SIMPLUS: Levanta-te!

Um disco que nos mostra, pela mão dos Simplus, o exagero do amor de Deus pelo Homem
Luís Martins

Ponto prévio: o disco Levanta-te! dos Simplus, é absolutamente obrigatório.

É um trabalho belíssimo e vale muito a pena conhecê-lo: pelo equilíbrio dos temas, pela beleza das melodias, pela profundidade despretensiosa das letras, mas sobretudo pela dimensão e originalidade do projeto musical.

Depois, tem uma particularidade interessante e que não é exclusiva deste disco: as músicas são em geral de curta duração, sem cedências a artifícios comerciais como a repetição dos refrões ou a construção de finais exuberantes ou espetaculares.

É, pois, um trabalho que vive e ganha o seu espaço na simplicidade (o nome da banda desvenda essa intenção) e naquilo que
os seus autores referem como o resultado de uma experiência que pretendem partilhar com os outros. A música dos Simplus existe, portanto, para ser mostrada, e para ser instrumento de caminho na vida dos homens que procuram e desejam percorrer esse caminho.

Este Levanta-te!, sexto álbum da banda formada há 22 anos por dois primos, a Maria e o Luís, revela uma maturidade e uma qualidade técnica que marcam uma evolução relativamente a trabalhos passados. Mas também é notório um crescimento e uma consolidação naquilo que são os dons recebidos por cada um dos membros da banda.

Por todas estas razões convido-vos a entrar neste disco e deixar-se levar por ele. Foi o que fiz logo que soube da sua edição. E que bem que fiz!

O Levanta-te! tem um grande equilíbrio entre os treze temas, os registos musicais são variados e as letras transmitem toda a beleza que existe na fragilidade humana perante a grandeza do Bem, nos caminhos que o levam à felicidade, na sua busca, nem sempre consciente, de Algo maior que dê sentido à vida do Homem.

No tema Vem, essa ideia está bem marcada quando se diz que “caminhar é a minha forma de pedir”, e quando se pede a Deus para cruzar o Seu olhar com o nosso, “com estes olhos fugidios que fogem de ti”. Ou na música Mónica quando se fala de um desejo que não morre, embora possa estar muito tempo escondido, marcando a falta de um bem que nós não conseguimos ver.

No tema Há Alguém há um reconhecimento de uma Presença que nos marca “há alguém que está atento a ti, que diz o teu nome, que chama por ti e que nunca te perde”, ou ainda numa das músicas mais fortes do disco Já te disse, se diz que tudo o que é tremendo, imenso e bonito e que sara, “me faz lembrar o exagero do Teu interesse, do Teu cuidado e do Teu abraço que me repara”. Ao ouvir estas palavras que se referiam ao exagero do amor de Deus por nós, dei-me efetivamente conta da desproporção do amor de Deus relativamente a tudo o resto, incluindo à nossa pequenez humana cheia de falhas e quedas, mas sempre, sempre redimidas.

Este disco tem também referências a pessoas concretas e à importância que elas e as suas vidas tiveram no percurso dos autores, como a Gena, amiga da Paróquia do Estoril, já falecida, e que dá o nome a uma das músicas. Esta letra é muito interessante porque nos consegue transmitir a relação que existe entre alguém que nos marca, alguém que nós seguimos, e o sentido último da vida, as respostas que desejámos e encontramos na nossa experiência concreta (“Cantar para quê, senão para dizer e dar outra vez aquela melodia impressa em nós, aquela harmonia sinal de Ti”, ou para “retomar a estrada em cada queda, anunciar mais alto o mais fundo pedido, falar do encontro que nos mudou”). O mesmo se passa no tema Amália: “Quem és tu que acordas o que estava escondido por trás das palavras usadas e gastas pelo repetir-se dos dias”. A música como despertador do nosso sono das rotinas e do nada que invade as nossas vidas. A música que nos aponta o caminho, que nos diz que não estamos sós e que há Alguém que nos quer bem, que gosta de nós como somos, e que nos chama para que tenhamos uma vida com sentido, independentemente das alegrias e tristezas que nos acompanham. Como se diz no tema Voltei a ver, “agora sei que há uma razão para cantar na alegria e na dor”.

O tema que dá nome ao disco, “Levanta-te!” - e que foi feito inspirado nas Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa 2023 - fala-nos de Maria, mãe de Jesus e da sua disponibilidade total para O seguir, para aceitar Seu o chamamento (“porque é simples e humilde, Maria entendeu, que o anúncio faz andar, levantou-se e correu”) e de como este testemunho pode ser luz para os homens e sinal para a escolha de uma vida nova (“do teu sim nasce essa estrada onde a vida é mais vida, porque foste encontrado por Jesus que te olhou”). Nesta música há um convite, uma proposta radical para todos nós, quando ouvimos este grito: “vai, levanta-te, e corre para o outro! Porque foste visitado, também tu foste amado, para que o mundo conheça a invencível alegria de ver Cristo vivo na vida, Cristo vivo no dia-a-dia. Vai, levanta-te também!”

Os Simplus dão-nos muito mais do que um trabalho bem produzido, muito bem tocado e muitíssimo bem cantado. Propõe-nos um projeto musical com sentido. Oferece-nos, a partir da partilha das suas experiências, uma proposta de caminho, ajuda-nos a perceber melhor os sinais que de outra forma não identificaríamos. Lembra-nos que Ele existe para nós, para todos. E acorda-nos para nos pormos a caminho, como Maria, uma rapariga de dezasseis ou dezassete anos que confiou em Deus e O seguiu sem hesitação.

Comecei por dizer que este trabalho era belíssimo e que era obrigatório conhecê-lo.

Digo-vos agora que há uma forma única e grande para o conhecer: ir assistir ao concerto que os Simplus vão dar no próximo dia 6 de novembro, às 21h, no Auditório da Boa-Nova, no Estoril (onde começou esta aventura dos Simplus).

É um “dois em um”: conhecemos o disco de uma forma particularmente bonita porque é tocado ao vivo, especialmente para cada um de nós; e temos a oportunidade de conhecer a Maria e o Luís, pessoas simples, porque grandes na partilha, no cuidado e na atenção ao outro. Numa palavra: testemunhas vivas do exagero do amor de Deus pelo homem.
Até lá!