Passos n.º 4 de 2024
Saiu a Revista Passos n.º 4 de 2024 (edição trimestral), com o título «Aconteceu»«Aquilo que é decisivo não podes fazê-lo tu». Dar significado à nossa vida, experimentar a plenitude que cada instante reclama, esperar quando parece não haver saída, sabermos que somos verdadeiramente amados, amar; tudo aquilo que mais profundamente desejamos não podemos fazê-lo nós. É simples e fulgurante a resposta que deu o então cardeal Ratzinger numa entrevista de 1980 sobre a procura do significado, que publicamos neste número, dois anos após a sua morte: «Faz parte da perceção da vida do homem de hoje querer criar ele próprio a sua vida e não esperar qualquer coisa que talvez não aconteça. Consequentemente, foca-se no que ele próprio pode fazer e alcançar e é por isso que tem dificuldade em aceitar uma fé que lhe diz: aquilo que é decisivo não podes fazê-lo tu, tem de te ser dado antes.»
A espera que nos possui fala sempre dessa "coisa decisiva" que não podemos dar a nós próprios. Mas na história aconteceu, e continua a acontecer, através de um facto humano, real. «Comia como nós, e dormia como nós», diz Fabrice Hadjadi nas páginas seguintes: «O facto de Deus ter querido investir a vida mais comum possível significa que é precisamente nesta banalidade que irá acontecer o que há de mais místico. E esta é a grande novidade do cristianismo.»
A capa da revista é dedicada ao Manifesto de Natal do Movimento: a torrente de luz na escuridão, como um ventre pintado por William Congdon, acompanha o "diálogo" entre Italo Calvino e don Giussani, extraído do podcast E voi, chi dite che io sia? (E vós quem dizeis que eu sou?). Neste número, deixamos que fale o anúncio do Natal e quem se confronta com o escândalo deste facto, que não tem premissas, não corresponde a nenhuma lógica humana, mas corresponde a todo o humano: Deus que se faz presença. Irão ler sobre o nascimento de uma vida diferente no sofrimento do mundo, da Ucrânia à Terra Santa, entre os beduínos do deserto ou diante dos olhos do padre Maurizio Patriciello numa das maiores praças de venda de droga da Europa. Continua Ratzinger: «Uma das demonstrações mais belas do Espírito e da força intrinseca do cristianismo é precisamente o encontro com pessoas que vivem na fé e que nela se tornaram maduras.» E quando «vejo como estas pessoas, mesmo nas situações mais difíceis, nas quais humanamente já não há nada a fazer, continuam a ser realizadas, serenas, livres, maduras e boas, então esta é, por assim dizer, uma prova experimental.»
No inferno, quem e o quê que inferno não é. Porque há o mal, a dor, o medo, «estamos habituados ao niilismo», diz o jornalista Alessandro Gnocchi: «A menos que... Há sempre uma oportunidade para nos libertarmos do inferno. Um momento de ruptura em que o coração, mais do que a cabeça, te diz que assim não pode ser, morre-se assim antes de se ter vivido. Jesus espera-nos ali, no cruzamento.» Ele que «nos amou primeiro», como ressoa na última encíclica do Papa Francisco: «O Seu coração aberto precede-nos e espera-nos sem condições.»