Pais mais adolescentes do que os seus filhos
Muitos adultos são mais adolescentes que os seus filhos e não sabem como dialogar. A vertiginosa quantidade de informação a que os jovens têm hoje acesso, cria divisões entre pais e filhos, entre professores e alunos… Situação que preocupa a Santa SéMuitos adultos são mais adolescentes que os seus filhos e não sabem como dialogar! Além disso, a vertiginosa quantidade de informação a que os jovens têm hoje acesso, cria divisões entre pais e filhos, entre professores e alunos… Situação que preocupa a Santa Sé. Mons. Angelo Zani é o nº2 do Vaticano para assuntos relacionados com a educação católica, esteve em Portugal e falou para a RR.
Fundamental, diz este especialista, é aprofundar a identidade católica, porque os tempos que correm são preocupantes: “Estamos hoje perante uma grande urgência educativa, marcada pela ditadura do relativismo, pelo problema que resulta do confronto com os valores fundamentais que estão na base de um processo educativo”. Neste contexto cultural, Mons. Zani salienta três elementos que caracterizam hoje a urgência educativa.
Pais mais adolescentes do que os filhos
O primeiro elemento tem a ver com as dificuldades de relação entre pais e filhos, mais difícil ainda para os pais do que para os filhos: “A primeira geração tem dificuldades em relacionar-se com a segunda geração. O problema toca a questão da autoridade e a questão da liberdade - dois elementos fundamentais no processo educativo. Só que o maior problema está nos adultos e não nos jovens. Os jovens são muito mais abertos enquanto os adultos não sabem como tratar esta nova exigência dos jovens. Por isso, há desconforto entre os adultos.” O secretário da Congregação para a Educação Católica recorda que “muitos especialistas definem a cultura e sociedade de hoje como uma sociedade “adolescêntrica”, ou seja, os adultos sentem desconforto na relação com os filhos, vivem num estado de adolescência, são incertos, inseguros, não sabem que cultura transmitir aos outros, nem que valores característicos da sua formação podem ser úteis aos jovens de hoje; não sabem relacionar-se.”
Então, o que fazer? Como educar as novas gerações?
Mons. Zani considera fundamental mudar de perspectiva e “passar do ensinamento à aprendizagem, ou seja, do que era o mestre para pôr no centro a pessoa do outro. Este é que deveria ser o método cristão de ensinar: passar do ser autoritário ao ter autoridade, quer dizer, dar testemunho. É a forma de superar a divisão entre gerações.
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Não basta haver regras contra o “boom” informático
Perante a revolução informática, cada vez mais articulada e penetrante na vida e mentalidade de todos, Mons. Zani reconhece que há “muitos professores e formadores incomodados porque os miúdos têm instrumentos com maior capacidade para obter, conhecer ou pescar informações, comparada com a que deviam adquirir nas aulas.”
O Vaticano diz que é preciso reflectir e adverte que, “do ponto de vista educativo, não basta haver regras para educar hoje. Tendo em conta a velocidade com que mudam as relações interpessoais e o próprio modo de pensar, é preciso ir mais a fundo nos critérios de ensino, para que os alunos saibam discernir”.
O grande especialista em processos cognoscitivos, Edgar Morin, escreveu um livro intitulado “A cabeça bem arrumada”. Diz que não basta uma cabeça cheia de informações, é preciso uma cabeça bem organizada. “Este é o ponto, sublinha Mons. Zani, não basta informação, informação, informação; encher, encher, encher, para se ficar na confusão e não saber o que escolher. É preciso organizar, criar uma hierarquia dos conhecimentos que adquiro”.
Identidade católica e falta de coragem
Há ainda um terceiro elemento que preocupa a Santa Sé, relacionado com a globalização, o confronto entre culturas e os conflitos que daí resultam. “O problema intercultural levanta a questão da identidade e da solidariedade. É este o grande desafio que hoje a educação deve enfrentar”, diz Mons. Zani. “Nas 210 mil escolas católicas que temos em todo o mundo, frequentadas por 59 milhões de estudantes, em que mais de 50% não são cristãos, nem católicos, em que há muçulmanos que vão à escola católica, porque é que lá vão, se não encontram esta novidade? Muitas vezes, o problema é nosso, porque não somos capazes de o transmitir, não elaboramos dinâmicas processuais educativas marcadas por uma visão cristã e adequamo-nos a teorias obtidas de um lado e do outro e não temos coragem de ir até ao fundo da nossa identidade”, conclui o responsável do Vaticano para a Educação Católica.
*Jornalista da Rádio Renascença