mensagem. A minha antiga diretora, que é ateia, a dizer-me uma coisa destas! Senti-me uma mosca no Universo, parecia que de repente uma coisa tão banal como a minha vida podia ter este impacto nos outros!
Uns dias depois dei boleia a uma italiana que vive na Grécia, a Rosária, à qual contei esta história, e no fim disse-lhe: “Isto tudo não fui eu, foi Outro! Só assim seria possível, até porque eu não planeei nada!” E ela logo me corrigiu: “ Não, António! Eu também tinha dito isso ao Carrón e não é verdade! Eras tu, eras tu mesmo que estavas a falar àqueles professores e, por teres sido tão tu, é que eles ficaram tão comovidos com o que tu disseste!” Mas percebi que só era eu mesmo porque estou numa companhia que se chama Igreja, CL e Jesus, que me faz ser mais eu próprio, que me torna mais livre e capaz de arriscar ser professor quando todo o mundo diz que isso é uma loucura.
António, Lisboa