O que devo fazer? Cala-te e não te meças a ti próprio.

A sabedoria e o seguimento nos ditos dos padres. Se a verdadeira maneira de pensar e de conhecer é a demanda de Cristo.
Francesco Braschi*

O tema da busca da sabedoria, completamente central na vida monástica, declina-se todavia não tanto sob a forma de uma busca intelectual, mas no diálogo com Deus e com quem for reconhecido como mestre no caminho da perfeição cristã. Assim, o verdadeiro termo de comparação torna-se a sabedoria "segundo Cristo" ou "segundo o Evangelho", a partir das palavras fundamentais de São Paulo ( cfr. 1Cor 1,18-31) sobre este tema: «Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?... aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação... nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. Portanto, o que é tido como loucura de Deus, é mais sábio do que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte do que os homens».

Há então uma redefinição completa das categorias da sabedoria e da loucura, sintetizada eficazmente nos ditos dos Padres. Em primeiro lugar, temos o tema do conhecimento e da medida de si, compilado em frases que podem parecer opostas: «O abade Poimen tinha dito: é uma grande glória que um homem conheça a sua própria medida"»; mas foi também o mesmo abade Poimen que disse: "Prostra-te diante de Deus, não te meças e deixa para trás a tua vontade: são estes os instrumentos da alma". E ainda: "Um irmão que vivia com outros irmãos perguntou ao abade Bessarião: "O que devo fazer?'. O ancião respondeu-lhe: “Cala-te e não te meças a ti próprio"».

A aparente contradição destas máximas desfaz-se quando reconhecemos que o ponto fundamental é a renúncia à nossa própria vontade, entendida como a vontade não educada na relação contínua com Deus. De facto, é desta relação que pode brotar um verdadeiro conhecimento de si mesmo, quando se vive o caminho do seguimento: um caminho capaz de reconduzir a pessoa à unidade, a partir da busca de Cristo, tal como este dito ensina: «um irmão pergunta a um ancião: "O que devo colher na minha juventude para o reencontrar na velhice?'. O ancião respondeu: "Ou andas à procura de Cristo e pensas em ti mesmo, ou então é preciso ganhares dinheiro para não mendigares"».

Então, a verdadeira maneira de pensar em si mesmo é a busca de Cristo, em alternativa radical à preocupação angustiada com o ganho. Mas esta demanda é feita de atitudes: não caminhes com quem for pior do que tu, mas com quem é melhor do que tu e se dedica à prática. Não temas o desprezo dos homens, detesta todas as coisas que causam dano à tua alma; não descures a vontade de Deus para fazer a vontade dos homens, para que Deus esteja contigo».


*Doutor da Biblioteca Ambrosiana