Tendas AVSI. NA VENEZUELA recomeça-se também com os mais velhos
Um dos projetos da Campanha AVSI deste ano: cursos de formação de assistência a idosos, muitas vezes deixados sozinhos pela fuga para o estrangeiro das suas famílias. Eis do que se trata:Estávamos em 2009 quando Alejandro Marius fundou a associação "Trabajo y persona". O objetivo, hoje, permanece o mesmo: "Promover o trabalho para promover a dignidade de cada ser humano". O Alejandro trabalha para permitir que os setores mais vulneráveis da população venezuelana tenham a possibilidade de uma formação profissional nos mais variados sectores (mecânica, carpintaria, produção de chocolate, setor tecnológico...), criando oportunidades de emprego e apoiando os que trabalham na formação.
Para o Alejandro, o trabalho não é apenas "uma contribuição para o bem comum, mas um instrumento fundamental para a descoberta de nós mesmos", sem a qual a vida, na sua raiz, está em crise. A sua "obra" começou há dez anos, antes da crise política e económica que levou a Venezuela a entrar num estado de profunda instabilidade. Aqui, a pobreza é uma questão quotidiana: a falta de eletricidade nas casas e hospitais, a falta de água corrente, de medicamentos, de alimentos, são as características mais óbvias de uma incerteza cujo fim não se perspetiva. É por isso que o país está a passar pelo maior fenómeno migratório da história da América Latina: até este ano contam-se 5 milhões de emigrantes, 15% da população.
Alejandro e os seus amigos não desistiram durante estes anos difíceis. Pelo contrário, a sua aventura continua, mesmo na crise, porque “numa situação difícil torna-se ainda mais claro qual é a finalidade da vida”, diz Alejandro. “Como foi para São Maximiliano Kolbe no campo de concentração”. São muitas as iniciativas e é uma destas que a AVSI, este ano, inseriu entre os projetos da Campanha Tendas, “Venezuela. Não estou sozinho”, para sustentar uma experiência nascida de Trabajo y persona, Cuidadores360.
«Os emigrantes são muitos e pertencem à população economicamente ativa. Quem é que ficou? As crianças, deixadas ao cuidado de familiares, e os idosos ", explica Alejandro:" Existem muitos programas internacionais para ajudar os mais pequenos. Mas percebemos que havia uma necessidade que ninguém estava a olhar: o número muito grande de idosos que ficaram sozinhos quando as suas famílias deixaram o país. E do estrangeiro, é difícil para muita gente arcar com os custos de um enfermeiro especializado que possa acompanhar quem ficou ".
Acresce que a Venezuela é o país da América Latina com o maior índice de envelhecimento. "Perguntámo-nos o que poderíamos fazer", diz Alejandro: "Nós trabalhamos em formação profissional, o desemprego é muito alto, e agora temos estes idosos sózinhos, e na Venezuela não há programas de formação profissional para os ajudar. " Assim nasceu o Cuidadores360, o primeiro curso de formação profissional para cuidadores do país. O projeto - nascido em colaboração com a Universidade Central da Venezuela - já concluiu o seu primeiro ano de atividade em Caracas. "O objetivo do programa está todo naqueles " 360 ": o objetivo é preparar os cuidadores para uma assistência completa aos idosos, ou seja, 360 graus. Durante os meses de preparação, os participantes - desempregados que sentem vontade de servir os outros - aprendem a atender às necessidades das pessoas de idade avançada: fisioterapia, gestão dos medicamentos, como lidar com emergências. Mas não é só: nos cursos abordamos também matérias como aprender a ouvi-los e até como brincar com eles». Após o primeiro ano, todos os participantes já encontraram um emprego. Uma iniciativa bem recebida pelas instituições ", porque é pertinente à situação na Venezuela. Tanto que as próprias instituições se mexeram, na sequência do nosso exemplo, para enfrentar a mesma necessidade. Para nós, não é concorrência, mas uma resposta que é boa para todo o país ».
É verdade que as necessidades são muitas e abrangem os mais diversos aspetos da sociedade venezuelana. "Mas enquanto não faltam iniciativas e tentativas de ajudar alguns deles, como por exemplo as crianças, os idosos são esquecidos, porque já são considerados no final da vida", explica Alejandro: "Nós, pelo contrário, acreditamos que é precisamente neste momento que devemos mostrar gratidão por uma vida inteira de trabalho por nossa causa, que viemos depois ". Não ter deixado cair este desejo de ir ao encontro destas pessoas está a gerar frutos além das expectativas, também para os participantes dos cursos de formação, os aspirantes cuidadores.
Alejandro contou algumas das suas histórias à Passos: «Por exemplo, a de uma rapariga que mora numa pequena cidade longe de Caracas e que saía às quatro e meia da manhã para chegar às aulas às nove, perdeu apenas um dia de aulas porque uma tempestade tinha bloqueado as ruas. Hoje já está a trabalhar, mais próxima de onde mora ". Tudo isto num contexto em que é difícil falar de esperança. Mas não para Alejandro: "A crise é profunda, mas sustenta-me a certeza de que o Senhor me chama a viver tudo com alegria, com propostas, e que a realidade e o tempo são um dom para exprimir o que sou. Esta consciência é em mim fonte da esperança, peço-a todos os dias ». Não se trata apenas de "suportar" uma crise que não mostra sinais de acabar: "Um gesto de caridade pode abrir uma perspetiva de mudança pessoal que é o ponto de partida para a esperança de uma família, uma comunidade, um país.
Queremos colocar as nossas vidas ao serviço de todos, independentemente do tempo em que situação política e económica mudar ".