OS IRMÃOS SCOTTE O INÍCIO DA NOSSA VIAGEM

Confesso que copiei. Há tempos o meu filho, um daqueles que está “sempre ligado”, tinha-me falado no Life in a Day, noventa minutos produzidos pelos irmãos Scott...
Roberto Fontolan*

Confesso que copiei. Há tempos o meu filho, um daqueles que está “sempre ligado”, tinha-me falado no Life in a Day, noventa minutos produzidos pelos irmãos Scott (de Blade Runner a Black Hawk Down, não sei se estão a perceber) baseados em milhares de contributos vídeo enviados do mundo inteiro. Um maravilhoso documentário, um convite a apreciar o espectáculo prodigioso do humano (um humano “puro”) traduzido na sua unicidade e irrepetibilidade: quando coze ovos e quando se casa, quando chora uma morte e quando se afadiga, quando rejubila e quando se interroga, como a rapariga que aparece no final: «Estive à altura da expectativa que tinha para este dia?». A vida num dia conquistou-me por causa da poesia e da imediatez que jamais teriam sido alcançadas com o tradicional estilo do documentário de autor.
Uns tempos mais tarde, falando com Monica Maggioni e Dario Curatolo do “doc” sobre o movimento, questionámo-nos sobre a forma de reproduzir certos momentos, como “fazer viver” a Escola de Comunidade ou a caritativa. Parece-nos bem a ideia dos irmãos Scott («falem vocês!») e pusemo-nos humildemente a seguir as suas pegadas. Da Monica e do Dario tinha gostado de alguns documentários “cinematográficos”: não apenas a reportagem jornalística da actualidade, mas a dimensão de narração “tipo filme”, de construção arquitectónica de histórias e personagens em combinação com invulgares soluções de filmagem e montagem. Foi assim que pensei neles. Queria que a mostra do movimento hoje brotasse daquele olhar.
A Monica já conheço há muito tempo: o primeiro trabalho que dela recordo é uma reportagem para a Tv7 a bordo de um autocarro desengonçado que conduzia imigrados de Marrocos para Milão; do Dario, depois de termos falado longamente sobre as aventuras de don Giussani iniciadas no Berchet, descobri as multiformes habilitações: arquitecto, designer, fotógrafo. O melhor é que com a Monica e o Dario “recebes” também a mais-valia dos seus colaboradores-amigos: operadores de câmara e de montagem, pessoas com uma sensibilidade e um toque realmente raros. E assim, com este grupo de trabalho, a estrada tornou-se bela.
Recebemos 603 filmes provenientes de 43 países. Apesar das nossas recomendações (modalidade, temas e duração), chegou-nos de tudo e de mais. Mas foi melhor assim, a experiência resultou bem e vieram-nos à cabeça outras ideias. Há muitas histórias fantásticas de que só pudemos usar fragmentos mas merecem ser conhecidas em toda a sua amplitude. E isto é válido também para dezenas e dezenas de testemunhos e obras. Veremos se vamos conseguir pôr em andamento um novo projecto...
Depois viajámos de um lado para outro: para rodar as histórias e a entrevista com Julián Carrón, acrescentando intervenções de alguns grandes amigos (o professor Weiler e companhia). Dario deixou o coração em Kampala, na Luigi Giussani High School, e os olhos em São Paulo, à força de fotografar ruas, caras e favelas. Aqui notámos que um dos elementos mais característicos da arquitectura espontânea nos terrenos da Associação zerbiniana são os balaústres de varandas e terraços. Em centenas e centenas de casas não há duas iguais – uma clara demonstração do poder da imaginação humana. Em Nova Iorque eu gostei especialmente do coro (no filme há uns vestígios). Monica defendeu com determinação a opção espanhola para realizar os diálogos com Carrón: queria um determinado céu e determinadas cores e teve-os.
Simplicidade, humanidade, universalidade: eram as características narrativas que desejava para este filme. Uma estética da vida do movimento, toda ela drama e beleza.

*Responsável do Centro Internacional de CL