UMA PRESENÇA PARA A NECESSIDADE DO MUNDO

Em direção às eleições europeias de maio, o manifesto de Comunhão e Libertação sobre a Europa: "A partir de onde retomar? Que sentido tem empenhar-se pelo bem comum?"

As eleições europeias obrigam-nos a alargar o olhar, a olhar para além do horizonte das nações individuais, por mais que as dificuldades internas de cada país da UE sejam pesadas e toquem mais diretamente a vida de cada um de nós.

No passado existiam certezas partilhadas, nas quais todos, de alguma maneira, se reconheciam. Hoje já não é assim. Estamos a viver uma fase completamente nova da história, caraterizada por um enfraquecimento cada vez mais evidente do interesse pela realidade e, em muitos casos, por uma passividade que paralisa. A experiência quotidiana é marcada por interrogações recorrentes: como conviver com quem é diferente de nós? Por quê constituir família, estabelecer relações duradouras? Como educar os filhos? Que sentido tem empenharmo-nos no bem comum?

Não são poucos os que estão desorientados e se perguntam como ultrapassar aquela insegurança existencial que mata a esperança e bloqueia a capacidade de encontro, de diálogo e de iniciativa, a todos os níveis.


De onde podemos recomeçar?
Há um dado que nos aproxima a todos: apesar dos medos e das inseguranças, o coração do homem não consegue render-se totalmente. «Podemos surpreendê-lo nas mais variadas tentativas, às vezes confusas, mas nem por isso menos dramáticas e de certo modo sinceras, que os europeus de hoje fazem para alcançar aquela plenitude que não podem evitar desejar » (J. Carrón).

Então tentemos olhar para algumas destas tentativas, para obter delas as sugestões para enfrentar a situação em que nos encontramos. Só das experiências de mudança em ação é que podem surgir indicações para o futuro.
Algumas destas histórias são contadas e difundidas pela revista Passos do mês de abril, dedicada às eleições europeias.

# EM ITÁLIA um centro cultural organiza um ciclo de encontros sobre a Europa e convida um conhecido economista para falar. Durante o jantar, os organizadores fazem-lhe algumas perguntas sobre política. E ele: «Não há esperança, os italianos acabaram no abismo, vamos entrar em default». Tem dificuldade em dialogar, porque encerra apressadamente todas as discussões. Chegados ao encontro, o economista vê a sala cheia de gente; sobretudo, vê pessoas realmente interessadas, que fazem perguntas, e isso torna o diálogo apaixonante. No final da noite, diz aos organizadores: «Viram que não fui tão pessimista como tinha sido ao jantar?». Aquele público, tão estranhamente atento e curioso, tinha posto em causa a sua certeza granítica.

# NA HOLANDA uma mãe muçulmana à procura de uma escola para a filha, que tem uma doença grave e exige cuidados especiais, pede a sua inscrição numa escola católica que acaba de abrir. Quando o diretor lhe pergunta por quê precisamente ali – numa escola pequena e pouco equipada para aquele tipo de exigências –, ela responde: «Percebi que aqui podem querer bem à minha filha». Meses depois, quando em Conselho camarário se discute se se deve ou não financiar a escola, aquela mãe está lá, com todos os outros pais, diante de políticos que «nunca viram uma mobilização como aquela», para pedir que aquele sítio possa existir, porque é um bem para todos.

# NA LITUÂNIA uma ONG começa a cuidar de órfãos e famílias em risco. Realidade complexa, num país onde o modelo, antes de aderir à UE, era ainda o internat soviético, o orfanato estatal. Com o seu trabalho, e em diálogo com os políticos, aquela ONG ajudou a fazer nascer novas leis sobre a adoção, o acolhimento, o apoio às famílias em dificuldades. «Contribuiu para a mudança das mentalidades», dizem no Ministério dos serviços sociais. O método? «Quando encontramos pessoas em dificuldades, não partimos da análise dos problemas, mas procuramos os seus recursos positivos. Relacionamentos, capacidades, desejos. As pessoas não se dão conta das coisas positivas que têm nas suas vidas. Quando lhas damos a conhecer, mudam de atitude e conseguem recomeçar».

# EM ESPANHA diante da crise económica, um grupo de famílias de uma pequena comunidade decide ajudar aqueles que não se aguentam até ao fim do mês recolhendo géneros alimentares e levando-os, em casal, a casa deles. Desta forma, não se vai apenas ao encontro de uma necessidade material: criam-se laços de afeição e de amizade entre as famílias. A necessidade material, que podia ser, potencialmente, ocasião de violência, torna-se uma oportunidade para estreitar laços entre os vizinhos. A Câmara toma conhecimento disto e concede-lhes um local para facilitar e alargar a sua atividade.

O que é que todas estas pessoas encontraram para conseguirem mudar de atitude perante a realidade, ultrapassando medos e fechamentos?
Não será talvez verdade que, antes mesmo de encontrar uma solução para os mil problemas quotidianos, aquilo de que todos temos necessidade é de alguma coisa que seja capaz de mudar o nosso olhar, de nos fazer voltar a saborear o gosto pela vida, redespertando a vontade de agir?

Recordando o início do seu ensino no Liceu Berchet de Milão, em meados dos anos cinquenta, Dom Giussani observava: «Não entrámos na escola com um projeto alternativo para a escola. Entrámos com a consciência de levarmos O que faz com que o viver se torne humano e torna a busca da verdade autêntica».
Não precisamos, acima de tudo, da enésima teoria política nem de uma nova estratégia organizativa, mas de encontrar uma vida; uma vida que tenha a força de nos voltar a abrir à esperança, de reacender em nós o interesse pela existência, a nossa e a dos nossos familiares, amigos, colegas, concidadãos, a ponto de nos deixarmos provocar pelas eleições de maio próximo.

Partilhando as ansiedades e os problemas de todos, o Papa Francisco convida-nos a realizar uma «amizade social», para um diálogo e um encontro no qual cada um ofereça o contributo da própria experiência à vida comum.
Por isso vemos as eleições europeias como uma grande ocasião, sobretudo para uma verificação e perguntamo-nos:

  • Como é que a experiência que vivo me desperta uma paixão pelo bem comum?
  • Qual é o contributo que estou a dar à vida social e política do local onde vivo?
  • Onde é que vejo que os valores fundadores da Europa estão novamente encarnados em experiências partilhadas?
  • Que movimento fez nascer em mim e que iniciativas me sugere o calendário eleitoral?
  • Que critérios me conduzem no que diz respeito aos conteúdos da campanha eleitoral e à escolha eleitoral?