UM OLHAR REDIMIDO

Aquelas palavras marcaram-nos muito. Tanto que, passados meses, ainda as trazemos no coração. Foi no verão passado...

Aquelas palavras marcaram-nos muito. Tanto que, passados meses, ainda as trazemos no coração. Foi no verão passado. Tinha-se dado pouco antes a invasão de Mossul e a caça aos cristãos, o ISIS avançava por todo o lado. O encontro de abertura do Meeting era dedicado o Médio Oriente, e o convidado era o Padre Pierbattista Pizzaballa, Guardião da Terra Santa. Logo nas primeiras frases abria uma perspectiva nova. Para uma leitura autêntica dos factos, dissera, mais do que a análise política e histórica é preciso «um olhar religioso: elevado, amplo, livre de medos e de complexos», olhar de quem «não só confia nas suas próprias capacidades operativas, mas também confia, entrega a vida a Outro». Numa palavra, «um olhar redimido».

Nove meses depois, a situação tornou-se ainda mais dramática. No Médio Oriente assediado pela jihad, na Nigéria ferida pelo Boko Haram, no Quénia atacado pelos Shabaab somalis, no Paquistão martirizado pela lei da Blasfémia e em tantas outras partes do mundo, a perseguição contra os cristãos aumenta. A Igreja, como continuamente nos recorda o Papa Francisco, é cada vez mais uma «Igreja de mártires», de homens e mulheres «vítimas de perseguições e violência unicamente por causa da fé que professam».

A par e dentro das iniciativas que se estão a tomar a todos os níveis para limitar este sofrimento, para defender os direitos fundamentais dos cristãos e das outras minorias, perseguidas como eles, aquele juízo do Padre Pizzaballa impressiona ainda mais, faz-se ainda mais urgente. É preciso um olhar redimido. Mas o que é que o origina? Donde nasce?

No fim de Abril, em Rimini, realizaram-se os Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação. Começaram com este manifesto: «Estamos ainda imersos na luz da noite de Páscoa», ou seja, a «luz que Jesus ressuscitado introduziu para sempre na história. É à luz deste facto que a Igreja olha para todas as coisas. Porque é só quando aparece definitivamente a luz da Ressurreição de Jesus que podemos compreender o que não conseguiríamos compreender sem ela: o significado último de tudo. (...) Na luz da Ressurreição podemos encarar de frente a pergunta mais urgente do homem: vale realmente a pena ter nascido?».
É este o juízo sobre a História, sobre todos os meandros da História, mesmo os mais dolorosos. É a luz da Ressurreição, é a presença de Cristo agora e em todos os agoras da História, que redime o olhar. Liberta-o, fá-lo capaz de olhar tudo com uma perspectiva e uma profundidade que o homem, por si só, não possui. Mas que nos cristãos perseguidos se encontra constantemente. Experimentem ler os testemunhos do Padre Douglas, dos refugiados de Erbil, dos jovens do Quénia, que se encontram nestas páginas. Ou os milhares de outros que nos chegam desta Igreja martirizada. Há dor, sangue, padecimento. Mas a morte não vence.

É este olhar que queremos aprender. E são estes homens e mulheres que queremos defender, por todos os meios possíveis. Pedindo ao mundo que não fique indiferente, como diz o Papa. Esforçando-nos, no que pudermos, em ajudá-los. E rezando por eles, como faremos na Vigília de Pentecostes em Itália e no resto do mundo. «Um grande gesto de súplica a Deus e de proximidade com estes nossos irmãos e irmãs», diz o comunicado da Conferência Episcopal Italiana que a convocou. Irmãos que, em virtude deste olhar redimido, podem «dar testemunho do amor pagando com a vida». E testemunhas cujo sacrifício «não pode passar em silêncio, porque constitui para todos uma razão de encorajamento ao bem e de resistência ao mal». Traz ao mundo uma luz: a luz da Ressurreição.