O Nada é vencido pela consciência da pertença

Um testemunho sobre o serviço do coro
Maria, Lisboa

Enquanto o António não está, foi-me pedida a responsabilidade de dirigir o Coro do Movimento. Desde o princípio que tenho tido imenso medo de não ser capaz, e por isso estou muito grata – sobretudo porque me faz dar conta de ser objetivamente necessitada! E isto, de repente, nesta responsabilidade concreta, tem sido de uma grande ajuda a educar-me numa posição mais autêntica e mais clara, a deixar cair os "muros" que a auto-suficiência tantas vezes provoca.
Em especial, nestes últimos tempos, sobretudo com a partida inesperada do Pedro Aguiar Pinto, mas também a preparação e o início de ano, têm "enchido" mais o meu tempo de canto, quase inesperadamente.

Quando retomámos os ensaios do coro – para que começar o coro não fosse automático ou mecânico – enviei o texto a que se chamou: "A máxima expressão". D. Giussani fala do canto como expressão da nossa pertença, e à pergunta sobre porque é que se canta mal no movimento, não se furta e aponta a consciência com que é vivida a pertença e o seguimento.
Estava (e tenho estado) mesmo provocada com tudo isto, sobretudo com a utilidade do coro – utilidade para o mundo, para o momento que vivemos, para a minha vida.
Nestes últimos tempos, tão cheios de canto e da beleza do canto, percebi que, neste nosso mundo tão doente, o "nada" começa-se a vencer com a consciência desta pertença, mesmo que não houvesse qualquer outro “eco” disto na realidade ou que mais ninguém desse por isso.

Por isso, percebi o que D. Giussani disse, em 1997, que, quando os sarracenos vierem, os venceremos com o nosso canto, é verdade! Não os venceremos por cantarmos maravilhosamente (até pode não acontecer sempre), a beleza não salvará o mundo sentimentalmente – não havemos de “anestesiar” com os nossos cantos, ou embalar com eles… - mas vão saber que pertencemos. A vitória é porque somos Seus. E isso não é estar à altura, ou cantar tudo maravilhosamente, mas uma consciência de si que é já vencedora em mim, define-me (mesmo antes de eu o saber fazer).

Esta descoberta tem sido para mim uma ajuda grande a viver com gratidão a responsabilidade que me foi pedida, e sobretudo a ter a mesma gratidão com a minha vida, assim como é, em que esta pertença me resgata constantemente.