Sementes de bem e de esperança

A intervenção de Davide Prosperi no encontro “agenda para a paz 2025”, que teve lugar em Roma, dia 20 de janeiro de 2025
Davide Prosperi

Saúdo todos os participantes e agradeço aos organizadores o convite para participar nesta valiosa oportunidade de debate, à qual ofereço de bom grado o meu contributo.
Peço desculpa por não ter podido estar com vocês, como gostaria, mas compromissos anteriormente assumidos impossibilitaram-me de ir a Roma.

O Papa Francisco, no encontro com Comunhão e Libertação em Roma, em 2022, tinha-nos pedido que o acompanhássemos na sua «profecia pela paz»1. O que nos impressionou foi a expressão utilizada: “profeta”, com efeito, não é apenas aquele que anuncia o futuro, mas sobretudo aquele que sabe ler no presente os sinais da intervenção com que Deus começa a realizar aquilo que nós não podemos. Isto pode ser visto naqueles que, podendo fugir das zonas de conflito, não o fazem e ficam lá para ajudar. Ou pensemos, sobretudo, na semente de esperança para a paz futura que a trégua assinada há poucos dias pode ser!

Creio que nós somos chamados a olhar e a mostrar estas «sementes de bem» que Deus «continua a espalhar na humanidade»2, para usar as palavras do Papa Francisco, porque elas mostram «percursos de esperança» ao longo dos quais o Santo Padre nos convida a caminhar. 3 A verdadeira paz, com efeito, só pode nascer do perdão, da disponibilidade para reconhecer o outro e percorrer com ele um trecho de caminho. Isto não pode ser adiado para uma fase posterior, para a resolução capilar de todos os elementos da discórdia, de eliminação de qualquer “mácula” na memória. Temos de ser realistas: se assim for, o momento da paz nunca chegará! Por isso, é importante reconhecer que «tornar Deus presente é um bem para as nossas sociedades»4, como nos diz o Papa, porque «sem uma abertura ao Pai de todos, não pode haver razões sólidas e estáveis»5 para nos reconhecermos «fratelli tutti» e, portanto, para procurarmos com assiduidade o percurso de encontro, acolhimento e colaboração. Digo isto também diante dos muitos problemas que o tema da imigração nos coloca atualmente, em especial num país como a Itália.

Ora, a mim parece-me que é precisamente nisto que consiste o papel que, historicamente, a Europa assumiu: garantir um espaço de liberdade real no seio do qual se pode «tornar Deus presente», ou seja, dentro do qual seja possível contribuir para a construção da sociedade a partir da nossa experiência religiosa. Não é por acaso que foi no leito da cristandade que esta ideia de liberdade se desenvolveu, apesar dos inevitáveis altos e baixos da história, fazendo da Europa um ponto de referência positivo de desenvolvimento cultural, social, e depois também económico, para todo o mundo.

Por isso, embora dando-me conta das muitas urgências humanitárias e políticas que a União Europeia tem de enfrentar fora das suas fronteiras, torna-se urgente para mim, neste contexto, chamar a atenção também para a importância de que cada iniciativa preveja, acima de tudo, o objetivo de garantir a liberdade religiosa, enquanto fundamento imprescindível para a paz. Uma liberdade pela qual somos todos responsáveis, não apenas aqueles que trabalham nas instituições, e que não significa renunciar à nossa identidade, mas, pelo contrário, criar um contexto plural e inclusivo que permita a sua expressão.
Obrigado pela atenção.


1 Discurso do Santo Padre Francisco aos membros de Comunhão e Libertação, Praça de São Pedro, sábado 15 de outubro de 2022.
2 Papa Francisco, Carta encíclica Fratelli tutti (3 de outubro de 2020), 54.
3 Ibidem, 54-55.
4 Ibidem, 274.
5 Ibidem, 272.