O túnel e a luz

O sociólogo Zygmunt Bauman(1) que morreu aos 91 anos tinha sido entrevistado pela Tracce em outubro. A solidão, o medo dos «os à porta», a renúncia à liberdade. O intelectual ia à raíz da insegurança existencial do nosso tempo.
Davide Perillo

«É uma luz. A única, ao fundo do túnel misteriosamente longo e escuro que estamos a atravessar. Mas é uma luz misteriosamente brilhante». Uncanny, ou “misterioso, surpreendente”, declinado na forma de advérbio. Disse-o duas vezes em duas frases, quando fala do Papa Francisco e do seu encontro em Assis, no mês passado. No encontro entre as religiões mundiais, desejado pelo Papa e organizado pela Comunidade de Santo Egídio, estava também ele: Zygmunt Bauman. «O que é que lhe disse? Seria muito presunçoso, da minha parte, pensar que tinha alguma coisa a acrescentar ao que ele já sabe sobre a situação difícil do homem de hoje, ou sobre o que significa o sofrimento para quem não faz experiência na primeira pessoa… Apenas lhe confessei que olho para ele como uma luz».

Noventa e um anos no próximo mês, judeu de origem, polaco de nascimento e cosmopolita de vocação (viveu entre Varsóvia, Londres e Telavive, antes de ganhar raízes em Leeds, Reino Unido), Bauman é um dos intelectuais mais famosos – e prolíficos – do mundo. Sociólogo e filósofo, inventor de fórmulas capazes de definir em duas palavras mudanças inteiras de época (uma acima de todas: a «sociedade líquida», ou cada vez mais pobre de relações, desgastada e indefinível), Bauman é sobretudo um grande observador. Um homem capaz de fotografar o mundo e quem o habita em detalhe, indo ao fundo, com um olhar penetrante e ao mesmo tempo cheio de empatia.

Como o olhar que lança, há algum tempo, sobre o fenómeno da imigração. Ou melhor, sobre os emigrantes, os Estranhos à nossa porta (título do seu último livro), que minam as nossas certezas e tornam-se um alvo fácil para descarregar uma insegurança surda, profunda, impossível de travar com as soluções propostas por uma política feita de muros e homens fortes. «Uma vez que a quem pede asilo da guerra e destruição esta medida será negada, e que mais emigrantes serão repatriados, tornar-se-á evidente como tudo isto é irrelevante para resolver as causas reais da incerteza», dizia ao Corriere della Sera: «Os demónios que nos perseguem – o medo de perder o nosso lugar na sociedade, a fragilidade dos marcos que alcançámos – não se evaporaram, nem desapareceram». Porque a raiz da incerteza é mais profunda. É existencial.

Partamos daqui, então. O que é esta «insegurança existencial»? De onde nasce? Da «ruptura das relações» a que se referia naquela entrevista, ou há mais alguma coisa?

Kant, o explorador mais incansável dos mistérios do modo unicamente humano de estar no mundo – de cuja sabedoria nós todos, de alguma forma, somos devedores, herdeiros entusiastas ou desesperados –, na Crítica da razão prática escreveu uma frase célebre: «Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre nova e crescente, quanto mais frequente e mais profunda é a reflexão sobre elas: o céu estrelado acima de mim, e a lei moral em mim». O “céu estrelado” indica aquilo que está para lá do alcance humano, a nossa capacidade de afrontar; e a “lei moral” indica os dilemas entre os quais os humanos estão condenados a escolher. Mas mais de um século antes destas palavras, Blaise Pascal tinha aprofundado esta angustiante e assustadora inadequação: «Quando considero a breve duração da minha vida, absorvida pela eternidade que a precede e aquela que se lhe segue, o pequeno espaço que ocupo e que vejo, abismado na infinita imensidão de espaço que ignoro e que me ignoram, assusto-me e surpreendo-me por ver-me aqui em vez de lá, agora em vez de então. Quem me pôs aqui? Por vontade de quem este lugar e este tempo me foram destinados?» Para chegar à conclusão de que: «Sendo incapazes de eliminar a morte, a miséria e a ignorância, os homens decidiram, para serem felizes, não pensar em tais coisas…». O problema é que, por mais que tentemos esforçadamente seguir esta decisão, a reflexão e o pensamento permanecem obstinadamente partes inevitáveis da nossa condição. Por isso, a “insegurança existencial” é esculpida indelevelmente no modo de estar no mundo do homem. É esse o lugar de onde vem e de onde não pode escapar.

O primeiro reflexo desta insegurança é o “medo do outro”. Explicou muito bem porque é que os “estranhos à porta” nos dão assim medo. Mas não pensa que no fundo haja também o medo de interrogar-se sobre nós próprios? O outro que bate à minha porta interpela-me inevitavelmente sobre quem sou eu, que ideia tenho da vida, das relações, daquilo que tem valor… Erguer muros é também uma forma de fugir a esta questão?

