ESPANTO, ALEGRIA E GRATIDÃO

Uma reflexão sobre o que temos estado a ler e estudar do Cap. 8 do livro “Na Origem da Pretensão Cristã”.

Neste capítulo, Giussani tocou-me especialmente ao explicar-nos como Jesus nos ama, a enorme dignidade que atribui ao Homem, o grande valor e a “estatura” que nos confere. Nós, que só existimos por vontade de um Outro, antes de nascer não existíamos (embora os salmos afirmem que desde toda a eternidade Deus me conheceu…), somos totalmente dependentes. Dependentes de um Deus que nos ama e que tem por cada um de nós, por mim, um Amor, uma consideração, uma admiração, um cuidado que está fora de tudo o que possamos imaginar! E, no entanto, eu acredito nesta causa de Espanto e isso faz nascer em mim um sentimento de gratidão e de Alegria, que nada me pode tirar. Eu sou uma Pessoa que Deus ama e admira e acha muito digna. Seja o que for que eu faça na vida – pouco ou muito. Neste momento, profissionalmente, sou quase nada – deixei o trabalho que fazia a “full time” como uma das directoras e fundadoras da Ajuda de Berço, onde trabalhei 9 anos, agora apenas sou directora e ajudo no que posso, porque me dediquei sobretudo a ajudar a minha família – os meus netos (10) e assim também os meus filhos. Digamos que, socialmente, é um trabalho muito escondido, mas que faço com muito amor. Pensava que este era um trabalho “menor”, a comparar com tantos outros. Depois de ler esta parte do livro de Giussani (e tantas outras coisas que ele escreveu), mas particularmente este (por isso percebo que Carrón diga que é “decisivo”) abriram-se-me os olhos e percebi quão digna sou aos olhos de Deus, não por meu valor, mas porque Deus me vê assim. E se Deus me (nos) vê assim…quem sou eu para julgar o contrário?
E vê-me assim a mim e a todas as pessoas – portanto todas as pessoas passam a ser vistas por mim com os olhos com que Deus as vê, mesmo aquelas de quem possa discordar, mesmo aquelas de quem não goste muito, mesmo as que me irritam. O que é extraordinário é que Deus confere a todas a mesma “estatura” e dignidade e Amor. Então eu tentarei fazer o mesmo, é o único caminho. E isto muda toda a vida da pessoa. Muda a minha vida toda, todos os problemas passam a ser vistos tendo esta realidade em conta. Que privilégio inacreditável que é ser dependente de um Deus assim! Pergunto-me, quase estupefacta, como se pode não acreditar e amar um Deus assim?
E não basta. É que este Deus que me criou e de quem eu dependo, portanto, totalmente, (Jesus falou dos passarinhos “nem um só deles cairá sem que eu o queira…vós valeis muito mais que os passarinhos”, “não temais os que podem matar o corpo e não podem matar a alma…”, “todos os cabelos da vossa cabeça estão contados”, …) é o mesmo Deus que me faz ser inteiramente Livre, porque, acreditando no que me diz, eu deixo de ser escrava do meu livre pensamento, das minhas emoções, das minhas vontades tantas vezes desastradas. Ou seja, dependo e sou livre, ao mesmo tempo. É um verdadeiro Espanto, Alegria, Gratidão. E muda a minha vida de facto.
Madalena, Lisboa