Pedro Araújo e Lourenço Carvalho (Foto: Patriarcado de Lisboa)

Ordenação sacerdotal dos diáconos Lourenço Carvalho e Pedro Araújo

No próximo domingo, dia 23 de junho, às 16h00, no Mosteiro dos Jerónimos, os diáconos Lourenço Carvalho e Pedro Araújo vão ser ordenados sacerdotes. A história destes dois jovens, que passa também pelo encontro com o Movimento de Comunhão e Libertação

Diácono Lourenço Carvalho:

O diácono Lourenço Abecasis de Carvalho, de 25 anos, é o terceiro de quatro irmãos (duas raparigas e dois rapazes), entre os 27 e os 20 anos. “Somos uma família tradicional católica aqui de Lisboa. Quando nasci, vivíamos na Estrela, na Rua de São Bernardo – que era a rua do padre João Seabra, que foi o padre que me levou para o seminário, mas, na altura, não tinha assim propriamente muita relação com o padre João –, mas nunca tivemos vida paroquial. Os meus pais, quando eram mais novos, pertenciam à paróquia de Paço de Arcos e só quando casaram é que foram morar para a Estrela”, conta.

Apesar de não terem vida paroquial na Lapa, estavam ligados ao movimento de Schoenstatt e os pais às Equipas de Nossa Senhora, tanto equipas de jovens como, depois, equipas de casais. “Estivemos sempre muito mais ligados a movimentos do que propriamente a uma paróquia. Apesar disso, ainda acolitei na paróquia de Caxias e fiz a Primeira Comunhão no Colégio do Bom Sucesso – também foi muito importante a minha catequista da Primeira Comunhão, que me marcou muito e ajudou-me a conhecer Nosso Senhor”, conta, sublinhando que no movimento de Schoenstatt ganhou “uma especial devoção a Nossa Senhora”.

Para Lourenço, durante a infância e adolescência, a presença de Jesus Cristo sempre foi “uma coisa normal, mais uma Pessoa em casa, a quem se rezava”. “Lembro-me de orações concretas que aprendi com o meu pai, de irmos a rezar para a escola, e da oração que a minha mãe nos fazia sempre antes de dormirmos: ‘Minha Mãe, minha Senhora, sobre estes filhos lançai a vossa bênção carinhosa, o céu e a graça lhes dai’”, partilha.

A amizade do padre João Seabra

Mais “decisivo”, para este jovem, foi o tempo que passou no Colégio de São Tomás, onde estudou desde o 6.º Ano até ao Liceu e onde se ligou “ao movimento Comunhão e Libertação, mesmo sem deixar Schoenstatt”. “No Secundário, ainda passei pelas Equipas de Jovens de Nossa Senhora, mas o padre que mais me ajudou a ir para o seminário, ou que mais me acompanhou, foi o padre João Seabra. Foi assim o grande testemunho sacerdotal que tive e, a partir do 9.º Ano, ficámos muito amigos”, garante o diácono Lourenço Carvalho, não esquecendo também “o padre Ramiro, que era um dos capelães do Colégio de São Tomás”.

“Mas o padre João, todos os dias, estava à porta a receber-nos, a falar-nos, a confessar-nos e, ao mesmo tempo, sabia os nossos nomes todos. Sempre foi muito próximo de mim. A coisa que, se calhar, mais me marcou da paternidade do padre João foi ter sido o primeiro padre que me mostrou que, por maior que fossem as asneiras que eu tivesse feito ou os maiores pecados que eu tivesse feito, o padre João interessava-se verdadeiramente por mim e me amava. Mostrava que Nosso Senhor me amava, independentemente dos meus pecados. Corrigia-me, mas mostrava que Nosso Senhor me amava. Isso foi a coisa mais marcante. Ao mesmo tempo, o interesse genuíno e verdadeiro que tinha por mim. Interessava-se verdadeiramente por mim, de uma forma livre, completamente livre. Isso era marcante”, assegura este futuro sacerdote.

‘O que é que Nosso Senhor quer?’

