PERDI O EMPREGO, MAS DESCOBRI O QUE DÁ ESPERANÇA

Trabalhei durante vinte e três anos em empresas multinacionais. Depois, há dois anos, fiquei sem trabalho e o mundo para mim mudou.

Estava habituado a comer nos melhores restaurantes, a dormir nos melhores hotéis, tinha um grande carro desportivo, lindo. O juízo que fazia de mim era ditado única e exclusivamente pela minha capacidade de atingir os meus objectivos de facturação. Já não andava de transportes públicos mas apenas no meu carrão ou então de táxi. Que triste me tinha tornado! Tinha esquecido quanto gostava de tomar a Linha do Norte, porque ali encontrava todos os amigos com os quais seguia depois para a Universidade.
Até quando conhecia uma pessoa nova, a primeira coisa que instintivamente me ocorria era tentar perceber quanto ganhava. Quando fiquei sem trabalho entrei em crise. Sentia-me completamente incapaz de fazer fosse o que fosse, inquietava-me só de ir ao correio pagar uma factura. Entrei em depressão, tive de tomar medicamentos, pensava que já não era apto e capaz de criar os meus três filhos, o facto de não ter trabalho tinha-me tirado praticamente toda e qualquer confiança em mim próprio. Sem trabalho, também muitas pessoas desapareceram. Entrei em contacto com o Alberto, da Rete Manager, que me apresentou o Giovanni e a seguir o Massimo. Eu tinha batido no fundo, ou quase, e estes amigos deram-me a maior ajuda que se pode receber: telefonavam-me a perguntar «Como estás?», faziam-me companhia. Recordo quando o Massimo me convidou para uma pizza. Para mim naquela fase foi mais importante esta simples companhia do que oferecerem-me trabalho. O período que vivi ajudou-me a rever a bagagem de amizades. Em todo o caso tive sorte, tive muitos a ajudarem-me, como o Nicola. Certo dia disse-lhe: perdi um emprego fantástico! Ele respondeu-me com muita calma: eu perdi um filho.
Mas eu nesse momento estava de tal maneira centrado no emprego que não conseguia pensar em mais nada. Devo parece doido, mas eu quase que agradeço aquilo por que passei. Apesar de todas as benesses económicas que tinha, no último ano antes de ficar sem trabalho, de manhã pensava para comigo: que seca!
Eu tinha-me tornado totalmente árido. Agora tenho um emprego onde ganho menos de um terço que antes, mas estou contente. Voltei a dar o justo valor ao dinheiro, voltei a apreciar as coisas simples, que são realmente as melhores. Não sei se vai continuar a ser assim, porque tenho um contrato a prazo; quero saborear todo este tempo e depois logo se vê.
Voltei a apreciar verdadeiramente a esperança.
Angelo, Seregno (Milão)