A revolução do Sentido religioso

Alejandro emprestou o livro de don Giussani ao seu pai Luis. Ele, velho comunista, apaixona-se. Agora andam os dois às voltas com A Vida de don Giussani.
Anna Leonardi

Alejandro vive em Matanzas, a 100 quilómetros de Havana. O seu pai Luís, vive em Cienfuegos, no coração de Cuba. Não se vêem com frequência. Seja de comboio ou de autocarro, a viagem dura o mesmo número de horas e é muito dispendiosa para os ordenados cubanos. Mas, para ter entre mãos a biografia de don Giussani, Su vida, o Luís organizou de propósito uma ida a casa do filho. «Na primavera do ano passado, um amigo espanhol ofereceu-me uma cópia do livro acabado de publicar», conta Alejandro, 39 anos, informático. «Quando o vi, o primeiro pensamento foi para o meu pai. Sabia que se lhe tivesse dito ele quereria lê-lo primeiro. Assim, enquanto esperava por outro exemplar, emprestei-lhe o meu».

Tinha acontecido sensivelmente o mesmo, anos antes, com O sentido religioso.
Alejandro tinha começado a trabalhar na diocese da sua cidade e ali conheceu o Bispo e pouco tempo depois pediu o baptismo e todos os sacramentos. O encontro com o livro de don Giussani aconteceu logo a seguir. Recorda-se com exactidão da data. «Era o dia 22 de Novembro de 2012, dia do aniversário da minha mulher Idelvis. Iamos festejar fora com um casal amigo. Mas devido a um problema no escritório, não consegui ir, Assim, cancelámos o jantar no restaurante e o Conrado convidou-nos a irmos a sua casa».

Ali, naquela pequena sala, ouve pela primeira vez as palavras “Comunhão e Libertação”, as pessoas com quem o Conrado tinha começado a estar em Havana. Enquanto se contam várias histórias o Conrado tira da estante um volume: «Aqui está tudo, se queres começar a perceber», diz-lhe dando-lhe O sentido religioso. A hora avançada ou as preocupações do escritório fizeram com que Alejandro se esquecesse de levar o livro deixando-o em cima do sofá.«Porém, alguns dias depois, passei por lá a recuperá-lo. Não consegui esquecer-me e, sobretudo, tinha a insistência da Idelvis».

Lê-o de uma só vez e, assim que acaba, faz dois telefonemas: um a Conrado e outro ao seu pai. «A Conrado disse que se aquele “seu” movimento tinha alguma coisa a ver com aquilo que Giussani dizia, então também eu queria fazer aquela experiência. Ao meu pai contei que tinha encontrado um livro escrito para ele». Luís pede-lhe para lhe emprestar na primeira ocasião que se apresente. É ateu mas o título do livro não é para ele impedimento. Cresceu numa família marxista e aderiu aos ideais da revolução de 59 mas nunca foi hostil à experiência religiosa. Ao contrário, Alejandro lembra-se que quando era pequeno o seu pai o acordava ao levantar da aurora e o levava a passear pelos campos. Apenas para ver as coisas com aquela luz diferente.«Foi ele que me fez sentir todo o desejo que tinha dentro de mim. Fazia-me ouvir música, falava-me da ordem do universo. As minhas perguntas iam-se multiplicando. No entanto, as suas respostas não bastavam. E ele dava-se conta disso».

Quando o Luís abre pela primeira vez o livro de Giussani tem 75 anos e bastante tempo livre. Está reformado há pouco tempo depois de uma vida a trabalhar como juíz. «Naquele período, quando telefonava aos meus pais, a minha mãe queixava-se porque o meu pai lia dia e noite aquele livro que eu lhe tinha dado e não fazia mais nada em casa», conta Alejandro. «Um mês depois percebi que tinha recomeçado a lê-lo pela terceira vez. E quando lho pedi de volta suplicou-me que o deixasse ficar com ele porque queria continuar a consultá-lo».

Ambos ficaram impressionados com o mesmo: a profunda razoabilidade da fé.
«Para mim, que estava no início da minha amizade com Jesus, ler Giussani significou descobrir que podia usar tudo da minha razão para estar cada vez mais certo da excepcionalidade que tinha encontrado no cristianismo», explica Alejandro. «E isto abriu uma brecha também nos diálogos com os meus amigos ateus, que não desistiam de tentar perceber a minha conversão». “ Exigências originais”, “abertura ao real”, “correspondência”, “liberdade” são todas palavras do caminho que Alejandro começa a partilhar com Conrado, Idelvis e mais cinco amigos, no primeiro grupo de Escola de Comunidade que se reúne pela primeira vez, em Matanzas, a 22 de Fevereiro de 2013.

Por seu lado, Luís, durante estes anos, dedicou-se ao décimo capítulo do livro: «É aquele que consulto mais vezes. Durante toda a vida pensei que a religião nascesse do medo. Giussani, ao contrário, fala do espanto, da atractividade como primeiro sentimento do homem diante das coisas. Mas este é apenas um dos muitos preconceitos que este homem consegue fazer desaparecer em mim.

Hoje é uma curiosidade idêntica a arrastar Luís na leitura da biografia. «Ainda só estou no décimo segundo capítulo. Faço muitas pausas porque é denso e quero compreender. Existe também tanta história da Igreja que só agora começo a conhecer». Mas há uma coisa que o impressiona acima de tudo, que é a mesma sobre a qual reflecte já desde o tempo do Sentido religioso: «Para mim o conceito de experiência é uma novidade absoluta. Não é um simples experimentar, mas um juízo que nasce da comparação com as exigências mais verdadeiras do coração. Lendo a sua vida percebe-se o que é que isto quis dizer para ele. Às vezes tenha a sensação de estar a seguir os passos de um gigante».