Viver à altura do desejo

O incómodo com que fui confrontada pôs-me novamente diante da pergunta: Como é que eu quero viver a minha vida? A gerir/contornar e, em última análise fugir, daquilo que me custa?

No dia em que voltei a ir à missa, quando me ajoelhei para rezar depois da comunhão, a primeira coisa que me veio à cabeça foi “isto é uma chatice!”. Estar de máscara uma hora, ter de desinfetar as mãos antes, durante e depois, e, sobretudo, ter de obedecer aos voluntários que me dizem quando, como e onde é que tenho de me sentar, levantar, comungar, etc., é muito incómodo.

Naquele momento dei-me conta de que nos últimos dias de quarentena tinha começado a alimentar uma imagem romântica do regresso à participação nos sacramentos, que a realidade não cumpriu. Na minha cabeça, poder voltar a ir à missa, comungar e estar em silêncio diante do sacrário tinham-se tornado uma espécie de oásis-momento-zen que me serviria para, pelo menos por alguns momentos, esquecer a realidade.

Neste estado de espírito, as regras de higiene que agora estou obrigada a cumprir sempre que quero entrar numa igreja, pareceram-me, ao princípio, profundamente distrativas. Um obstáculo que eu teria de suportar e superar para, depois, conseguir o tal momento zen.

O incómodo com que fui confrontada ao retomar a vida sacramental pôs-me novamente diante da pergunta: Como é que eu quero viver a minha vida? A gerir/contornar e, em última análise fugir, daquilo que me custa?

Saí da missa contente, porque Cristo se fez presente através da minha fraqueza, e obrigou-me a retomar consciência de que o que quero verdadeiramente não é contornar (aparentes) obstáculos, mas viver à altura dos desejos que Ele vai pondo no meu coração. Acho que só nesse momento se tornou verdade que eu vou à missa para O encontrar.

Inês. Lisboa