O regresso de Daniel

A história do superior do convento. De filho de boas famílias às rapinas à mão armada. Até àquelas palavras...
Maurizio Vitali

Daniel Marie, francês, é filho de boas famílias burguesas. Na juventude adere à Liga Comunista Revolucionária («tinha raízes cristãs, amava verdadeiramente os outros e queria a justiça»); Jesus acaba por parecer-lhe abstracto. Panfletagens, manifestações, bares e bastões; os companheiros para a militância, as companheiras para o sexo: este era o concreto quotidiano. Começa a fumar haxixe. O frik obtém o dinheiro assaltando bancos à mão armada.

Procurado pela polícia foge para Itália. Não tem mais nada. Em Génova as noites no banco dum parque: «O Espírito Santo suscitou-me um pensamento luminoso: Daniel, agora estás só. Percebi que todas as mensagens da sociedade de consumo se tinham dissolvido: status, dinheiro, mulheres, amigos… E agora o que posso fazer de mim? Aquilo foi o início da libertação». Mirabilia. «Em Florença dormia na rua em cartões e pensei no suicídio. Estou vivo pelo facto de ter podido dizê-lo a alguém: o meu pai». Mirabilia, de novo. Em Milão, vende artigos falsos porta a porta. «Os italianos sabiam que era contrafação, mas compravam na mesma. Assim salvaram-me a vida, porque implicitamente diziam: tu existes!»

A reviravolta acontece-lhe um dia, na Umbria. «Daniel – disse de mim para mim – falta-te tudo. Mas na casa do teu pai tinhas tudo o que te falta». «Dei com as palavras do Filho Pródigo nos meus lábios, mas da parábola, na altura, nem me lembrava. E o Pai respondeu-me: “Daniel, queres um trabalho? Vai ali”».

“Ali” é a casa dum cultivador de tabaco, que lhe dá alojamento e emprego. «Aquela casa era providência. Para mim Deus era aquela casa. O Espírito porém sugeriu-me uma palavra: Eterno. Abri a Bíblia ao acaso. Li. “Eu sou o caminho, a verdade, a vida. Eu sou. Eis a resposta que eu esperava daquele Eterno. Depois de dez anos voltei à missa. O ambiente era desolador, mas para mim foi a Missa mais bela».

Algum tempo depois vem ao Daniel o desejo de «fazer uma experiência mística com frades». Um amigo mata-padres e especialista em ocultismo, chocado, dá-lhe o telefone de certos monges peritos em grafologia. Deste primeiro encontro até à escolha de se tornar frade haveria ainda coisas a contar. Bastam dois apontamentos. O primeiro: «Vi que os frades no fim das contas eram homens, homens como eu, homens normais!». E então? «Senti que a companhia com eles era o que procurava».