O jovem Lourenço fazia, nessa época, os campos de férias dos Carraças e “ficou marcado também por um seminarista”. No 10.º Ano, num retiro no Advento, “o padre Ramiro disse que um cristão da nossa idade, que estava a começar a pensar o que é que ia fazer com a sua vida, não podia fazer isso desligado de Nosso Senhor”. “Pela amizade que eu tinha com aqueles padres do colégio, dispus-me verdadeiramente a dizer ‘Senhor, o que Tu quiseres, pede, e se for padre…’ Acho que foi a primeira vez que dispus verdadeiramente o meu coração a: ‘Se for padre, será bom. Podes pedir’. Este retiro foi marcante porque, a partir daí a pergunta ‘O que é que Nosso Senhor quer?’ começou a ficar no coração”, refere.

A partir do 11.º Ano, Lourenço começa a “passar muito tempo com o padre Ramiro e com o padre João”. “Passava muito a ver o que era o dia a dia de um padre. Era também uma coisa marcante”, salienta, lembrando ainda a “Semana Santa muito bem vivida”, por esta altura. “Foi a primeira vez que levei a sério a Semana Santa. No início da semana, estava na peregrinação do Carraças e, quando voltei, estávamos a rezar e eu lembro-me de chegar da peregrinação e dizer: ‘Acho que, se calhar, quero ir para o seminário’. Então, fui contar ao padre João e era Quinta-feira Santa! Eu não fazia ideia que a Quinta-feira Santa era assim o dia do sacerdócio, mas o padre João deu-me um grande abraço e disse não era o único da minha turma e, portanto, iríamos começar um grupo. Até ao final do 11.º fui conversando com o padre João e durante todo o 12º Ano comecei a ter um acompanhamento mais regular, mais semanal com o padre Ramiro, no colégio, e, de tempos a tempos íamos ao padre João”, recorda.

Na Páscoa do 12.º Ano, em 2017, o jovem Lourenço Abecasis de Carvalho decide “mesmo” entrar no seminário. “Fiz a Semana da Páscoa, no Seminário de Caparide, e aí ficou mesmo decidido que entrava em setembro. Pelo meio, ainda fiz a Semana de Verão”, recorda.

Neste tempo de discernimento, este jovem vivia com a avó – “foi um tempo ótimo!” – pelo que os pais foram sabendo da vocação… “Os meus pais respeitaram sempre imenso e apoiaram sempre muito. Fui um bocado desbocado e contei a alguns amigos que contaram aos pais deles e, portanto, contaram aos meus pais também… mas quando ficou mesmo decidido que ia entrar no seminário, ficaram contentíssimos”, garante.

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Pedro Araújo e Lourenço Carvalho (Foto: Patriarcado de Lisboa)

Diácono Pedro Araújo:

O diácono Pedro Miguel de Oliveira Araújo tem também 25 anos – tal como o seu colega de curso, diácono Lourenço Abecasis de Carvalho – e pertence, desde que nasceu, à Paróquia de São Pedro de Alverca do Ribatejo, em particular à comunidade da Igreja dos Pastorinhos. “A Igreja de São Pedro é a igreja matriz, mas tinha pouco espaço e, em 2005, houve a dedicação da Igreja dos Pastorinhos, que veio satisfazer as necessidades da comunidade local. Foi aí que cresci na fé. Apesar de ser a paróquia de São Pedro, foi na Igreja dos Pastorinhos que conheci Jesus e que fiz os sacramentos da iniciação cristã”, conta.

Filho único, Pedro nasceu em Vila Franca de Xira, sendo que a família paterna é do centro da cidade de Lamego e a família materna é de uma aldeia perto de Viseu. “Os meus pais conheceram-se em Alverca, mas atualmente vivem em Samora Correia, portanto Arquidiocese de Évora. Nasci no seio de uma família católica. Do lado paterno, marcado pelos Cursilhos de Cristandade, do lado materno, uma família tradicional católica, que rezava devotamente o terço diariamente. Lembro-me – e acho que aí Nosso Senhor começou a falar comigo – que os meus avós me iam buscar ao colégio e, a certa altura, rezávamos sempre o terço, às 18h30, antes do jantar. Isso foi um diário na minha vida, nos meus primeiros anos de creche e de escola, que foi moldando o meu coração a Jesus, nem que fosse pelas circunstâncias de, no dia a seguir, chegar ao colégio e dizer: ‘Eu estive a rezar o terço’. Portanto, a Pessoa de Jesus foi sempre uma pessoa familiar. Nasci com a familiaridade da Pessoa de Jesus na minha vida e na minha família”, partilha este jovem, que vai ser ordenado sacerdote no próximo Domingo, dia 23 de junho.