O sentimento de “insegurança” deriva de uma mistura de incerteza e ignorância: sentimo-nos humilhados porque inadequados para a nossa tarefa, e a consequência é a queda da estima e da confiança em nós mesmos. É algo que diz respeito a todos. Ora, “os outros” – em particular aqueles que classificamos como desconhecidos, estranhos ou estrangeiros – são particularmente fecundos em reforçar um sentimento deste tipo.

Porquê?

Aquilo que transforma os estrangeiros em perigos – em perigos assustadores, terríveis, até pela sua condenável impossibilidade de serem identificados – é a ausência de um conhecimento real das suas intenções e dos seus códigos de comportamento. Faltam-nos as competências que servem para os enfrentar de modo adequado e para responder às suas movimentações. Além disso, existe aquele outro factor crucial que observava primeiro. Os estrangeiros – sobretudo os migrantes, os recém-chegados – tendem a pôr em dúvida aquilo que “nós”, os nativos, somos, pelo menos no reino das opiniões (ou no saber em que acreditamos, mas sobre o qual não reflectimos…). Encorajam-nos, ou melhor, quase que nos obrigam a explicar de que modo perseguimos os objectivos da nossa vida. A dar as razões de convicções e comportamentos que para nós são óbvios, evidentes e por isso autoexplicativos. Fazendo isto, portanto, pertubam. Perturbam a nossa tranquilidade espiritual e afectam a nossa segurança, tão necessária para uma acção decisiva. A quantos de nós agrada uma situação deste tipo ?




Nas Conversas sobre Deus e o homem o senhor diz que «o momento do nascimento da incerteza foi o momento do nascimento da moralidade. E do eu moral, consciente de estar a andar sobre uma corda bamba. Condenando os homens à escolha, (…) Deus convidou-os a tomar parte na obra da criação». Não será que, diante de problemas assim tão grandes, se revela que temos medo deste “convite”? Em suma, temos medo da nossa liberdade? E se sim, porquê?

É uma velha e longa história… Talvez até mesmo uma constante, visto que as rebeliões contra a liberdade, afinal, se repetem com uma surpreendente regularidade; parece impossível, mas cada luta destemida contra a escravidão, a opressão e a restrição da liberdade, mais tarde ou mais cedo empurra inevitavelmente o pêndulo das disposições e das paixões a dar uma volta de 180 graus, incrementando o número de quantos estão prontos a aceitar – até mesmo a querer – o advento de novas “viragens de vida”. Assim as portas fechadas tendem a aumentar. É um fenómeno descrito pormenorizadamente por Erich Fromm, no seu clássico Fuga da liberdade. Hoje – pelo menos aqui no Ocidente e entre as gerações felizes que nunca experimentaram na primeira pessoa as delícias de uma vida sob o despotismo e a tirania – estamos a viver um outro virar do pêndulo semelhante, desencadeado pelos mesmos factores do passado. O facto é que a liberdade só pode chegar acompanhada pelo peso e os riscos da responsabilidade. A um número crescente de pessoas incitadas, convencidas e instigadas por um número crescente de aspirantes (e muitas vezes vencedores) caçadores de votos, como os vários Trump, Marine Le Pen, Orban ou Fico, parece um bom negócio o direito de escolha ligado à responsabilidade, demasiado pesada para estar sobre as costas de um indivíduo, com os cortes na ordem das liberdades pessoais. Quanto mais débeis são as costas de cada indivíduo, mais pesada é a responsabilidade descarregada nele com fenómenos como as privatizações e comercializações das funções sociais, patrocinadas pelo Estado e reforçadas pelos mercados. O resultado que devemos esperar é o crescimento de uma multidão de “homens e mulheres fortes” que vislumbram a oportunidade de lucros eleitorais e não esperam outra coisa além de se renderem a esta tentação.

É um risco pesado…

A verdade é que está a crescer cada vez mais o número de pessoas expostas aos riscos, às armadilhas e às emboscadas de uma vida vivida sob as regras do mercado, cuja nostalgia do “Paraíso perdido” coincide com estarem livres da escolha; mais precisamente, com o cancelamento do dever de tomar conta e de contribuir para o bem-estar do mundo e da hospitalidade dos humanos que aí habitam. Mas sonhar em seguir o exemplo de Pôncio Pilatos e lavar as mãos da batalha entre bem e mal, moralidade e indiferença, verdade e mentira, significa renunciar à dignidade humana. Ou (como nos foi ensinado por Kant e Pico della Mirandola), renunciar precisamente àquele preciso “convite de Deus”, dirigido unicamente à espécie humana, de participar nos acabamentos do acto da criação. E que, no fundo, é o motivo pelo qual foram dadas aos homens a razão, a sociabilidade e a liberdade de escolha.

