O meu livro de cabeceira

O despertar do humano visto como um "projetor de luz que inunda os nossos corações quando precisamos da certeza do caminho"

O livrinho do Pe. Carrón foi talvez o registo escrito mais certeiro e oportuno deste período pandémico que invadiu literalmente a nossa sociedade global, porque fala das nossas vulnerabilidades de forma clara e entendível, ou melhor, que a pandemia tornou perfeitamente entendível.

O ponto de partida é este: a crise, que afetou a sociedade e a economia e trouxe à superfície as nossas profundas fragilidades, levou-nos a colocar tudo em causa: quem somos, qual o nosso papel, quais os nossos limites, o sentido da vida, da morte e do sofrimento, e a sua relação com a realidade.

Este despertador, que abanou todos aqueles que sentiram o apelo das suas dúvidas e a vertigem de um chamamento, desinstalou-os das suas anteriores certezas e levou-os a questionar a utilidade na descoberta da sua exposição indefesa às circunstâncias do real.
Como respondemos ao apelo? O que procuramos? Onde nos sustentamos?

Este livro do Carrón, que se transformou no meu livro de cabeceira ao qual recorro tantas e tantas vezes, tem sido a minha grande ajuda nestes tempos exigentes e desafiantes, onde a realidade e as circunstâncias da nossa vida nos apontam para Aquele que é maior que nós.

Que maravilhoso é poder contar com este projetor de luz que inunda os nossos corações, quando sentimos o apelo de viver intensamente o real, como resposta ao chamamento, mas precisamos da certeza do caminho, quilómetro a quilómetro – e as dúvidas e os escolhos são tantos e difíceis – para responder sempre positivamente às circunstâncias que o Senhor nos apresenta, sem nos determos nas nossas teorias, opiniões e convicções. Simplesmente dizer o nosso “sim”, como fez Nossa Senhora perante o anjo Gabriel naquele dia que mudou a vida da humanidade. Isto é maravilhoso e ao mesmo tempo profundamente radical.

Como teriam sido tristemente diferentes estes meses, em que tive, no âmbito da minha atividade profissional, de tomar tantas decisões com impacto direto na vida de tanta gente, se não tivésse tido esta preciosa ajuda! Uma ajuda que me encheu de esperança e confiança e que me permite dizer hoje, aqui e agora, mesmo nas situações mais difíceis, não tive medo. Não tenho medo! Porque tenho a certeza daquela Presença viva de Cristo em tudo o que faço. Como diz o Carrón, “a certeza da Sua presença vitoriosa”, a Presença que vence o “nada”.
Viver esta pandemia assim, é uma graça!

Luís, Lisboa