Faz Tu!

Como O Senhor educa os meus filhos, fazendo explodir as suas personalidades, através da minha obediência, no Banco Alimentar...

Este ano quando me chegou o email com a proposta da caritativa do Banco Alimentar, reencaminhei-o para o meu marido, com a indicação de ele agendar o horário que mais se adequasse às várias frentes de logística familiar nesse fim-de-semana. Ele não me respondeu e lavei as minhas mãos: “assunto descartado” – pensei eu.

Fui à Escola de Comunidade e no final, algumas pessoas inscreveram-se nos turnos que restavam, enquanto que eu discretamente regressei acelerada para o meu trabalho. No fim-de-semana do retiro de advento, foi flagrante a retoma do convite, ao sermos desafiados novamente dentro da própria lição. Aí rendi-me. Falei novamente com o meu marido e vimos que a única solução seria ir eu com os nossos 4 filhos rapazes, de 3, 5, 8 e 10 anos.

Missão impossível, pensei, mas decidi ir em frente somente por obediência, com um plano SOS na manga, de modo a assegurar poder fugir em caso de caos instalado e não deixar o turno sozinho. Chegou o dia e tudo começou a descambar, antes mesmo de iniciarmos o Banco Alimentar.

Almoçámos nos meus pais, como quase todos os sábados e o meu filho mais tempestuoso, ousou ser completamente descabido, desproporcionado e sobretudo malcriado comigo, mas mais grave ainda, com o próprio avô. A cena foi mesmo terrível, vergonhosa e escandalosa. Saí o mais rápido possível de casa dos meus pais, com o bebé e o filho problemático e deixei os outros dois rapazes ao cuidado dos meus pais, que ficaram de mos entregar quando tudo acalmasse. Já com o carro em andamento, a fera presa com o cinto, ralhei muitíssimo, não perdendo a serenidade, mas furiosa com toda aquela cena monstruosa. No meio daquele turbilhão, íamos nós na A5, e pus-me a rezar: “Meu Deus tu bem sabes que não me apetece, não sei mesmo se me é possível, estou sem forças e nem consigo transportar o esqueleto, pois sinto-me totalmente desossada. Faz Tu!” – supliquei.

Por graça cheguei certinha ao supermercado que me coube e que não sabia onde era. O meu filho pergunta-me onde íamos e eu respondi-lhe secamente: “vamos fazer Banco Alimentar”. O bebé entretanto adormecera e o outro pronto para retomar o escândalo, começa a tentar nova birra. Olhei-o nos olhos e disse-lhe pausadamente: “nós vamos fazer Banco Alimentar porque nos foi pedido e porque tenho a certeza de que é o melhor para nós”. Por milagre saiu do carro, não acordou o bebé e não fugiu para parte incerta. Seguiu-me. Cheguei ao meu posto a tremer por dentro e com um pedido grande. Vesti a camisola e pus-me a distribuir sacos com um sorriso e uma explicação breve e simpática a todos os que passavam. O bebé dormia uma sesta tardia e o pródigo pôs-se a fazer os TPC, coisa que se recusara desde que acordara e que tinha sido tema da escusável escandaleira.

Pouco a pouco foi caindo em si. Pediu-me desculpa e começou a ajudar-nos a fazer Banco Alimentar. Entretanto chegam os meus pais e espanto-me com o ímpeto de um enorme abraço apertado e de um pedido de desculpas sentido. No meio dos ralhetes do carro, nem me ocorrera lembrar que era dever pedir rapidamente desculpas ao avô e foi ele que naturalmente o fez. Depois da cena comovente, deu a mão ao avô (coisa nunca vista!) e juntos foram fazer compras para doar ao Banco Alimentar.

A 30 minutos do turno acabar, os ânimos acalmados, já os meus pais se tinham ido, acorda o bebé – “Ai meu Deus e agora?”. Propus irem juntos comprar umas bolachas e que não largassem a mão ao mais novo. Já não tinha muito dinheiro e por isso recomendei que fosse um pacote mais baratinho mas que desse para todos. Qual não é o meu espanto quando vinham todos satisfeitos (e com o bebé pela mão), com várias das suas bolachas preferidas, que um empregado simpático lhes tinha oferecido.

O turno acabou mais que bem e eu dei-me conta da graça que é dizer sim às propostas ousadas e aparentemente descabidas de Deus.
Criativamente, da forma mais inesperada, Ele faz maravilhas com o meu sim pequeno e de contra vontade. Ele educa os meus filhos, fazendo explodir as suas personalidades como eu realmente desejo.
Sara, Lisboa