A calúnia mata

L’Osservatore Romano

A calúnia destrói a obra de Deus, porque nasce do ódio. Ela é filha do «pai da mentira» e quer aniquilar o homem, afastando-o de Deus. A calúnia é uma brisa, cantava Basílio no «Barbeiro de Sevilha»; para o Papa Francisco, ela é um vendaval, disse na manhã de 15 de Abril, durante a habitual missa, celebrada na capela da Domus Sanctae Marthae. Estavam presentes os empregados e responsáveis dos Serviços telefónicos e do Serviço da internet do Governatorado do Estado da Cidade do Vaticano, guiados pelo pe. Fernando Vérgez Alzaga, director das Telecomunicações do Governatorado (que concelebrou), e alguns familiares do cardeal argentino Eduardo Francisco Pironio, falecido em 1998.

A calúnia é tão antiga quanto o mundo e encontram-se referências à mesma já no Antigo Testamento. É suficiente pensar no episódio da rainha Jezabel com a vinha de Nabot, ou naquele de Susana com os dois juízes. Quando não se conseguia obter algo «por um caminho recto, uma vereda santa», recorria-se à calúnia, que destrói. «Isto faz-nos pensar — comentou o Papa — que todos nós somos pecadores: todos nós pecamos, mas a calúnia é outra coisa». É um pecado, mas é algo mais, porque «quer destruir a obra de Deus e nasce de algo muito negativo: deriva do ódio. E quem promove o ódio é Satanás». Mentira e calúnia caminham juntas, porque uma precisa da outra para progredir. E sem dúvida, acrescentou o Pontífice, «onde há calúnia está Satanás, precisamente ele». Depois, o Papa Francisco referiu-se ao Salmo 118 da liturgia do dia, para explicar o estado de espírito do justo que é caluniado: «Mesmo que os príncipes conspirem contra mim, o vosso servo meditará as vossas leis. Os vossos preceitos são as minhas delícias». Neste caso, o justo é Estêvão, o protomártir, ao qual se referia a primeira leitura, tirada dos Actos dos Apóstolos. Estêvão «contempla o Senhor e obedece à lei». Ele é o primeiro de uma longa série de testemunhas de Cristo, que constelaram a História da Igreja. Não apenas no passado, mas também nos nossos dias existem muitos mártires. «Aqui em Roma — acrescentou o Santo Padre — temos numerosos testemunhos de mártires, a começar por Pedro. Mas o tempo dos mártires não terminou: ainda hoje podemos dizer, verdadeiramente, que a Igreja tem mais mártires do que nos primeiros séculos».

Com efeito, na Igreja «há muitos homens e mulheres que são caluniados, perseguidos e assassinados por ódio a Jesus, por ódio à fé». Alguns são mortos porque «ensinam o catecismo»; outros, porque «carregam a cruz». A calúnia encontra espaço em muitos países, onde os cristãos são perseguidos. «Eles são nossos irmãos e irmãs — sublinhou o Papa — que hoje sofrem, neste tempo de mártires. Temos que pensar nisto».

Depois, o Pontífice observou que a nossa época está caracterizada por «mais mártires do que nos primeiros séculos. Perseguidos por causa do ódio: é precisamente o diabo que semeia o ódio naqueles que fomentam as perseguições».

Falando ainda de santo Estêvão, o Papa recordou que ele era um dos diáconos ordenados pelos apóstolos. «Mostrava-se cheio de graça e de poder — afirmou — e realizava grandes prodígios e sinais no meio do povo, propagando o Evangelho. Então, alguns começaram a debater com ele sobre Jesus: se Jesus era o Messias ou não». Mas aquele debate tornou-se impetuoso, e quantos «discutiam com ele não conseguiam resistir ao seu poder, à sua sabedoria e à sua ciência». Que fizeram? Interrogou-se o Papa. Em vez de lhe pedir explicações, passaram à calúnia para o destruir. «Dado que não funcionava o confronto recto — disse — o debate entre homens bons, passaram à luta incorrecta: a calúnia». Encontraram falsas testemunhas, que disseram: «Este homem não cessa de falar contra este lugar, contra a Lei de Moisés, contra este, contra aquele». Já tinham feito a mesma coisa com Jesus.

Na nossa época caracterizada por «tantas turbulências espirituais», o Papa convidou a meditar sobre um ícone medieval da Virgem, Nossa Senhora, que «com o seu manto cobre o povo de Deus». Também a primeira antífona latina da Virgem Maria é Sub tuum presidium. «Nós rezamos a Nossa Senhora para que nos proteja — afirmou — e nos momentos de turbulência espiritual o lugar mais seguro é sob o manto de Nossa Senhora». Com efeito, é a mãe que cuida da Igreja. E nesta época de mártires, ela é um pouco a protagonista da tutela: é a mãe».

Enfim, o Papa exortou a ter confiança em Maria, a dirigir-lhe a oração que começa com as palavras «Sob a tua protecção» e a recordar o antigo ícone onde, «com o seu manto cobre o seu povo: é a mãe». É a coisa mais útil neste tempo de «ódio, em períodos de perseguição e de turbulência espiritual», porque — concluiu — «o lugar mais seguro é sob o manto de Nossa Senhora».

Fonte: www.news.va/pt/