...Encontramos com o desejo de procurar ainda

As palavras do presidente da fraternidade de CL pela 40ª peregrinação a Macerata-Loreto que terá lugar entre 9 e 10 de junho
Julián Carrón

Caríssimos, começar a peregrinação com esta pergunta − «O que procuram?» − une todos vocês, que caminham em direcção à Santa Casa de Loreto. Com efeito, todos procuramos. «Procuramos com o desejo de encontrar, e encontramos com o desejo de procurar ainda», dizia o grande Santo Agostinho. E isso precisamente porque nós somos sede de vida, e não nos contentamos até termos encontrado aquilo que a satisfaz. Podemos fazer de tudo para fazer calar o coração, podemos até pensar que estamos errados por nunca estarmos satisfeitos com aquilo que encontramos, mas, pelo contrário, esse é precisamente o sinal da nossa grandeza.
No meio de vocês, há muitos que já encontraram o Rosto que procuravam, mas não ficaram parados, com efeito, continuam a procurá-l’O para viver uma familiaridade cada vez mais profunda com Jesus. É isso que nos faz olhar para quem quer que encontremos como companheiro de caminho. Dizia don Giussani: «A grandeza da fé cristã, sem nenhuma comparação com qualquer outra posição, é esta: Cristo respondeu à pergunta humana. Por isso têm um destino comum os que aceitam a fé e a vivem e os que, não tendo fé, se afogam na pergunta, se desesperam na pergunta, sofrem na pergunta». Por isso a peregrinação é uma grande ocasião de testemunho para os que chegam.
Imaginem como se devem ter sentido João e André naquele dia: procuravam João Baptista e encontraram Jesus. Seguiram-n’O. Ele poderia ter fingido não dar por nada, e em vez disso, fez-lhes aquela pergunta à queima-roupa: «O que procuram?», que fazia vir ao de cima o seu coração. Aquele desconhecido interessava-se por eles! Naquele momento compreenderam o que procuravam. Mas a sua fome e sede de vida não se extinguiram, tornaram-se fome e sede d’Ele. Por isso O seguiram até casa e, no dia seguinte, acordaram com uma vontade louca de rever Jesus.
O desafio maior com o qual um homem se pode pôr à prova é o de conquistar o significado da própria vida. «Aceitam o desafio?», perguntou o Papa aos jovens. Não julguem que são necessários dotes especiais, uma inteligência superior à média ou um esforço hercúleo para enfrentá-la. Basta uma só coisa, ao alcance de todos: sermos simples de coração, como uma criança.
E, no entanto, quantas vezes ouvimos dizer: «Eu não sou ingénuo como uma criança» por parte de adultos que julgam saber como são as coisas e, por isso, já não procuram, pensando que já são crescidos. Mas ao fazer isto, perdem o melhor, porque permanecer na atitude original em que somos criados, com os olhos escancarados diante do real – precisamente como as crianças −, é a condição para nos tornarmos verdadeiramente crescidos. Porquê? Porque só esta simplicidade permite ver e reconhecer aquilo que corresponde à própria procura.

Quem não gostaria de olhar constantemente para a pessoa amada com o espanto da primeira vez, como uma dádiva tão desejada quanto imprevista? Esta simplicidade deve ser recuperada todos os dias, não é óbvio permanecermos crianças quando crescemos. É num caminho que cresce a consciência da iniciativa de Deus na nossa vida, que sempre nos precede, como diz o Papa Francisco.
Por isso, desejo-vos que sejam companheiros de caminho nesta noite, e sobretudo, em todos os dias que vos esperam, armados apenas com o vosso coração que não cessa nunca de procurar o Amigo. E quando O encontrou, continua a procurá-l’O para conquistar aquela familiaridade única que muda o olhar sobre a vida.
Peçam a Nossa Senhora que vos dê um coração de criança, sempre alerta, para captarem os sinais d’Aquele que nunca se cansa de vir à nossa procura.
O vosso companheiro de caminho,

Padre Julián Carrón

Milão, 25 de maio 2018