A política, dimensão essencial da convivência civil
A 1 de outubro de 2017 em Cesena, o Papa Francisco ofereceu um ponto de vista sobre a política que consideramos decisivo. Uma hipótese de trabalho a verificar no encontro e no diálogo com qualquer um.A praça é um lugar emblemático, no qual as aspirações dos indivíduos se confrontam com as exigências, as expectativas e os sonhos de todos os cidadãos; onde os grupos particulares tomam consciência de que os seus desejos devem ser harmonizados com os da coletividade. Eu diria – permiti-me a imagem –: nesta praça “amassa-se” o bem comum de todos, aqui trabalha-se pelo bem comum de todos. Esta harmonização dos próprios desejos com os da comunidade realiza o bem comum. Nesta praça aprende-se que, se não perseguirmos com constância, empenho e inteligência o bem comum, nem sequer os indivíduos singularmente poderão usufruir dos seus direitos e realizar as suas nobres aspirações, porque viria a faltar o espaço ordenado e civil onde viver e trabalhar.
Por conseguinte, a centralidade da praça transmite a mensagem que é essencial, trabalhar todos juntos pelo bem comum. Esta é a base do bom governo da cidade, que a torna bonita, saudável e acolhedora, encruzilhada de iniciativas e motor de desenvolvimento sustentável e integral.
Uma política que faça crescer o empenho das pessoas
Esta praça, como todas as outras praças da Itália, relembra a necessidade, para a vida da comunidade, da boa política; não daquela subjugada às ambições individuais ou à prepotência de fações ou centros de interesses. Uma política que não seja serva nem patroa, mas amiga e colaboradora; não medrosa ou precipitada, mas responsável e, portanto, corajosa e prudente ao mesmo tempo; que faça crescer o empenho das pessoas, a sua progressiva inclusão e participação; que não exclua algumas categorias, que não saqueie e polua os recursos naturais – eles, com efeito, não são um poço sem fundo, mas um tesouro que nos foi doado por Deus para que o usemos com respeito e inteligência. Uma política que saiba harmonizar as legítimas aspirações dos indivíduos e dos grupos, segurando firmemente o leme na direção dos interesses de todos os cidadãos.
Este é o rosto autêntico da política e a sua razão de ser: um serviço inestimável para o bem da coletividade inteira. E este é o motivo pelo qual a doutrina social da Igreja a considera uma forma de caridade nobre. Portanto, convido jovens e menos jovens a preparar-se de maneira adequada e a empenhar-se pessoalmente neste âmbito, assumindo desde o início a perspetiva do bem comum e rejeitando qualquer forma, inclusive mínima, de corrupção. A corrupção é o caruncho da vocação política. A corrupção não deixa crescer a civilização.
E também o bom político tem a própria cruz quando quer ser bom, porque muitas vezes deve abandonar as suas ideias para tomar as iniciativas dos outros e harmonizá-las, uni-las, para levar em frente precisamente o bem comum. Neste sentido, o bom político acaba por ser sempre um “mártir” ao serviço, porque deixa as próprias ideias, mas não as abandona, põe-nas em discussão com todos para ir rumo ao bem comum, e isto é muito bonito.
Experimentar e agir pessoalmente em vez de observar da varanda
Desta praça convido-vos a considerar a nobreza do agir político em nome e em prol do povo, que se reconhece numa história e nos valores compartilhados e requer tranquilidade de vida e desenvolvimento ordenado. Convido-vos a exigir dos protagonistas da vida pública coerência de compromisso, preparação, retidão moral, capacidade de iniciativa, longanimidade, paciência e força de ânimo em enfrentar os desafios de hoje, sem todavia pretender uma perfeição impossível. E quando o político erra, tenha a magnanimidade de dizer: “Errei, desculpem, vamos em frente”. E isto é nobre! As vicissitudes humanas e históricas e a complexidade dos problemas não permitem resolver tudo e imediatamente. A varinha mágica não funciona em política. Um realismo sadio sabe que inclusive a melhor classe dirigente não pode resolver num instante todas as questões. Para se dar conta é suficiente experimentar e agir pessoalmente em vez de se limitar a observar e criticar da varanda o trabalho dos outros. E isto é um defeito, quando as críticas não são construtivas. Se o político errar, vá e conte-lhe, há muitos modos para o fazer: “Mas, penso que isto seria errado assim, assim...”. Através da imprensa, da rádio... Mas dizê-lo de maneira construtiva. E não olhar da varanda, observar da varanda esperando o seu fracasso. Não, isso não constrói a civilização. Desta forma, encontrar-se-á a força para assumir as responsabilidades que nos competem, compreendendo ao mesmo tempo que, mesmo com a ajuda de Deus e com a colaboração dos homens, se cometerão contudo erros. Todos erram. “Desculpem, errei. Retomo o caminho certo e sigo em frente”.
Prontos a fazer prevalecer o bem do todo sobre o de uma parte
Gostaria de dizer a vós e a todos: redescobri também hoje o valor desta dimensão essencial da convivência civil e dai a vossa contribuição, prontos a fazer prevalecer o bem do todo sobre o de uma parte; prontos a reconhecer que qualquer ideia deve ser verificada e remodelada em relação com a realidade; prontos a reconhecer que é fundamental empreender iniciativas que suscitem amplas colaborações mais do que apostar na ocupação dos lugares. Sede exigentes convosco mesmos e com os outros, sabendo que o compromisso consciencioso precedido por uma preparação idónea dará o seu fruto e fará crescer o bem e até a felicidade das pessoas. Ouvi todos, todos têm direito de fazer ouvir a sua voz, mas ouvi especialmente os jovens e os idosos. Os jovens, porque têm a força de levar em frente as coisas; e os idosos, porque têm a sabedoria da vida e a autoridade de dizer aos jovens – mesmo aos jovens políticos –: “Olha rapaz, rapariga, sobre isto estás errado, segue outro caminho, pensa nisso”. Esta relação entre idosos e jovens é um tesouro que devemos restabelecer. Hoje é a hora dos jovens? Sim, médio: é também o momento dos idosos. Hoje é a hora do diálogo na política entre os jovens e os idosos. Por favor, ide por este caminho!
Políticos que se preocupem realmente com a sociedade, com o povo e com o bem dos pobres
Por vezes nos últimos anos, a política parece deixar-se intimidar diante da agressividade e da difusão de outras formas de poder, como o financeiro e mediático. É necessário reafirmar os direitos da boa política, a sua independência, a sua idoneidade específica para servir o bem público, para agir a fim de diminuir as desigualdades, para promover com medidas concretas o bem das famílias, para fornecer um quadro sólido de direitos e deveres – equilibrar os dois – e torná-los efetivos para todos. O povo, que se reconhece num ethos e numa cultura própria, espera da boa política a defesa e o desenvolvimento harmónico deste património e das suas melhores potencialidades. Rezemos ao Senhor para que suscite bons políticos, que se preocupem realmente com a sociedade, com o povo e com o bem dos pobres.
Por Comunhão e Libertação
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