Klimt, "O abraço"

ANITA (NESTE CASO, ZÉZITA) FOI À TELEVISÃO!

Quando pensei fazer este testemunho para partilhar com os meus amigos, ocorreu-me que podia parecer um gesto de vaidade e pretensão da minha parte. Parece que és muito importante só porque foste ao prós e contras...

Na verdade o título surgiu para desmistificar esta ideia!
Verdade, verdadinha? Quem havia de dizer em 2003, quando pela primeira vez ouvi falar da Teologia do Corpo de João Paulo II, que 11 anos depois estaria esse assunto a ser falado na RTP, num programa com bastante audiência e hostil! Sim, não era o canal da Igreja, nem o programa que o mundo consente ter lá num cantinho dos horários obscuros, para falar da espiritualidade e da fé dos homens, como algo de bem separado do resto da vida.
Quem diria que eu iria falar, não da fé dos homens, mas da fé de Deus nos homens... porque é da bondade da criação que revela a bondade do Criador que estamos a falar! Não nos enganemos com teorias e ideologias, combates entre opiniões sobre as leis... nada disso é o tema. A questão é que nós não temos facilidade em deixar que as nossas imperfeições e incoerências sejam o veiculo da transmissão da perfeição e santidade de Deus. Como dizia o Carrón, não queremos deixar que Jesus nos lave os pés porque ainda não somos suficientemente perfeitos... Ou como dizia alguém na sua Escola de Comunidade de 30 de Abril de 2014, se o essencial for o meu sucesso, resta-me o desespero e a angústia. E o medo... o medo que alguém descubra que afinal eu não sou perfeita, tenho telhados de vidro, não posso atirar pedras, etc...
Confesso que nestas coisas da imagem, tenho uma vantagem: é que o facto de a minha vaidade me impedir de gostar de me ver na televisão, por isso nunca poderia ter qualquer pretensão de fazer “boa figura”... é sempre má! Isso libertou-me um pouco. Mas havia outros riscos...
Posso dizer que naquela noite, o risco era o essencial ser a vitória numa batalha de argumentos. Porque é que isso não aconteceu? Podia ter feito um exercício sobre-humano de auto dominio, ou podia também ter optado por uma atitude desinteressada para que nada me atingisse ou me fizesse sofrer... A dor é um risco porque provoca uma reacção...
Então o que me salva? Nesse dia aconteceu o que acontece sempre: o Senhor fala-me através das coisas banais do meu dia e mostra-me o seu amor com a oração dos meus amigos. Assim, ao longo do dia fui recebendo conselhos de todos os que estavam a rezar por este assunto e à tarde no grupo de estudo da Teologia do Corpo apareceu-nos este trecho das catequeses: “O discernimento do bem e do mal inscrito nas consciências humanas pode mostrar-se mais profundo e mais correcto do que o conteúdo de uma norma legal.” (TdC, Catequese 35)
Que loucura! Que liberdade! Que confiança! Que olhos são estes que veêm com tanta clareza a bondade de Deus nas criaturas! Lembrei-me que também este é o olhar de don Guissani. O olhar de quem não tem medo do risco, porque está salvo. A batalha está ganha... eu só tenho de o anunciar!
Com sempre acontece com Deus, tive uma nova “primeira vez”, descobri mesmo o que era realmente a liberdade de um santo. A ausência de medo porque confia totalmente em Deus e na bondade da sua criação. Com este olhar, eu fui salva e experimentei a liberdade que me dá o facto de estar ligada a Outro, o facto de aceitar confiar nEle. O essencial não é o meu sucesso. O essencial é Ele e a nossa história, que é a história de todos nós: uma história de amor que não podemos calar.
Fui abraçada, por esse amor, na minha imperfeição e com esse abraço percebi que era mais importante abraçar outros do que argumentar sobre ideias. No meu coração só estava um desejo: anunciar e um sentimento: a gratidão. Este foi o milagre. Agora continua o caminho com a, cada vez maior, consciência da necessidade de companhia.
Maria José, Lisboa