Fernando Quintela

A vida diante do destino

A um ano da morte do Fernando, que tantos conheceram nos liceus ou no CLU (CL universitários), recolhemos alguns testemunhos de amigos...

Disse o seu amigo António Romeiras: «A ida do Fernando para o Céu foi para mim e para muitas pessoas uma verdadeira oportunidade de conversão. Mas como é possível viver assim a morte de um grande amigo? Quando soube da notícia logo de manhã fiquei em estado de choque; não era possível que Deus o tivesse levado assim de repente, sem que ninguém estivesse à espera.

Logo a seguir a este momento de choque, na conversa com outros amigos, dei-me conta de duas coisas muito importantes. A primeira é que o Fernando tinha morrido em graça, estava confessado, tinha ido à missa nesse dia e tinha comungado. E quando morreu tinha ao peito o escapulário, de que ele tinha tanta devoção. Quando soube disto lembro-me de ter ficado com uma estranha alegria; estava triste pelo facto da sua partida tão repentina, mas contente por ele estar no Céu. Pensei logo na graça que era ter um amigo tão próximo junto de Deus, na companhia de Jesus! Na verdade, aquele último ano dele tinha sido uma preparação para o encontro com Jesus, de facto nos últimos tempos ele ia à missa todos os dias!

A segunda coisa de que me dei conta é que a morte é real, nunca tinha tido tanta consciência de que a nossa vida é de facto uma preparação para a Eternidade, não sabemos nem o dia nem a hora que Jesus nos vai chamar. Isto não me fez ter medo da morte, mas sim ter mais desejo da Eternidade.

Depois nos dias que se sucederam à sua morte estava muito grato a Jesus por me ter feito conhecer o Fernando. Conheci-o no 7º ano e foi ele que me levou para o C.L., depois de muita insistência diga-se. Ele é que me fez conhecer o Fechi e mal sabia eu da importância que ia ter esse encontro na minha vida. Era bonito agora, num momento tão difícil, poder recordar aquele início. Era agora mais vivo aquele início. Era agora mais urgente continuar a viver aquilo que já tinha encontrado.

Como disse um amigo meu que foi a uma das missas, que está afastado da Igreja: “Não percebo, parecia uma missa normal! Nem parecia que estavam tristes!”. Estávamos tristes sim, mas a companhia uns dos outros ajudou-nos a termos mais vivo o desejo de Eternidade. “Os dias, desde a primeira missa até ao enterro, foram o melhor retiro espiritual que eu alguma vez tive na vida.”, Eu nunca tinha desejado tanto a Eternidade! Senti-me verdadeiramente livre, de repente já não pesavam os problemas do dia-a-dia e não é que não existissem. Eu é que estava mudado! Já não eram os problemas que definiam o meu dia mas sim ao amor por Jesus!

Só Deus pode tirar um bem tão grande de uma situação tão dramática e triste, como é a morte de um grande amigo. Agradeço a Deus por me ter feito conhecer o movimento através do Fernando e pelo seu testemunho ter suscitado em mim uma vontade maior de ser santo.»

A morte do Fernando, que tantos de nós conheceram nos Liceus e no CLU “Enche a vida de seriedade, porque faz perceber que a vida está diante do Destino”, como dizia uma nossa amiga. Ou ainda uma colega de turma do Fernando, desde o Bom Sucesso, que disse, citando o Pe. Pedro: “o Fernando permanece como uma farpa na nossa vida, para não nos deixar esquecer o “essencial”.

O “essencial” que o cabo do grupo de forcados, chamado Vasco Pinto, também testemunhou, nas palavras publicadas no Novo Burladero,
"... Foi Deus que nos colocou o Fernando no grupo, foi Deus que permitiu que aprendêssemos com o Fernando toda a sua humanidade, que conhecêssemos a Fé como o Fernando a conhecia e a transmitia a quem estava mais próximo de si, para encontrarmos na Fé explicação para esta tragédia. Deus colocou o Fernando na nossa família para nos educar na Fé, para a conhecermos por dentro como ele a conhecia, e no momento que achou certo levou o Fernando para junto de Si. Dizia-me um amigo há poucos dias que certamente Deus estava a precisar de um bom soldado a seu lado. E por isso elegeu o Fernando como esse soldado que lhe fazia falta! Queremos todos acreditar que o Fernando representou para nós um anjo de calças de ganga vestido, que fez parte da nossa existência e que nos deixou um pedaço de si muito importante que vamos carregar para o resto das nossas vidas e que certamente nos vai aproximar ainda muito mais de Deus do que aquilo que cada um de nós está".

Aquilo que nos impressionou a todos foi perceber como é diferente viver esta circunstância dolorosíssima para toda a família e amigos do Fernando, apoiados na fé da Igreja, nas palavras do Pe. Pedro, que de imediato nos colocaram na posição justa, de pedido, de silêncio para ouvir o que Cristo tem para nos dizer, a cada um. É a Verdade que consola, que nos tira da solidão, não o sermos “almofadas” uns para os outros, que abafam o grito de significado que este momento não pode deixar de provocar.

Ver a família do Fernando, pais e irmãos, avós, tios e primos, “enxutos” ao pé da Cruz, todos confiados à certeza da vida eterna do Fernando, na dignidade da dor vivida na fé, que se podia tocar e perceber na beleza das celebrações, no canto que acompanhou todos estes dias, até ao funeral, consolou todos os que puderam participar.

Estranhamente, estamos gratos ao Fernando e à sua família por nos terem testemunhado a beleza da fé que tem a ver com a vida toda.