Gaetano Previati, "Via al Calvario", 1904

A MINHA RESPOSTA À PERGUNTA «QUEM É JESUS?»

Não te reocupes, nós rezamos por ti e fica segura de que Jesus estará perto de ti e saberá assistir-te e curar-te

Caro Julián, «a primeira vez que morri» foi em 1998 quando - pouco antes do nascimento - foi diagnosticada à minha filha uma malformação na espinha dorsal, com uma forte possibilidade de aborto. ao longo destes anos (agora a minha filha tem 15 anos), morri outras vezes; a última, foi na sexta-feira 24 de Janeiro, quando a minha filha entrou no hospital para a enésima operação, programada, sim, mas estranhamente longa. Acabou por correr tudo bem, à parte algumas complicações. Este facto fez viver em mim duas consequências: a primeira, foi o grande testemunho que os jovens dos liceus me deram no período do internamento, antes e depois da intervenção. A frescura do encontro com Cristo sem preconceitos levou a um sem fim de mensagens e encontros com a minha filha. Cito apenas uma das que ela me leu: «Não te reocupes, nós rezamos por ti e fica segura de que Jesus estará perto de ti e saberá assistir-te e curar-te». A segunda consequência tem a ver comigo, e foi a enorme dificuldade com que enfrentei tudo o que estava a acontecer; não tanto e não só a dificuldade de um pai que vê a sua filha a sofrer mais uma vez, mas alguma coisa que ia mais além e que entrava no coração. Tanto que, pela primeira vez de forma explícita, pedi aos meus amigos para rezarem não só pela minha filha, mas também por mim. Será possível, pergunto-me, que entre todas as pessoas que têm os mesmos problemas da minha filha só ela tenha tido que sofrer seis intervenções? Ela não se ofereceu de todo como voluntária a Jesus! Não disse, como qualquer grande santo: «Jesus, faz-me sentir um pouco dos teus sofrimentos para salvar o mundo». E no entanto, Deus preferiu-a e ainda a prefere. Pois bem, eu não percebo esta «preferência» de Deus, e provavelmente nunca a irei perceber. Não tenho vontade de agradecer a Deus por aquilo que aconteceu à minha filha (não seria humano), mas sinto que tenho que lhe agradecer por aquelas duas consequências que aquele facto inicial provocou, isto sim. A resposta à pergunta «quem é Jesus?»: é uma Pessoa que nesta primeira parte do ano me mostrou o Seu rosto sofredor, o olhar da minha filha acabada de acordar da anestesia, mas que (esta é ainda a minha pergunta viva) me desvelará também o rosto bom.
Adelino, Verona