«Eis que faço novas todas as coisas»

A descoberta experimentada perante a morte ou o inesperado. As cartas de dois estudantes universitários a partir dos Exercícios Espirituais do Clu

Gostaria de contar como é que o significado da frase: «Eis que faço novas todas as coisas», escolhida como título dos Exercícios Espirituais dos universitários, se tornou para mim uma experiência carnal.
Por uma série de circunstâncias imprevistas, dei por mim a cuidar da irmã do meu pai, que adoeceu com covid e morreu inesperadamente poucas horas depois de ter dado entrada no hospital.
Estar à sua cabeceira foi uma experiência forte: não tanto pela visão dum corpo que lentamente deixava de responder ao tratamento e se abandonava, não apenas pela dor da sua perda, que permanece, mas pela serenidade impensável que invadiu o meu coração naquele momento. Eu própria fiquei espantada, quase a perguntar-me: mas como é que a dor não vence? A tristeza não reina?
Diante da minha tia, já quase inconsciente, dei por mim a fazer o sinal da cruz, a rezar e a cantar algumas canções da nossa história: La festa sta per cominciare (a Festa vai começar) e La strada (A Estrada). Lá fora, as enfermeiras devem ter pensado que eu estava louca: sozinha, equipada para o covid, a cantar para uma mulher moribunda.
Eu não estava a ser dominada pela emoção! Para mim, que nem sequer cresci na história do movimento, era profundamente verdade naquele momento - e continua a ser verdade agora - que «Deus é verdadeiramente grande, é grande esta nossa vida», como diz a canção de Chieffo. Não por loucura, mas porque eu tinha a certeza - uma certeza granítica que ainda hoje sinto em mim - de que ela estava no caminho que a levava a casa. Onde Deus a esperava.
Mesmo nos dias que se seguiram e no seu funeral, olhando para a minha família, a confiança de que estávamos perante o momento do encontro com o Senhor nunca diminuiu. Estou certa de que tudo isto não se deveu a uma capacidade da minha parte, porque continuo a ter um grande temor da morte, mas que esta serenidade interior é uma graça que me foi concedida na história de pertencer a esta companhia, onde tantos rostos me testemunham continuamente e sem cessar que a morte existe e é um facto doloroso, mas que há alguém que a vence: Cristo.
A letícia inesperada daqueles dias pareceu-me ser a carícia de Deus que me dizia: sou eu, Cristo, que te faço nova. Eu faço novas todas as coisas, mesmo aquela mais misteriosamente distante do teu coração, do coração do homem: a morte.
Que beleza seria poder olhar sempre assim para a vida, com a consciência de que tudo se faz novo. É este o desejo que encontro no meu coração e que se transforma numa oração quotidiana: «Não me tires as dificuldades, mas torna-me atenta aos sinais da tua Presença e faz com que o meu dia seja novo».
Aurora Sironi

Estou no último ano da universidade e, dois dias antes dos Exercícios Espirituais, recebi um telefonema do hospital a dizer-me que a minha operação ao pulso, que já estava marcada, tinha sido marcada para sábado. Passei a tarde a tentar mudar a data da operação e, depois de tentativas inúteis por telefone, fui pessoalmente ao hospital na manhã seguinte. Tudo em vão, tendo em conta o facto de a operação não poder ser adiada por muitos dias.
A realidade dos factos tornou-se muito clara para mim: não podia ir a Rimini. Isso fez-me sofrer e angustiar. O desejo e a curiosidade de participar nos meus últimos Exercícios cresciam de dia para dia.
Mas não queria que aqueles dias, em que não estava convosco e com a minha comunidade, fossem reduzidos; pelo contrário, queria reconhecer Jesus e dizer sim ao que ele me pedia naquela circunstância. Dei por mim a pensar: «Eu digo sim, Senhor, mas Tu mostra-me que vale a pena, mostra-Te e fica comigo». Por isso, rezei para que aqueles dias fossem para mim e para todos os que participavam uma oportunidade de conversão do coração e do olhar.
A questão económica não é alheia ao que eu disse. De facto, eu queria que o meu dinheiro fosse para o Fundo Comum do movimento, ou para ajudar aqueles que tinham dificuldade em pagar os Exercícios. O meu desejo é, de facto, que alguém possa ser intercetado por Cristo, como aconteceu comigo na companhia da Igreja com o movimento.
Giacomo Cappi