Reconhecer a circunstância como vocação

Ao ouvir uma história com a minha filha pela primeira vez consegui desligar deste frenesim de mails e WhatsApps em que andava e perguntar-me quem sou eu no meio disto...

Com o evoluir da pandemia, na área da saúde (que é a minha área) houve uma tremenda reorganização dos serviços, e uma gigantesca quantidade de mails, mensagens em grupos de trabalho, novas normas de proteção individual, novos circuitos hospitalares, artigos sobre a doença em questão, de tal forma que passei uns quantos dias num stress e num autêntico frenesim só de ler e receber toda esta informação. Entretanto o colégio dos miúdos fechou e entraram num ensino à distância, com mil trabalhos, mails, WhatsApps e actividades enviadas pelo colégio. E ao mesmo tempo as informações do trabalho não paravam e este frenesim continuava.

A certa altura, estava sentada no sofá com a minha filha mais nova, de 4 anos, a ver um vídeo com uma história que nos foi enviada pelo colégio e que falava de um príncipe que tinha tudo mas que não se satisfazia com nada, queria sempre mais, o seu coração desejava sempre mais. E ao ouvir esta história caí em mim, e pela primeira vez consegui desligar deste frenesim em que andava. Porque eu sou como este príncipe que deseja tudo, que deseja mais, que tem que se perguntar quem sou eu no meio disto tudo que está a acontecer. O mais engraçado é perceber que de facto a única coisa que nos é pedida é responder às circunstâncias que temos diante.

Diante da circunstância tão aparentemente pequenina como ver o vídeo da história com a minha filha mais nova, o meu coração é redespertado. No livro sobre a vida de Giussani ele a certa altura diz: “E desde então o instante deixou de ser uma banalidade para mim.” É mesmo isto, nenhum instante é banal.
Helena, Lisboa