Por que razão vale a pena dedicar-me ao Banco Farmacêutico?

Os dois últimos anos no Banco Farmacêutico não foram fáceis para mim...

Paralelamente ao crescimento do Banco Farmacêutico (com mais farmácias, mais voluntários, mais instituições e mais medicamentos recolhidos) e, naturalmente, mais trabalho para fazer, crescia também em mim uma insatisfação interior ao ponto de considerar desistir. Muitas vezes, a quantidade de tarefas para fazer e a menor disponibilidade da minha parte (a família que foi crescendo, a necessidade de estar mais tempo com a mulher e os filhos, o trabalho que também exigia mais de mim) faziam com que esperasse dos outros uma maior dedicação ao Banco Farmacêutico que eu não podia dar. Mas isso não acontecia como eu desejava. Com o tempo, as dificuldades fizeram crescer em mim, para além da insatisfação, uma certa solidão. Isto é tanto mais penoso de viver quanto mais temos a certeza de que o Banco Farmacêutico é, ou pelo menos deveria ser, um bem: um bem para quem recebe os medicamentos, um bem para mim e para todos os que fazem o Banco e um bem para sociedade.
No entanto, no final da última Jornada de Recolha de Medicamentos, resolvi responder seriamente à pergunta que se me impunha: Por que razão vale a pena dedicar-me ao Banco Farmacêutico? E recordando-me dos tempos iniciais do Banco em Portugal, dei-me conta, até com alguma surpresa, que o Banco aconteceu, num primeiro momento, por um encontro e por uma adesão pessoal da minha parte. Foi o meu encontro com a Eleonora e o Lele no Meeting de Rimini de 2006 e depois a minha adesão pessoal com todo o meu empenho e tempo dedicado a esta obra que a fez nascer.
Na mesma altura em que fazia estas reflexões, o Papa Francisco e o padre Carrón apelavam-nos a procurar o essencial para viver. O cântico Razón de Vivir aparecia-me frequentemente como paradigma daquilo que estava e desejava viver.
Aproveitei a ocasião da vinda do Marco e do Franco a Portugal para lhes falar das dificuldades que sentia. Para minha surpresa recebi da parte deles um olhar profundamente humano para comigo e para com aquilo que estava a viver. Não importava o sucesso do BF Portugal, interessava era cuidar da minha pessoa procurando na experiência do Banco uma resposta para a vida toda.
A partir daquele momento pareceu-me reviver de novo o início: acontecia um novo encontro que me exigia novamente uma adesão pessoal. É impressionante tudo o que veio depois. Nasceu um novo gosto por viver tudo o que o Banco tem para me oferecer. As dificuldades de repente tornaram-se ocasião para recordar as razões do meu empenho e para mais facilmente pedir o apoio dos amigos.
Hoje, dou-me conta de que algumas tarefas vou ter de as resolver sozinho. No entanto, espero não estar verdadeiramente só, mas na companhia d'Aquele que é a razão do nosso viver.

Luís Mendonça
Presidente do Banco Farmacêutico