COMO POSSO NÃO SER CÚMPLICE?

Os cristãos são perseguidos, mortos, martirizados. Estas notícias que nos chegam criam-nos mal-estar, causando-nos angústia.
Alessandro Banfi*

«Em Ti, amor divino, vemos ainda hoje os nossos irmãos perseguidos, decapitados e crucificados por causa da sua fé em Ti, sob os nossos olhos e frequentemente com o nosso silêncio cúmplice». O Papa Francisco começou a usar esta expressão na Via Sacra de Sexta-Feira Santa no Coliseu. E desde então tornou a falar muitas vezes da indiferença, da nossa falta de vontade de pensar neles, de não sentirmos estes factos como próximos de nós...

Certamente que os discursos do Papa contêm frases importantes para os sistemas políticos e diplomáticos, para as organizações internacionais, para as Chancelarias. A mensagem ao mundo é clara: não ficar indiferentes a terríveis actos de guerra e de morte, que negam a liberdade religiosa. Denunciar, com força pacífica e determinação não politicamente correcta, que os cristãos são mortos por causa da sua fé. Hoje. Perto de nós.

Mas a mim, à minha pessoa, ao meu silêncio embaraçado, o que diz a frase do Papa? Que significa não ficar calado, não ser cúmplice?

Para o director de um canal de notícias de televisão – all news, como se diz – é uma questão que afecta os planos e as decisões de cada minuto. Uma responsabilidade acrescida, uma operação de verdade.
Mas é uma pergunta em aberto, ainda sem resposta. E percebo que também isto conta: estar na vertigem deste apelo.

No entanto, há outra frase que o Papa Francisco disse, nos repetidos discursos sobre os mártires cristãos destas semanas angustiantes, que denota uma perspectiva. Com efeito, referindo-se aos nossos irmãos perseguidos e mortos por causa da sua fé, disse, dirigindo-se ao Senhor: «Eles não se envergonham da Tua cruz». La Igreja que abandona a humanidade é aquela que se envergonha de Cristo, diz don Giussani na última entrevista televisiva.

Foi sempre assim, desde que começou esta história, desde Pedro naquele pátio de Jerusalém, na noite da Paixão... Hoje, como então, no fundo do mal-estar, da vergonha, da traição, está o pranto e a possibilidade de Perdão. Não me resolve o problema das opções a tomar, de como falar da tragédia dos cristãos. Mas ajuda-me a viver aquela vertigem. E a senti-los perto de mim.

*Director do canal de notícias Tgcom24