O que é que pode vencer o medo?

Certamente, não os objectivos de curto prazo, os cortes e as soluções instantâneas… Sobre isto impressionou-me muito a intervenção do Papa Francisco na entrega do Prémio Carlos Magno. Depois de ter evidenciado o incremento, a assimilação e a prática quotidiana da “cultura do diálogo” como estrada principal para a coexistência pacífica dos homens – e, ao mesmo tempo, para uma gradual, mas decisiva dispersão dos medos recíprocos –, sublinhou a necessidade de introduzir a arte do diálogo a todos os níveis de educação. Obviamente, a educação é uma estratégia oposta às campanhas una tantum; está programada para ter efeitos duradouros e preferivelmente irreversíveis, tem necessidade de tempo – talvez até mesmo um tempo que se estende a mais gerações; requer muita paciência e uma firme determinação, capaz de resistir ao impacto congelante dos tropeços, erros e faltas ocasionais, inevitáveis. Além disso, é preciso notar que numa época como a nossa, marcada pelo acesso universal aos meios de informação e por uma maciça e omnipresente pressão da publicidade e “relações públicas”, a educação já não é (como sempre foi) uma actividade limitada à escola; por mais que os programas escolares sejam elaborados com cuidado, já não são os únicos a incidir na formação da mentalidade e do carácter. Que tenhamos sucesso sobre a multiplicidade dos seus concorrentes é tudo menos óbvio.

Falava do Papa, precisamente. Nos últimos tempos tem falado dele frequentemente, com admiração. Disse que para enfrentar o problema das migrações «devemos estudar e aplicar a sua análise» e «esperar que a sua palavra se encarne nas nossas acções». Porquê? O que é que o impressiona no Papa?

Penso que Francisco é o presente mais precioso que a Igreja cristã ofereceu ao nosso mundo perturbado, perdido nos seus caminhos, confuso, sem bússola e até agora à deriva. Voltou a dar vigor à esperança, até agora murcha, de um mundo alternativo e melhor, feito à medida dos seus desejos e dos sonhos do homem. Penso que é a única figura pública em cena que é movida por este desejo e que é capaz de persegui-lo. A sua voz vai muito mais longe do que o círculo incestuoso das élites políticas: chega às massas que os gerentes dos altifalantes não conseguem ou não se preocupam em alcançar, deixadas sozinhas para encontrar uma saída da sua actual incerteza.




Permite-me uma pergunta pessoal? E consigo? De onde nasce o seu olhar? Pergunto isto porque, lendo-o, me pergunto frequentemente: «Mas como é que faz para olhar para a sociedade, as coisas, o homem, com esta perspicácia? O que é que que lhe é querido?...».

Não devia fazer-me essa pergunta a mim, não creio que seja a pessoa mais adequada para fornecer uma resposta credível… A única “saída” que posso sugerir com o meu olhar sobre a sociedade é a tentativa de uma “hermenêutica sociológica”: tento interpretar as formas de comportamento do homem de modo circular, como resposta às condições de vida postas por uma sociedade que, por sua vez, o mesmo comportamento humano cria e reproduz. E tento fazê-lo, tanto quanto me é possível, com empatia: procuro observar aquelas formas da perspectiva da sua experiência, de caminhar no mundo com os seus sapatos, sem evitar os buracos ou o que quer que seja…

Em Estranhos à porta, a um certo ponto, escreve: «A única saída do desastre de hoje passa pela recusa da separação (…); temos de ir à procura de ocasiões de encontro próximo e de contacto cada vez mais aprofundado». E mais à frente aprofunda com uma expressão que me impressionou muito: explica que os muros, o populismo, em suma, todo este mecanismo de defesa do outro e do medo «parece perfeito e infalível. E sê-lo-ia verdadeiramente, se não fosse pela presença de uma força de sinal oposto: para o fenómeno do encontro» que leva a um «diálogo tendo em vista um acordo incondicionado». O que é para si este «encontro»? Porque é que é tão decisivo, tem uma «força» tal para mudar as cartas na mesa? À primeira vista parece tão pouco…

Hoje somos fornecidos de alternativas online a respeito do mundo offline; temos à disposição grandes “zonas de conforto” eletrónicas para nos proteger dos encontros, com o simples expediente de eliminar a alteridade dos outros da nossa vista, do nosso ouvido e da nossa preocupação. Mas uma comodidade deste género permanece inatingível no mundo desconexo, ou no real: no bairro, pelas ruas, no posto de trabalho, nas escolas frequentadas pelos nossos filhos. A realidade do outro, com o risco constante que comporta o encontro, o iniciar uma conversa com alguém, da conversa e da interacção, não pode ser eliminada electronicamente, nem suspensa. Deve ser tida em conta. É certo que permanece a possibilidade, como observou Martin Buber, de “desintoxicar-se” destes encontros inevitáveis degradando-os à forma emagrecida de “encontros falhados”, ou mantendo sempre aberta uma saída, sob a forma de um telemóvel na algibeira. Mas estes “encontros falhados”, quando inesperadamente se erguem ao nível dos verdadeiros encontros, exortam-nos a usar a arte do diálogo e a aceitar o caso fortuito. E fazem-nos correr o risco de pôr em prática este diálogo, livremente e de perto. Até àquela “fusão dos horizontes” de que fala Hans Gadamer, na qual a alteridade do outro se redimensiona: rasgando as tendas, desmontando as paliçadas e as barracas e destruindo os muros. É um risco que no mundo offline permanece sempre aberto e próximo.

