TESTEMUNHOS

Se não volto para aqui, aonde irei?

Caro padre Julián, cheguei aos Exercícios do CLU sem perguntas, tinha o coração endurecido e resistente, tudo me chateava, desde eu próprio à companhia e aos gestos (silêncio). Estava trancado no bunker dos meus pensamentos e convicções. Depois o padre Pino disse-nos para rezar para que, fosse qual fosse a nossa posição, pudesse reacontecer o que sucedeu no primeiro instante, no primeiro encontro. Assim, perguntei-me: há três anos quando, tendo encontrado o movimento há dois meses e não fazia ideia do que eram os Exercícios, o que é que aconteceu? O que é que me tinha impressionado? Um psicólogo, um filósofo, um guru da vida? Eu agora, tal como sou, do que é que preciso verdadeiramente? Duma boa receita ou dum pai? De entender ou de ser amado? A partir daí mudou tudo. Era tudo novo e tornei a espantar-me com tudo. Cinquenta mil jovens em silêncio às 8 da manhã! Onde é que se vê? Eu que até há três anos a essa hora estava a chegar a casa desfeito pelo caos da discoteca, do álcool e da droga. Miúdos do serviço de ordem que estavam ao frio desde as 7 da manhã por mim. As cadeiras, o salão, os cantos perfeitamente preparados. Tu, que nunca te fartas de esperar-me, de amar-me e recuperar-me. Tudo gritava o facto de que sou querido e amado. Tal como Pedro diante de Jesus, de novo respondi: «Senhor, eu não sei porquê, não sei nada, as palavras fogem-me e mais uma vez não percebi o método, mas amo-Te e se eu não volto para aqui, aonde irei?».
Luca, Milão


Aquilo que faz o coração sorrir

Caro padre Julián, não sei descrever exactamente o que sucedeu nos Exercícios, mas para mim é claro que esta é a companhia para a minha vida. Mas ver que há outros na mesma estrada que eu não basta para não me sentir sozinha. Tendo começado a universidade e conhecendo poucas pessoas, há meses que tenho impresso o pedido de poder ter amizades verdadeiras também ali. Apercebi-me que estou rodeada de gente que estimo e sigo, mas com as quais não posso dizer que tenha aquela liberdade que tenho com outros amigos. Por este motivo, é como se houvesse sempre um véu de tristeza, que não faltou em Rimini: também lá, em última análise, me sentia só. Também lá faltava qualquer coisa. E impressionou-me que tanto tu como o Nick, no seu testemunho, tenham falado tanto dos amigos verdadeiros, dos companheiros de destino. Era para mim! Fizemos as Tendas de Natal no Politécnico e fez-me impressão notar uma vez mais que estou inserida numa coisa maior do que eu. De início, quando nos perguntavam a disponibilidade para as várias tarefas, eu nunca dizia nada. Depois, um dia, uma rapariga do segundo ano pediu-me para a ajudar na distribuição dos bolinhos. Como gosto dela, disse que sim, e aos poucos fui-me envolvendo cada vez mais. Bem, eu também tinha a minha tarefa. Mais nada. Mas poucos dias depois desafiou-me a escrever aos meus professores e a levar-lhes um bolinho explicando o que é a Avsi e pedindo um donativo. Além do facto de ser sempre ela a pedir-me, percebo que pode ser realmente uma oportunidade no relacionamento com os professores e aceito. Depois dou por mim também a distribuir panfletos aos poucos colegas com quem tenho um mínimo de relação, à hora de almoço a fazer sanduíches e, às cinco, a apanhar os últimos papéis da praça. Simplesmente segui aquilo que «faz o meu coração sorrir» como diria a minha mãe.
Carta assinada


Uma vontade louca de viver

Caro padre Julián, eu tinha chegado aos Exercícios com a sensação de que ia ao encontro de qualquer coisa decisiva para a minha vida e esta certeza foi reconfirmada. Daqui a duas semanas acabo o curso e nos últimos meses cada vez me dou mais conta da urgência que tenho de encontrar algo na minha vida que eu possa seguir, algo que tem a pretensão de responder a toda a profundidade e mistério que sou eu. A companhia de Giussani, através do livro de Savorana e do Sentido Religioso, e a tua durante os meses em que estive sozinho no estrangeiro, ajudaram-me a olhar para a minha humanidade, completamente ferida e confusa por estes dois últimos anos. Pouco a pouco vou descobrindo que a vida é minha, sendo que neste “minha ” está o afecto que está a nascer pela minha humanidade e as minhas necessidades, que eu antes odiava porque as achava insuportáveis, e parecia-me que não estava a perceber nada. Aos poucos está a ser cada vez mais evidente que esta minha humanidade, ao contrário de ser um peso, é o único instrumento que tenho para me conhecer. Descobrir quem eu sou fez cair muitas imagens que eu fazia de mim mesmo e, para ser sincero, mesmo se as coisas não estão a evoluir como eu gostaria, ou se penso no meu futuro pós-licenciatura completamente incerto, está a ser bom viver. Nestes Exercícios vivi muitos momentos de serenidade, como já não me acontecia há tempo, mas serenidade verdadeira. A pergunta está a tornar-se sempre mais companhia: sobre as amizades, sobre a minha vocação, sobre o trabalho. Mas se dantes tudo isto me assustava, agora estou curioso e tornei a ter uma vontade louca de viver para descobrir o que Ele me está a preparar e o que já preparou mim.
Giovanni