Sempre subtil

Os pais de Pedro pertenceram às Equipas de Nossa Senhora. “Se eu dizia que Jesus começou a ser familiar a partir de determinadas coisas quer dos avós, quer dos meus pais, também a equipa de casais dos meus pais foi muito importante e sobretudo o conselheiro, que era o padre Gil Ormonde Coelho, dehoniano, então pároco do Forte da Casa, e que foi sempre muito subtil na forma como me provocava. Nunca foi direto, mas foi sempre muito subtil, porque a certa altura eu dizia que queria ser padre. Como muita gente, também eu ‘brincava’ às Missas em pequeno. Fascinava-me ver um padre a fazer coisas no altar, a celebrar”, conta, recordando-se que “tinha então cerca de seis anos”. “Fazia as minhas Missas caseiras e sempre escondidas. Não queria ter assembleia”, acrescenta.

O padre Gil, segundo recorda, “gravou na cabeça aquilo de eu querer ser padre” e, “também preocupado pelo futuro da Igreja que servia”, começou a “rezar este assunto”. “Até 2013, ano em que morreu a vir de Fátima, foi sempre muito subtil na forma e no acompanhamento que me ia fazendo, nas provocações que me ia dando. Lembro-me de ele me ter oferecido um kit de Missa e, na altura, eu nem sabia para que é que aquilo servia…”, assume.

Paixão pela música litúrgica

Aos 6 anos, aparece “outra paixão” na vida deste jovem: a música. Pedro Araújo começa então a estudar piano, numa escola local, tal como “vários tios e primos” seus já faziam. Depois, em 2008, em Alverca, foi formado o Pueri Cantorum, com pequenos cantores, que fazia parte da Federação Portuguesa de Pequenos Cantores e estava associado à federação internacional. “Neste coro, a minha paixão à música começou a ser purificada e filtrada para ser uma paixão à música litúrgica, sobretudo”, lembra.

Anos mais tarde, em 2012, começa a ser “um bocado autodidata para o órgão e não para o piano”. “O órgão de tubos, a mim, fascinava-me, tal como a música litúrgica”, diz. O “dom para a música” que “Nosso Senhor” lhe “deu” levou a que, nesse ano, “fosse convidado a ir fazer o curso nacional de música sacra, em Fátima”. “A grande questão é que eu tinha 13 anos, o curso é para maiores de 18 e dura quatro anos: são 15 dias no verão, em agosto, em que temos as aulas intensivas, e depois, ao longo do ano, temos trabalhos e, a meio do ano, vamos a Fátima um fim-de-semana fazer provas e exames”, explica.

O convite para este curso partiu da maestrina Paula Faria e de Tiago Oliveira, primo de Pedro, que eram, na altura, responsáveis do Pueri Cantorum. “Eles acharam que era bom propor-me a fazer esse curso e, lembro-me perfeitamente, levaram-me num Domingo, ao final da tarde, a Fátima, à Casa Carmo, para ir ter com o padre [António] Cartageno e com o padre Augusto Frade, que já partiu. Na altura, eles dois fizeram-me assim umas provas, pediram-me para tocar e ficaram muito interessados em mim. O padre Cartageno dizia: ‘Se eu te der esta melodia, como é que tu tocavas isto?’. Eu harmonizei e ele ficou mesmo muito entusiasmado e, a partir daquele dia, queria-me à força toda no curso. O padre Cartageno quase que me apadrinhou um bocadinho, porque eu era novo, na altura. Ele falou com os restantes professores, que estavam com receio devido à minha idade, mas em 2013 fui fazer o curso, em Fátima, e comecei os meus primeiros estudos musicais, sobretudo no órgão, na harmonia, teórica e prática, no estudo do órgão em si e também na parte litúrgica e na história da música”, recorda.