Don Luigi Giussani, o fundador do CL, logo aos primeiros rapazes que o seguiam, nos anos cinquenta, dizia que o «diálogo é comunicar a própria vida pessoal a outras vidas pessoais: partilhar a existência dos outros na própria existência». Nada tem que ver com a dialética, em suma, mas uma oportunidade enorme. O que é que pensa? Como definir o «diálogo»?

Onde podemos ir, o que é que podemos explorar na procura de respostas a perguntas do tipo «mas eu, quem sou»? De Descartes em diante, o «cogito ergo sum» (penso, logo existo»), fez-nos olhar para dentro. Com aquela frase, Giussani – a mim parece-me em estreita afinidade com autores como George Herbert Mead – fala de uma interacção entre interno e externo, entre o “eu” (a minha auto-definição) e o “me” (a minha percepção de como os outros me definem). Até há algumas décadas atrás, a investigação sobre o nascimento e o desenvolvimento do si-próprio apontavam para uma “autenticidade” quase levada a entrar à força e imaginada secretamente no interior obscuro da psique, exposta às pressões repressivas das normas culturais e na expectativa dos esforços monitorizados pelo terapeuta para sair da prisão… Hoje, como antecipou Giussani, está a ganhar terreno a tendência de substituir o cogito convencional por qualquer coisa que se destaca claramente do egocentrismo de Descartes. Qualquer coisa que se torna cada vez mais próxima do «tu és, portanto [por isso] eu sou».

O mês passado, em Rimini, houve o Meeting: um grande evento cultural e de povo, com convidados de todo o mundo, 106 encontros, 17 exposições, oitocentos mil visitantes. O título era «Tu és um bem para mim». «Nestes tempos é um título corajoso», disse o Papa. Pela sua experiência, o que é que é preciso para voltar a dizer ao outro “tu és um bem para mim”?

Temo que serão precisas mais do que 106 mesas-redondas e bem mais do que os oitocentos mil visitantes de Rimini para que se tornem carne estas nobres palavras… O “atraso cultural” é uma das características mais evidentes da nossa condição: estamos conscientes da existência de muitos mais problemas que precisam de ser enfrentados com urgência, do que de caminhos e meios capazes de alcançar tal objectivo. Nós lutamos, infeliz e desesperadamente, com poderes largados sem rédeas e instituições que já não são capazes de os refrear: fomos deixados sozinhos a controlar a modalidade e os objectivos do seu uso.

Mas, pessoalmente, do que é que está certo?

A mim parece-me que a única certeza do Século XXI, tão enamorado pela desregulação, flexibilidade, outsourcing, é o crescimento da incerteza.

No entando, ao Corriere, dizia que chegado ao fim, quando nos dermos conta de que os muros não bastam para «expulsar os demónios», o jogo não estará fechado, aliás: «A um certo ponto poderemos despertar e desenvolver anticorpos». O que é que são estes anticorpos? De que tipo de certeza temos necessidade para viver?

Talvez de encontrar mais tarde ou mais cedo o caminho intermédio entre o deficit e o excesso de certeza... Mas tendo já ouvido muitos, dispersos no tempo e no espaço, que afirmam tê-lo encontrado, estou inclinado a duvidar que um objectivo deste género se possa realizar. Corresponderia ao fim da história.


(1) Zygmunt Bauman nasceu em Poznan (Polónia) a 19 de Novembro de 1925, de pais judeus. Aos 19 anos foge da ocupação alemã e acaba por alistar-se entre os russos. Depois da guerra, estuda sociologia em Varsóvia. Depois na London School of Economics. Aproxima-se do marxismo. Ensina na Polónia, em 1968 é expatriado para Israel, três anos depois vai definitivamente para o Reino Unido onde, de 1972 a 1990, ensina em Leeds. Entre as suas obras destacam-se Liberdade (1988), Ética pós-moderna (1992), Modernidade líquida (2000), A sociedade sitiada (2002), Vidas desperdiçadas (2003), Conversas sobre Deus e o homem (2013), Babel (2015). A última publicada em italiano, Estranhos à nossa porta (106 pp, 14 euros), é editada pela Laterza.