Gravura com vários animais decalcados uns em cima dos outros, uma das mais conhecidas do Vale do Côa

A Arte rupestre do Vale do Côa e a nossa quarentena

Durante esta pandemia, surgiu uma proposta muito bonita nos CLU: “O que tem a ver com as estrelas?”
Teresa Quintella

Todas as semanas, às sextas, quem quiser partilha algo que o fascine! E o que eu levei para apresentar vem do princípio da história do Homem: A arte rupestre do Vale do Côa. E é isso que eu trago também hoje aqui.
No passado verão, fui com a minha família visitar o Vale do Côa. O Vale do Côa tem o maior conjunto do mundo de gravuras paleolíticas ao ar livre. Estas encontram-se nos dois lados do rio que corta este vale, o rio Côa. Este conjunto de gravuras foi constituído património mundial em 1998, e é de momento um local de turismo bastante intenso.

As gravuras são, na sua maior parte, representações de animais, como cavalos e auroques (um ancestral dos bovinos) e, raramente, caprinos e cervídeos.
Existe também uma única representação humana clara. As técnicas mais utilizadas para as criar são as de picotagem e de abrasão.

Há várias teorias que tentam explicar o porquê destas gravuras. Duas delas chamaram-me especialmente a atenção. Uma defende que serviam para comunicação. A outra afirma que, dada a existência de arte semelhante noutros países, poderiam servir apenas para a troca de ideias artísticas, como qualquer corrente artística moderna.
Gostei especialmente do facto de estas teorias tocarem nestes dois pontos: comunicação e arte. No entanto, nenhuma delas se aventura a aprofundar aquilo que me parece mais impressionante nestas pinturas. Realmente, parece que desde o princípio dos tempos, o Homem tem esta necessidade
intrínseca de comunicar, de criar relação, de partilhar a Beleza daquilo que vê
!

Que vontade é esta de gravar na pedra algo que fica? Ainda para mais, este ato é verdadeiramente gratuito, porque sendo nómadas, estas comunidades não ficariam lá para apreciar a sua criação. As gravuras ficam para qualquer um outro que por lá possa passar.

O facto de estes homens criarem arte é já prova da sua humanidade. Ao verem Beleza, deixam-se encontrar por ela de forma tão totalizante que se torna uma forma diferente de viver e conceber a vida. É espantoso que queiram pintar o movimento, decalcar as figuras umas em cima das outras. Ainda para mais, alguns defendem que estas gravuras eram formas de expressar rituais religiosos. Então, desde sempre que a arte se relaciona com o Divino!
Estes homens tinham um sentido religioso.
E é exatamente isto que temos feito também nós nesta quarentena. Não podemos estar uns com os outros, mas queremos fazer companhia uns aos outros. Tivemos de viver a companhia de uma forma diferente, nova. Não queremos deixar de partilhar com os outros aquilo que encontramos de belo no nosso dia-a-dia. E esta vontade de estar com o outro, (que me fala de Outro), seja de que meio for, arranca-nos do nada.


Uma curiosidade: foi descoberta recentemente, uma das maiores gravuras já vistas no Parque do Côa.
Aconselho a irem ver a notícia