Curso “importante e decisivo”

Os quatro anos do curso nacional de música sacra, entre 2013 e 2017, foram “muito importantes e muito decisivos”. “A realidade é que eu tive sempre um percurso de catequese normal, a paixão da música também falava muito alto, e encontrei neste curso aquilo que mais gostava de fazer, que era a música e a música litúrgica, ligada ao mundo eclesial e à realidade da Igreja. Tinha lá grandes amigos, porque curiosamente foi dos cursos que teve mais gente nova, entre os 18, 19 e 20 anos, e isso facilitou muito a minha proximidade. Nosso Senhor sabe o que faz e tive também muitos colegas que estavam no seminário, tive outros colegas que estavam a ser ordenados padres; portanto, naqueles quatro anos, acompanhei muitos a chegarem ao final do seminário e a serem ordenados, e outros também a entrar no seminário. Nessa altura, eu queria dedicar-me à música, mas, ao mesmo tempo, tinha as provocações destes colegas a dizer ‘Pedro, já foste ao pré-seminário? Já foste ao seminário menor?’. E eu não queria ouvir falar disso…”, lembra, referindo que, nessa altura, “entrar no seminário não era questão”. “Ou era a música ou era a parte mais teórica da Ciência”, sublinha.

Pedro assume, no entanto, que “era uma alegria” estar com os colegas de curso sacerdotes: “Eu via na cara deles uma alegria autêntica, um desejo de conhecer Jesus. Eles tinham uma grande vantagem: viviam alegremente e tinham a possibilidade de estar também envolvidos no mundo da música. A música não era anulada do seu serviço à Igreja, da sua entrega a Deus. Aí, Nosso Senhor foi começando a provocar-me, mas eu sempre disse que não. Até 2016, eu não queria ouvir falar do seminário, mas Nosso Senhor foi-me falando”.

Este jovem, então com cerca de 18 anos, mantinha-se “muito ligado à fé” e “envolvido na paróquia”. “Já cantava nas Missas e, desde o início do curso, comecei também a tocar nas celebrações. A música ajudou-me imenso a crescer na fé e a conhecer a Pessoa de Jesus”, frisa.

Nessa época, a paróquia de Alverca estava confiada à Fraternidade Sacerdotal dos Missionários de São Carlos Borromeu, com o carisma do movimento Comunhão e Libertação. “Como o meu grupo de amigos ia à Missa vespertina de sábado, que era a celebração mais ligada ao movimento, eu ia também a essa Missa, e depois, no Domingo, levantava-me cedo para ir servir, para cantar e tocar – até porque os meus pais iam à Missa de Domingo”, explica.

Conforme ia avançando no movimento, Pedro ia “sendo provocado pelos padres da fraternidade”. “O que me impedia de avançar para o seminário é que eu achava que os que foram é porque não deu para mais nada… E em Alverca tive a possibilidade de encontrar padres italianos e espanhóis que não eram isso, eram o oposto. O padre Paolo di Gennaro – que vem à minha ordenação e vai-me impor a casula – era médico cirurgião, depois entrou na fraternidade, foi ordenado padre. A realidade era outra: no curso, em Fátima, eles estavam no seminário e continuavam a ter a paixão pela música; e os padres da fraternidade, tinham um currículo vastíssimo e deixaram a carreira para se entregarem a Jesus, vieram de longe e entregaram-se a nós, com uma alegria total… ou seja, a grande decisão e a grande questão foi eu sentir que alguém entregou a sua vida por mim. Portanto, o sacerdócio, essa prefiguração de Alguém que se entrega pelos outros. Eu sentia que estes padres se entregavam por mim, pela minha vida, se interessavam por mim. Estudávamos em conjunto, interessavam-se pelo meu estudo, pelas minhas ocupações do dia a dia. Isso, para mim, foi muito decisivo: este paralelo da música e de uma amizade com pessoas concretas, que me apresentavam Jesus como Alguém fascinante, que recompensava dar a vida. Foi mesmo bastante decisivo para a minha vocação”, declara. (…)»


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